2025

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Posturas de Yoga combatem alergias de inverno

Aprenda exercício de respiração para viver os dias frios com saúde

Atualizado em

No Yoga, consideramos que o indivíduo possui “bainhas”, iguais às de uma espada ou faca, que encobrem a essência do indivíduo, o verdadeiro “eu” (atma, em sânscrito). O próprio corpo físico, visível aos nossos olhos, é a primeira dessas bainhas ou invólucros. A palavra utilizada para descrever essa bainha é “kosha”. Ao todo, temos cinco koshas, mas nesse artigo vamos falar de dois desses invólucros: a bainha do alimento (annamayakosha) e a bainha de energia (pranamayakosha). Manter essas bainhas (corpo e condutos energéticos) numa condição saudável ajuda a nutrir melhor o corpo e, por conseguinte, reduzir os incômodos sintomas alérgicos no inverno. Isso pode ser feito por meio de técnicas de Yoga de respiração.

A bainha do alimento (annamayakosha) representa o corpo visível aos nossos olhos, e é também tudo que tocamos, cheiramos e que basicamente está acessível aos cinco sentidos. É por meio do corpo denso que experienciamos o mundo, para estabelecer as nossas relações nas experiências diárias. Já a bainha de energia (pranamayakosha) é parte do nosso corpo sutil, com as suas funções de captação, excreção, processamento, circulação e expulsão, além das cinco potencialidades de ação (fala, mãos, pé, ânus e genitais).

Respiração e Yoga

A gente consegue se manter mais ou menos bem se ficarmos sem comer durante um dia. Podemos também fazer jejum completo, sem comer nem beber, durante as mesmas 24 horas que, ainda assim, sobrevivemos. Agora passar um dia sem respirar é fatal. Mesmo alguns minutos são suficientes para que essa situação se torne a última por nós vivida. O corpo foi feito de tal forma que devemos respirar constantemente. E para respirar só temos quatro possibilidades:

  1. Inspirar
  2. Reter o ar nos pulmões
  3. Expirar
  4. Permanecer com os pulmões vazios

E isso tudo acontece ao longo do dia sem a nossa interferência. Respiramos quase que automaticamente. A respiração, em condições normais, é a nossa menor preocupação, embora o façamos cerca de 21.600 vezes ao dia – considerando que demoramos um segundo em cada fase.

A respiração é, dessa forma, o nosso maior alimento, embora a gente nem perceba. A todo o momento respiramos, mas as técnicas respiratórias não fazem parte de nenhuma dieta conhecida. A não ser que você pratique Yoga ou se interesse por outras técnicas respiratórias orientais (chi-kung, por exemplo), a respiração somente será lembrada quando seu nariz estiver obstruído ou o chiado que a asma provoca o afetar.

Em todo o caso, de acordo com as antigas escrituras indianas, “o ar tece o universo, a respiração tece o homem”. Daí que o Yoga tem também na sua proposta cuidar da respiração, pois está na sua gênese lançar atenção, despertar a consciência para aquilo que está negligenciado. Assim, mais de 50 disciplinas respiratórias são utilizadas por yogis em todo o mundo. Vistas como técnicas, elas permitem despertar, energizar, acalmar, aquecer, esfriar, equilibrar, recuperar, restaurar, enfim, são muitas as capacidades de cada uma dessas técnicas, denominadas de pranayama (prana – energia; ayama – incremento). Para aprender sobre elas, suas particularidades, conselhos e advertências, o melhor mesmo é procurar escolas de Yoga, onde existem profissionais que as dominam e podem lhe ensinar pessoalmente. No entanto, ensinarei nesse artigo um exercício simples de respiração que poderá ajudar você a se livrar das incômodas alergias de inverno – os seus pulmões irão lhe agradecer!

Mas é claro que a utilização do pranayama não se restringe ao melhoramento da capacidade pulmonar, nem sequer ao incremento do bem-estar físico. O pranayama conduz o praticante a um nível de conscientização superior e funciona como um meio de controlar a mente. Ramana Maharishi, sábio indiano do século passado, refere-se ao assunto da seguinte forma: “a mente e a respiração estão relacionadas com conhecimento e ação. A mente alcança absorção através da disciplina da respiração”, explica.

Yoga e Ayurveda: por uma vida mais saudável

O Yoga tem um “irmão”, o Ayurveda, que significa conhecimento da vida (Ayus – vida; veda – conhecimento). Ambos fazem parte da cultura Védica e, portanto, partilham o mesmo objetivo: a libertação (moksha) da visão de si mesmo como limitado, insuficiente, separado do todo. Yoga e Ayurveda buscam o entendimento claro de um eu, em essência, livre de qualquer limitação e da natureza de plenitude. No ocidente, o Ayurveda pode ser visto apenas como o sistema de medicina tradicional indiana, pois é o que chega até nós, devido ao nosso interesse em buscar alternativas ou complementos ao nosso serviço de saúde. Mas o Ayurveda é algo muito maior. Como o Yoga, assenta na erradicação de uma visão reduzida do ser humano para um alargamento a um “eu maior”, a visão da unidade na diversidade. Possui um caminho muito próprio e, como o Yoga, sempre tem em vista o equilíbrio, a harmonia e a manutenção de um estado radiante, luminoso, em todos os sentidos. É natural que o “vaidya”, perito em Ayurveda, recomende posturas ou técnicas respiratórias, meditações e até mantras a quem o procura – igual ao que acontece na sala de aula das escolas de yoga.

Segundo o que aprendi com o Dr. Sandeep Shirvalkar, especialista em Ayurveda, primeiramente, para fazer o diagnóstico de quais posturas ou técnicas são mais indicadas para cada pessoa, são utilizados vários tipos de exames. Primeiro é feita uma observação do paciente, conhecendo sua história clínica familiar e condição geral individual para perceber a rotina e os hábitos da pessoa em relação ao sono, excreção, atividade física, entre outros, já que o Ayurveda propõe um regime ideal para cada pessoa, conhecido por dinacharya (dina – dia; charya – conduta). Em seguida, o especialista prossegue com o diagnóstico, apalpando e procurando no corpo do paciente irregularidades que possam existir. Muito peculiar é também o diagnóstico do pulso, da língua e da íris. Torna-se necessário conhecer a pessoa como um todo. Com isto, é possível descobrir o seu “dosha” (biotipo), tecidos e produtos excretados, que também podem estar desequilibrados. Além disso, é preciso conhecer as possíveis dependências da pessoa, ou outros tipos de abusos que esteja cometendo em relação ao corpo, como uso de álcool e cigarro. O diagnóstico também contempla exercícios físicos que a pessoa realiza, alergias e intolerâncias alimentares de cada um.

Exercícios podem combater alergias e sintomas sazonais

O Ayurveda preconiza o seguimento de uma dieta e estilo de vida específicos, perante as diferentes estações do ano. Isso é muito útil quando se lida com situações típicas de determinada estação, neste caso, o inverno. Vejamos o que nos afeta neste período: falta de sol, chuva, vento e frio em excesso. Estamos mais propensos a resfriados, espirros, tosse, expectoração, acumulação de secreção nos pulmões, etc.

É aconselhável, portanto, uma prática de posturas de Yoga mais vigorosa e dinâmica, como as séries de “Surya Namaskara” (Saudação ao Sol). Confira abaixo outra sequência simples de posturas para combater as alergias de inverno, retirada do livro “Guia de Meditação” (Ed. Dharma), de Pedro Kupfer. Este pranayama é feito inspirando pelas duas narinas e exalando de forma alternada, uma vez por cada uma:

  1. Para começar, inspire suave e profundamente, de forma completa, enchendo os pulmões desde o abdômen até a parte alta do tórax. Retenha a respiração, com o queixo pressionando a parte alta do tórax, durante o tempo que se sentir confortável. Se possível, ao mesmo tempo, faça a contração dos esfíncteres (anûs, uretra, períneo). Em seguida, feche a narina esquerda e exale lentamente pela direita.
  2. Agora inspire novamente pelas duas narinas. Retenha o ar pressionando novamente o queixo contra o tórax e contraia os esfíncteres (ânus, uretra, períneo). Expire agora pela narina esquerda, mantendo a direita bem fechada. Aqui você completou um ciclo. Faça essa sequência de oito a dez ciclos completos.
  3. Adquirindo um pouco mais de prática nesta técnica, você poderá aperfeiçoá-la, mantendo parcialmente obstruída a narina pela qual você está exalando. Assim a passagem de ar será reduzida, permitindo que você desenvolva um excelente controle respiratório.

A prática areja os pulmões, tonifica o sistema nervoso, limpa as vias respiratórias, os seios frontais e nasais, melhora a digestão e aumenta a força de vontade.

Alimentação de inverno

De algum modo, é falado que a maior parte dos sintomas que surgem no inverno – e revelam desequilíbrios mais profundos – começam com a ingestão de alimentos incorretos, na proporção desadequada. Na Índia, algumas pessoas comem com as mãos e consideram que o alimento deve caber na palma da mão, ou seja, acreditam que essa é a medida certa para se alimentar. Além disso, a alimentação deve ocorrer na hora mais adequada: no auge do pico do sol. Geralmente ao meio dia, é o momento de fazer a refeição principal, pois nosso “fogo gástrico” é equivalente ao desse astro. Sendo assim, é aconselhável não comer depois do pôr-do-sol.

No resto do dia, procure se alimentar com bom senso, evitando a ingestão de comidas frias, doces ou gordurosas, difíceis de digerir. A exposição solar também é indicada, assim como a ingestão de água morna ao longo do dia.

O desequilíbrio também pode ocorrer por meio daquilo que recebemos através dos nossos sentidos, seja assistindo, discutindo ou lendo o que não deveríamos (textos, filmes e imagens ou conversas que agitam a nossa mente). O sintoma é apenas a ponta do “iceberg”. Aquilo que não é assimilado corretamente e está na base do desequilíbrio é, portanto, a causa. Uma vida de Yoga é prestar mais atenção às causas para que não se instalem ou não se repitam as desarmonias na nossa vida.

Mais do que substituir o professor ou o médico, este artigo visa levar você ao encontro de quem já caminha neste trilho há mais tempo, de uma maneira informada, e que lhe possa ajudar a enfrentar as dificuldades próprias deste período. Por uns instantes, retenha os seus movimentos, feche os seus olhos, e, em meditação, peça a Shiva, o patrono do Yoga, ou a Dhanvantari, patrono do Ayurveda, uma luz nesta matéria. Sabendo que a uma ação corresponde uma reação, de certeza que o seu pedido não será ignorado.

Para continuar refletindo sobre o tema

Livro “Tattvaboddha – o conhecimento da verdade”, de Shri Shankaracarya, traduzido por Gloria Arieira.

Dr. Sandeep Shirvalkar é licenciado em Medicina Ayurvédica pela Tilak Maharastra University em Pune, Índia, onde conseguiu os títulos de M.D. em Medicina Ayurvédica e Cirurgia e, posteriormente, em dietética. Saiba mais aqui (em inglês) sobre o trabalho realizado pelo especialista

Livro “Guia de Meditação” (Ed. Dharma), de Pedro Kupfer.

Gustavo Cunha

Gustavo Cunha

Ensina Yoga e estuda Sânscrito e Vedanta. Dirige um centro de Yoga em Portugal e leciona no Centro de Yoga Vaidika (Maia) e no Solverde (Granja). Ministra palestras regularmente e faz traduções de textos milenares e manuais de Yoga para Português.

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