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Escrever ajuda a lidar com emoções

Colocar sentimentos no papel pode abrir espaço para o autoconhecimento

Atualizado em

Escrever sobre experiências pessoais pode fazer bem à saúde e ajudar a lidar com as próprias emoções. Um estudo feito pela Universidade de Kansas, nos EUA, acompanhou, durante três meses, 180 mulheres que estavam em estágio inicial do câncer de mama. O resultado surpreendeu: quem transmitiu seus sentimentos para o papel teve metade dos problemas físicos relacionados ao tratamento da doença.

Para o psicólogo Julio Peres, escrever é uma maneira eficaz de superar situações difíceis, a partir do momento que a pessoa manifesta suas angústias e sofrimentos. “Assim como as crianças, adultos traumatizados precisam atribuir significados às experiências dolorosas, para conseguirem explicar o que ocorreu. À medida que buscamos palavras para descrever alguma situação, conseguimos reestruturar o trauma, processar os sentimentos envolvidos na história e, finalmente, superá-la. E isso tem um natural impacto positivo na saúde”, explica.

E os benefícios da escrita não param por aí. O especialista acredita que este tipo de experiência permite ter domínio sobre as próprias emoções, lidar harmoniosamente com os mais diversos eventos e, consequentemente, ter mais autoconhecimento. “Escrever é conhecer melhor a si mesmo. Ao colocar os sentimentos no papel podemos observar e reconhecer as projeções do nosso eu, ampliando o aprendizado sobre nós mesmos. Ou seja, por meio das palavras traduzimos o que pensamos e mostramos o reflexo do que somos”, avalia.

Resolvendo desentendimentos

Para Mara Mello, a experiência de escrever sobre seu doloroso divórcio no Fórum de Histórias Reais do Personare contribuiu positivamente para que ela fizesse descobertas valiosas sobre si mesma. “Na manhã de um domingo sentei em frente ao computador e, pela primeira vez, escrevi sobre o assunto. Tinha me separado há pouco mais de dois anos e falar sobre essa história foi uma experiência maravilhosa. Por meio da escrita conseguimos avaliar melhor determinada situação e, na minha opinião, essa mudança de pensamento é a melhor forma de superar traumas vividos”, ensina a autora da história “Um amor que não foi para sempre”, que foi escolhida para entrar no livro que será lançado pela Verus Editora, em parceria com o Personare.

No caso de desentendimentos com pessoas queridas, por exemplo, escrever também pode ajudar a solucionar os problemas com quem você gosta. As reações impulsivas são frequentes quando a raiva, a tristeza ou o medo prevalecem. Nesse caso, quem decide expressar verbalmente o que sente, pode reagir com mais facilidade, inflamar as emoções e dificultar o entendimento. Por outro lado, ao escrever sobre o que incomodou, a pessoa é forçada a diminuir seu “ritmo interno” para sincronizar o pensamento às funções motoras envolvidas na escrita.

“Quem escreve pode se organizar para traduzir o que tem em mente, sem a ebulição emocional do momento. Já quem recebe o texto tem a oportunidade de ler e reler o conteúdo. Isso atenua a reação emocional e favorece uma melhor resposta para a ocasião. Depois dessa etapa, o contato pessoal tende a ser mais tranquilo, o que certamente favorece o entendimento mútuo”, aconselha o psicólogo Julio Peres.

Escrita permite contato com a dor

Segundo o especialista, muita gente ainda tem dificuldade de entrar em contato com as emoções, especialmente as negativas. Para ele, as pessoas evitam abordar as dificuldades, como forma de não viver novamente o sentimento ruim experimentado em determinada circunstância. No entanto, a dificuldade de expressar o que sente e de enfrentar as adversidades pode aumentar ainda mais o sofrimento. O psicólogo acredita que a escrita permite que novos traços de memória se formem no cérebro, substituindo as conexões que antes produziam as reações de ansiedade.

Nesse sentido, fazer um diário ou montar um blog pode ajudar. Se você não sabe por onde começar, Mara dá a dica: “Comecei a perceber que, mesmo lendo muito, tenho dificuldades para escrever. Mas mesmo assim tento reproduzir minhas experiências no papel e escrever os sentimentos que surgem na minha mente, de forma fácil e agradável. Descobri quantas coisas mudei por causa da escrita e quantas ainda preciso melhorar. A partir do momento que entendi isso, comecei a respeitar o meu ritmo e, mesmo com dificuldade, estou caminhando”.

No entanto, vale lembrar que para aproveitar todos os benefícios da escrita não basta simplesmente escrever uma história. É preciso estabelecer uma aliança de aprendizado com a adversidade. Nesse sentido, fazer um diário ou blog pode ajudar. “A dica é que sejam escritas as experiências que tenham relevância emocional e aprendizados consistentes. Ainda que não consigamos expressar nossos sentimentos e memórias da maneira mais adequada, devemos tentar. Durante a escrita, é natural que insights aconteçam e um novo significado na direção do bem-estar seja processado”, avalia o especialista.

Personare

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