A dor de quem decide pela separação
Quem opta pelo fim da relação vive o luto antes mesmo do término
Por Celia Lima
Tendemos sempre a achar que quem “é deixado” é a grande vítima num relacionamento. O que ocorre é que quem é deixado está numa situação completamente passiva e é obrigado a lidar com todo o sentimento de impotência.
Não há o que fazer. Como lutar contra uma certeza do parceiro?
Quem fica é arrebatado por um sentimento de traição, mesmo sem ter havido “traição”, propriamente.
Quem fica se sente à deriva, abandonado, rejeitado, desamado… sem chão. O que resta para quem é deixado são as lágrimas.
Às vezes, dependendo do despreparo ou da surpresa com a notícia, tem-se o impulso de fazer malabarismos para que o outro volte atrás. Mas é inútil.
Existe vilão e vítima?
Comete-se o engano de acreditar que quem saiu da relação “está numa boa”. Este é visto como o vilão da história, aquele que provoca o sofrimento. Mas não é bem assim que acontece…
Numa relação estável, que começou com a intenção de que fosse o mais duradoura possível, é claro que ambos caminham na direção de solidificar o casal.
Espera-se que o amor seja para todo o sempre e por mais que se fique atento à evolução do relacionamento, o amor, o tesão, o interesse por perpetuar o vínculo pode acabar de um dos lados.
Às vezes acontece de ambos irem perdendo o interesse gradualmente e quase ao mesmo tempo. Mas na maioria dos casos esse desinteresse é unilateral.
Quem deixou de amar também se frustra. Quem deixou de amar não gostaria de ter deixado de amar, mas não se trata de uma decisão, isso simplesmente acontece.
Ele vasculha dentro de si por longo tempo para reencontrar o desejo, a paixão dos primeiros tempos mas nada encontra. Vive um grande conflito e entra em estado de luto.
Culpa e frustração
Quem deixou de amar também perdeu um amor e passa um longo tempo muitas vezes se culpando, antevendo a dor de seu parceiro, desejando evitar que ele se magoe.
E muitas vezes, na tentativa de negar que os sentimentos apenas se esvaíram, na crença de que é preciso haver um motivo mais contundente para a separação, que não basta que o amor e o desejo tenham se esgotado, cometem-se equívocos.
Se você se encontra nessa situação, preste atenção para não tornar a separação desnecessariamente mais dolorida do que naturalmente é, evitando as seguintes situações:
- Provocar discussões estéreis
- Buscar um relacionamento fora como forma de se punir pela culpa por ter deixado de amar seu parceiro
- Buscar uma proximidade forçada para “disfarçar” seus reais sentimentos e intenções
- Desprezar seu parceiro ou tratá-lo com indiferença, imaginando que assim fará com que ele também deixe de lhe amar, facilitando sua decisão
Essas atitudes apenas vão prolongar e acentuar a inevitável dor da tomada de decisão.
Ninguém acorda pela manhã com a descoberta de que deseja se separar. Isso é um processo, vamos nos percebendo aos poucos.
Quem passa por essa experiência se submete a um recolhimento reflexivo aflitivo porque muitas vezes não consegue aceitar facilmente a realidade de seus sentimentos.
E até que perceba a impossibilidade da continuidade da convivência, vai-se vivendo o luto da perda de um amor, dos planos, dos projetos em comum.
É um engano acreditar que quem deseja se separar “está numa boa”. A diferença entre quem sai e quem fica é que quem sai vive o luto antes da efetivação da separação.
E acrescente-se aí toda a coragem necessária para comunicar ao parceiro e administrar com equilíbrio os desdobramentos dessa decisão.
Pequenos lutos
O ditado que diz que “quando um não quer dois não brigam” aplica-se perfeitamente nos casos em que o desejo de separar-se é unilateral. Quando um dos dois lados chega a comunicar essa decisão, isso já foi longamente maturado – e sofrido.
A sensação de alívio experimentada por quem sai e a aparente simplicidade com que pode lidar com a questão são muitas vezes vistas como insensibilidade, e isso é outro engano.
Cada qual à sua forma e nos seus tempos, vive a dor da perda, e passado o primeiro impacto é sempre bom ter consigo que nas relações de afeto não existe certificado de garantia e muito menos prazo de validade.
Começo, meio e fim. Mesmo as relações que duram “até que a morte nos separe” sofrem pequenos lutos no meio do caminho.
Psicoterapeuta holística com abordagem junguiana há mais de 30 anos e pós graduanda em Psicologia da Saúde e Hospitalar pela PUC-PR. Utiliza os florais, entre outras ferramentas como método de apoio ao processo terapêutico, como vivências xamânicas, buscando um pilar metafísico para uma compreensão mais ampla da vida, da saúde física e emocional.
Saiba mais sobre mim- Contato: celiacalima@gmail.com