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Beijei alguém do mesmo sexo

Psicoterapeuta esclarece dúvidas sobre homossexualidade e bissexualidade

Atualizado em

Será que sou homossexual? Não é apenas entre os jovens que essa pergunta vem se tornando cada vez mais recorrente, muitos adultos formados podem se perceber às voltas com esse questionamento também.

Quando crianças, as curiosidades a respeito de tudo o que envolve a sexualidade é mais que natural e espontânea: meninos e meninas ficam curiosos a respeito das diferenças de seus corpos, querem olhar, tocar e experimentar sensações prazerosas. Isso acontece entre meninos e meninas, meninas e meninas e entre meninos e meninos. Trata-se de uma sexualidade não erotizada, que está presente desde o nascimento até uma determinada fase.

Até mais ou menos 9 anos de idade as curiosidades entre crianças do mesmo sexo e experiências mais concretas (a partir dos 6 ou 7) fazem parte do desenvolvimento, não há nada com que os pais devam se incomodar (e muito menos reprimir). O melhor será perguntar calmamente sobre o que eles estão descobrindo juntos. Pode ser um bom momento para iniciar uma conversa sobre sexualidade, diferenças entre meninos e meninas e com uma linguagem adequada para não provocar nenhum tipo de trauma ou distorção de entendimento.

É imediatamente antes do início da puberdade que os interesses por meninos ou meninas começam a se definir. Algumas vezes esse interesse pode ser claro, sem dúvidas, outras vezes pode parecer difuso, indefinido. Muitas famílias definem o conceito de “normalidade” na esfera sexual, esperando que o interesse dos filhos seja voltado sempre para o sexo oposto, ignorando que não se trata de uma escolha e sim de uma condição natural. As pessoas simplesmente se atraem por quem elas se atraem independentemente de gênero. Mas e quando o adolescente que se reconhece heterossexual se sente atraído por alguém do mesmo sexo? Ou mesmo o adulto? Isso quer dizer que a pessoa é homossexual? Não, num primeiro momento quer dizer apenas que houve uma atração.

E se rolar um beijo? Se a coisa toda for mais adiante e terminar numa experiência sexual mais intensa?

Conceitos e preconceitos

Vivemos ainda numa sociedade cheia de preconceitos, mas mesmo assim muitos jovens (mais que os adultos) estão se permitindo vivenciar experiências sexuais com parceiros do mesmo sexo sem o peso esmagador da culpa imposta pela cultura. Trata-se de um tipo de curiosidade que testa os sentidos, busca uma experimentação às vezes lúdica e sem compromisso, às vezes trata-se de um “tira-teima” e às vezes mera curiosidade.

É especialmente quando da entrada na faculdade (ou por volta de) que o jovem encontra um ambiente mais propício para essas experiências. Ele se encontra num universo mais livre de olhares julgadores ou cobradores.Sente-se encorajado a buscar a espontaneidade em parte reprimida até o colégio e, a não ser que o jovem tenha a convicção espontânea de que sua sexualidade está direcionada para o sexo oposto, ele poderá experimentar novas possibilidades com pessoas do mesmo sexo.

Entre experimentar e sentir, compreender e reconhecer que é com alguém do mesmo sexo que ele se realiza afetiva e sexualmente, existe um período de latência, acompanhado por dúvidas, medos e ansiedade.

Talvez ele resolva voltar com o antigo namorado ou namorada para se certificar, e pode perceber que não… ele já não se sente atraído ou encantado pelo sexo oposto. Ou ainda pode perceber que seu interesse migra, que ora se sente atraído por meninos, ora por meninas, deixando-se fluir com ou sem conflitos.

Mas mesmo assim, temos que considerar que essa transição de adolescente para jovem adulto ainda é uma fase de afirmação, de experimentação sujeita a flutuações até que as próprias respostas surjam com segurança.

Se você é um jovem que passa por esses questionamentos, mãe ou pai de um jovem que se preocupa com isso, tem um amigo ou amiga que enfrenta dúvidas sobre a própria sexualidade, preste atenção:

Ao jovem:

  1. Sentir-se atraído por alguém do mesmo sexo não quer dizer que você seja homossexual.
  2. A homossexualidade não é uma doença, é apenas uma entre várias formas de encontrar prazer sexual e acolhimento afetivo.
  3. Se você se sente confuso ou desconfortável por desejar uma parceria com o mesmo sexo, nada o impede de buscar ajuda terapêutica para compreender o que está acontecendo com você.
  4. Assumir sua homossexualidade ou sua bissexualidade pode ser libertador, permitindo que sua vida seja autêntica e sem reservas em todos os aspectos.
  5. Infelizmente nossa sociedade ainda é preconceituosa, portanto se você for alvo de discriminação, procure estar emocionalmente preparado para lidar com situações difíceis e incômodas.

Aos pais e amigos:

  1. Não entenda como disfunção de personalidade a homossexualidade de seu ou sua filha, porque não é.
  2. Não faça de conta que não percebeu que um filho é homossexual ou bissexual. Se estiver em dúvida, procure um diálogo sereno. Assim você estará abrindo uma porta para estreitar a relação de confiança e a expressão do amor entre vocês.
  3. Tenha em mente que pais amorosos desejam ver seus filhos felizes e realizados. Você vive de acordo com sua natureza, por que eles não teriam o mesmo direito?
  4. Se estiver com dificuldades em aceitar essa realidade, busque ajuda profissional. Será uma boa oportunidade de você rever seus medos e seus valores.
  5. Não deixe que suas convicções religiosas afastem de você pessoas queridas. O respeito à individualidade é uma das facetas do amor que todas as religiões pregam, sem exceção.

Saber conviver com as diferenças, sejam elas quais forem, é um dos mais profundos aprendizados na vida. Aceitar que o preconceito é fruto da nossa ignorância, porque tendemos a rejeitar o que não compreendemos, é um grande passo na direção da busca por esclarecimento. E o conhecimento liberta.

Celia Lima

Celia Lima

Psicoterapeuta holística com abordagem junguiana há mais de 30 anos e pós graduanda em Psicologia da Saúde e Hospitalar pela PUC-PR. Utiliza os florais, entre outras ferramentas como método de apoio ao processo terapêutico, como vivências xamânicas, buscando um pilar metafísico para uma compreensão mais ampla da vida, da saúde física e emocional.

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