Como cuidar do meio ambiente?
Inspire-se com exemplos de amor e respeito pelo planeta
Por Katia Leite
Quando pensamos sobre meio ambiente, corremos o risco de começar a desfilar uma lista de coisas que deveríamos fazer e não fazemos, preocupações que deveríamos ter, hábitos que já tinham que estar incorporados à nossa vida e um tanto de outros hábitos que precisamos modificar. Economizar água e energia elétrica, diminuir o uso de carnes que consomem água e pastos em excesso, usar alimentos livres de agrotóxicos e cultivados organicamente, reduzir o uso de eletrodomésticos, as horas de chuveiro, o microondas… E isso é só o início de uma lista infindável de cobranças que nos fazemos diante da tarefa gigantesca de salvarmos nosso planeta de um desequilíbrio irremediável.
É verdade que o meio ambiente precisa ser cuidado, que precisamos tomar consciência das atitudes que devemos ter com ele. Mas olhando para pequenos gestos talvez seja possível encontrar um caminho muito mais natural e simples de dar nossa contribuição à questão ecológica e à saúde do planeta. E este caminho é o do amor e do respeito que podemos aprender com aqueles que viveram e vivem muito próximos à natureza. Que tal uma reflexão a partir de três desses depoimentos?
Datada de 1854, a famosa carta do Cacique Seattle ao presidente americano respondendo à proposta de compra das terras indígenas continua sendo um texto belíssimo, independente das polêmicas que surgiram sobre sua veracidade. Questiona-se se a carta realmente existiu, se houve uma fala transformada em texto, ou se houve uma criação literária. Mas é inquestionável que o texto exprime de maneira verdadeira a relação daquele índio com sua terra. O segundo depoimento tem como fonte uma entrevista com um tuareg nascido no deserto do Saara, em um acampamento nômade, que foi pastor de camelos, cabras, cordeiros e vacas de seu pai e hoje estuda gestão na França, na Universidade de Montpellier (realizada por Víctor-M.Amela a Moussa Ag Assarid). E na mesma linha de contato do índio com a terra, o terceiro depoimento traz as palavras simples e sábias de Kapjêre Jõpaipaire, um índio parkatêjê paraense, anotadas e divulgadas pela professora Marineusa Gazzetta no blog pelasruasdebelem e publicadas no site de Luciano Pires.
A poluição da atmosfera
O que de melhor podemos fazer pelo ar que respiramos? Sentir o cheiro do ar. Perceber que o ar que contaminamos é o mesmo ar que inspiramos. E quem sabe na próxima vez que pensarmos em pegar o carro pra ir até a esquina, ou tivermos a opção de usar um transporte público, ouçamos internamente as seguintes palavras: “O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro: o animal, a árvore, o homem, todos compartilham o mesmo sopro. Parece que o homem branco não sente o ar que respira. Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro”, disse o Cacique Seattle.
A relação com os animais
Para tratamos os animais de maneira justa e equilibrada, é preciso que olhemos para eles como aspectos complementares da existência do homem e não como seres que estão no mundo para nos servir. São lindas as seguintes lições de respeito com as animais.
(Quais recordações de sua infância você conserva com maior nitidez?) Desperto com a luz do sol e ali estão as cabras de meu pai. Elas nos dão leite e carne, nós a levamos onde há água e pasto? Assim fizeram meu bizavô, meu avô e meu pai – e eu (tuareg Moussa Ag Assarid).
Vi mil búfalos apodrecendo na pradaria, abandonados pelo homem branco que os matou da janela de um trem que passava. Sou um selvagem e não entendo como o cavalo de ferro que fuma pode se tornar mais importante que o búfalo, que nós só matamos para ficarmos vivos. O que é o homem sem os animais? Se os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão (Cacique Seattle).
A terra
A maneira de nos relacionarmos com a terra fala muito de nós mesmos. E se nos damos tempo para olhar pra essa natureza com reverência e amor, se ensinamos nossos filhos a respeitar aquilo que nos alimenta, que nos sustenta, que nos dá condições pra viver, garantimos o equilíbrio natural e não a supremacia do homem.
A madeira (o mato) é nosso pai, dá a produção pro filho comer e defende a gente. A terra diz: “- Eu sou a mãe de vocês; agora vocês têm que me gostar e me usar para viver. A terra é nossa mãe – cria a gente. A terra quer que a gente produza para comer. A terra – não sabemos de demarcação – não tem limite, é aberta. Índio anda 60 quilômetros num dia. Mato diz pro filho: “- Olha, filho, eu vou me produzir pra você comer, mas você tem que me olhar e não deixar me prejudicar” (Kapjêre Jõpaipaire).
Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a Terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo. Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas, que a Terra é nossa mãe. Tudo o que acontecer à Terra, acontecerá aos filhos da Terra. Se os homens cospem no solo estão cuspindo em si mesmos (Cacique Seattle).
O silêncio
Estar em silêncio é estar consigo e com a natureza. É ouvir a voz de sabedoria interna que todos possuímos. Ficar em silêncio é um dom divino que nos torna mais humanos!
Não há lugar quieto nas cidades do homem branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar de folhas na primavera ou o bater de asas de um inseto. Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo. O ruído parece apenas insultar os ouvidos. E o que resta da vida de um homem, se não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debater dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite? Eu sou um homem vermelho e não compreendo. O índio prefere o suave murmúrio do vento encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros (Cacique Seattle).
Pastoreamos rebanhos de camelos, cabras, cordeiros, vacas e asnos num reino de imensidão e de silêncio. Quando se está sozinho naquele silêncio, ouve-se o batimento do próprio coração. Não há lugar melhor para se estar sozinho (tuareg Moussa Ag Assarid).
A água
A água está presente de maneira tão natural na nossa vida urbana que é difícil entender a relação de dependência que possuímos dela. Mas da próxima vez que estivermos lavando louça ou escovando os dentes, quando tivermos diante de nós uma torneira de água fresca e limpa, que nos venha à mente as seguintes palavras: (…) no Hotel, vi a primeira torneira da minha vida, vi a água correndo e senti vontade de chorar? Que abundância! Todos os dias da minha vida consistiam-se em procurar água. Quando vejo as fontes ornamentais aquí e acolá, continuo sentindo por dentro uma dor tão intensa? No começo dos anos 90 houve uma grande seca. Morreram os animais e nós adoecemos. Eu tinha uns 12 anos e minha mãe morreu. Ela era tudo para mim! Contava-me histórias e ensinou-me a contá-las muito bem. Ela me ensinou a ser eu mesmo (tuareg Moussa Ag Assarid).
Essa água brilhante que corre nos rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, devem ensinar às crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das águas é a voz dos meus ancestrais. Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças (Cacique Seattle).
No verão esquenta e a água sobe; o corpo está quente e a água sobe; de noite esfria e volta de novo a água no corpo da gente. O calor da água está em tudo: em nós, na madeira, nas plantas e sobe e vai juntando. Forma nuvem. E quando está no dia da chuva, cai pra nós bebermos, para os animais, para as plantas… O céu é nosso irmão mais velho. Ele manda na chuva e manda a chuva pra nós, pra beber, molhar as plantas, criar peixes, tomar banho, lavar… A mata é um lençol para nós, por isso índio morava na mata. É saúde. O sol é forte, traz doença e o vento carrega a doença pro mundo (não é só para o índio); a mata atrapalha o vento e não deixa passar a doença. Agora não tem mais mata. Por isso está aparecendo muita doença (Kapjêre Jõpaipaire).
A simplicidade
Quantas exigências colocamos para nós mesmos diariamente, quando a felicidade que tanto buscamos está nas coisas mais simples da vida.
Ali tudo é simples e profundo. Existem muito poucas coisas. E cada uma tem um enorme valor! Ali cada pequena coisa te proporciona felicidade. Cada toque é valorizado. Sentimos uma enorme alegria pelo simples fato de nos tocarmos e estarmos juntos. Ali ninguém sonha com chegar a ser, porque cada um já o é! Todo dia, duas horas antes do pôr do sol: a temperatura abaixa, mas ainda não chegou o frio, os homens e os animais lentamente voltam para o acampamento e seus perfis são recortados em um céu cor de rosa, azul, vermelho, amarelo, verde… É um momento mágico… Entramos todos na cabana e colocamos o chá para ferver. Sentamo-nos em silêncio, a ouvir a ebulição… A calma invade todos nós, e o nosso coração bate ao ritmo do barulho da fervura… Que paz! Aqui vocês têm relógio? lá temos tempo (tuareg Moussa Ag Assarid).
Dá pra ler estas palavras sem aquietar e suspirar? Então lá vai um convite: tenha em mente essas imagens e palavras tão tocantes! E através delas encontre seu caminho de transformação do ambiente, faça sua parte através do amor, do respeito e da beleza e deixe de lado a cobrança, o medo e a culpa. Não será este um caminho mais saudável para um mundo melhor?
Com formação universitária em Naturologia, dedica-se a atendimentos individuais e em grupo em São Paulo. Busca nos elementos da natureza os instrumentos que ajudam a manter e recuperar a saúde.
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