A arte de envelhecer ao lado de quem amamos
Filme "Amor" retrata como sentimento pode ser vivido na terceira idade
O longa metragem “Amor”, indicado ao Oscar de melhor filme em 2013, conta a história de Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Emmanuelle Riva), um casal de idosos que após anos de convivência precisa enfrentar um sério problema de saúde de Anne. O filme aborda um assunto do nosso cotidiano, mas que quase nunca é retratado em filmes: um casal que se ama está preparado para envelhecer junto?
Afinal, quando um homem e uma mulher se conhecem ainda com o vigor da juventude, tudo entre eles consiste em lindas promessas. Um futuro ao lado de quem ama, constituindo uma família (com ou sem filhos), dividindo alegrias e tristezas, costuma ser o plano de qualquer casal apaixonado. Mas o que quase nunca lembramos é que o futuro também nos reserva o envelhecimento.
E envelhecer não precisa ser doloroso. A terceira idade é hoje chamada por alguns de “melhor idade”. É quando, teoricamente, a vida pode ser aproveitada em seu ápice. Pois além da possibilidade de estarmos isentos de algumas obrigações (com a aposentadoria, por exemplo) ainda temos a maturidade de toda uma vida para aproveitar melhor os momentos ao lado de quem amamos. Melhor ainda para aqueles que envelhecem cuidando da saúde, praticando exercícios e com uma alimentação equilibrada.
Contudo, o corpo já não é mais o mesmo. Mesmo com um envelhecimento saudável precisamos estar preparados para aceitar as limitações que a idade do corpo físico estabelece. E apesar de todos os cuidados, sintomas típicos desta fase da vida podem surgir. Claro que estamos sujeitos a eles em qualquer idade, mas é na velhice que eles podem aparecer com mais constância. E é para este momento que o casal precisa estar preparado.
Amor na saúde e na doença?
Certamente, cada etapa do nosso ciclo de vida tem seus desafios. E o maior deles na terceira idade é lidar não apenas com as doenças, mas com a morte do outro. O filme retrata a maneira como Georges precisa lidar com Anne após ela sofrer um derrame. E tudo o que ele faz é continuar amando a esposa, independente das circunstâncias e dificuldades. Isso é um amor maduro. Não é mais aquele amor da juventude, cheio de promessas. Essas já foram vividas e é a realidade simples e dolorosa que está sendo vivenciada.
Por mais controverso que seja a forma como o diretor Michael Haneke lida com o tema (e apenas quem assistir ao filme poderá tirar suas próprias conclusões), ele nos faz refletir. O amor nosso de cada dia é o que nos move. E quando um casal resolve compartilhar uma existência, este amor precisa amadurecer na medida em que ambas as partes também amadurecem. E apenas um amor maduro pode enfrentar os desafios que a vida oferece, quaisquer que sejam eles. Então, o amor na saúde e na doença, torna-se tão possível quanto o viveram felizes para sempre.
Imagem: Divulgação.
É psicóloga sistêmica. Atua com traumas pela abordagem Somatic Experience® além de abordar outras questões de relações interpessoais, autoestima e postura diante da vida. Atende online e presencialmente na cidade de Belo Horizonte.
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