A autoinvenção feminina
Fugindo de moldes pré-estabelecidos, a mulher moderna se reinventa
Por Alexey Dodsworth
Épocas mudam e, com elas, os modelos se reinventam, se recriam. Não muito tempo atrás, “ser mulher” seguia pressupostos bem definidos e sem possibilidade de negociação. Todas pareciam ter saído do mesmo molde-fábrica, salvo uma ou outra que, estando adiante do seu tempo, ousava escapar do determinismo cultural. Estas, mais ousadas, eram perseguidas e incorriam no risco de represálias graves.
Os tempos mudaram, e desde a década de 70, quando o trânsito de Plutão pelo signo de Libra sinalizou uma radical transformação no modelo dos relacionamentos humanos, a mulher paulatinamente se percebeu com maior possibilidade para criar seus próprios modelos. Não se trata, evidentemente, de um problema resolvido por completo. O liberalismo que possibilita a criação de um novo modo de “ser mulher” parece se limitar a regiões cosmopolitas do mundo ocidental. Além disso, muitas vezes de forma sutil, novas imposições são criadas a partir do discurso pretensamente liberal. Ou seja: sempre que alguém institui o “ter que” a ser seguido por todas, está instituindo uma nova tirania sobre as mulheres, e muitas seguem tal autoritarismo sorrindo, sem se darem conta do que está ocorrendo.
Para ficar mais claro, imagine a seguinte situação, nada incomum: você, mulher moderna, escolhe cuidar do lar e dos filhos, escolhe não dar muita atenção para pós-doutorados e outras ambições de carreira. Tudo isso é uma escolha sua, inteiramente sua, e você é, conforme dizem, “adulta e vacinada”. Mesmo assim, tem que aguentar o discurso pretensamente liberal, que afirma sem pudores que você tem que ser ambiciosa, descolada, deixar os filhos com uma babá, trabalhar até ficar bem famosa ou muito rica. Muitas mulheres simplesmente compram este “dever”, mesmo sem ter muita vontade, pois assim determina o “novo modelo de mulher”. Se fizer o contrário, corre o risco de ser mal vista por outras mulheres. O que muitos não percebem é que este discurso é tão tirânico, tão autoritário e arrogante quando o discurso oposto, do século passado, que mandava as mulheres cuidarem de seus maridos e filhos. Em comum, os dois discursos oferecem o “ter que”. Oferecem um molde pré-fabricado no qual a mulher se encaixa, caso contrário sofrerá as consequências.
Os novos tempos nos oferecem uma alternativa maravilhosa, a alternativa da autoinvenção constante, sem estarmos presos a fórmulas, obrigações, moldes. Assim sendo, se alguém me pergunta “o que é a nova mulher?”, eu devo sempre dar a sincera resposta: se eu disser “o que” é esta “nova mulher”, estarei falando de um molde, de uma definição pré-estabelecida, e isso não tem nada, absolutamente nada de novo. É tão velho quanto o estilo de vida de minha bisavó, proibida de trabalhar. Talvez a melhor forma de responder sobre “o que é a nova mulher?” seja dizer que nunca poderia haver ponto final para esta frase, já que qualquer ponto final delimita, impõe um “ter que”, aprisiona a mulher num molde.
A nova mulher é aquela que faz de sua vida o que bem entender, arcando com as consequências de suas escolhas, não seguindo cegamente modelos pré-estabelecidos e questionando sempre: isso serve para mim? Além disso, a nova mulher entende que qualquer modelo que abrace não a obriga necessariamente a uma fidelidade eterna. Modos de ser são contingentes, estão relacionados a momentos, fases da vida. A nova mulher não “é” coisa alguma. Ela está! E, simplesmente estando, abre-se à grande aventura de sempre, continuamente, se recriar.
Astrólogo e autor de análises de Astrologia, Tarot e Runas do Personare. Sua afinidade com temas esotéricos se alinha com sua defesa à liberdade de saberes, sejam eles científicos ou não.
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