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A função da dor para mudar o mundo

O que dói nos alerta para o que não está bem e nos faz gerar ações para solucioná-la

Atualizado em

Qual a função da dor? Nós temos sido ensinados a amortecer a dor e fugir ao máximo de senti-la. Tomamos analgésicos físicos e também comportamentais e emocionais para não sentir essa sensação. Não queremos olhar para a dor por medo de não dar conta e, então, vamos minando a nossa sensibilidade, enrijecendo nossas defesas e criando armaduras para que nada entre.

Temos medo porque não nos ensinam a lidar com as emoções e saber o que fazer com isso. O que nos ensinam é a prender o choro. Nos ensinam que sentir tanto é inadequado, frescura, fraqueza. Assim, vamos crescendo sem saber como lidar com a dor e buscando inúmeros subterfúgios para não sentir e não ter que fazer algo com ela.

Somos uma rede. Fazemos parte do todo. Não há como separar. É importante saber que para mudar o mundo tudo o que sentimos, pensamos e agimos têm efeitos externos na maneira com que contribuímos para o meio a nossa volta. Vivemos em sistemas interligados e somos todos parte dessa rede. Inevitavelmente, somos responsáveis por tudo o que há ao nosso redor.

Quando há incômodos, quando tomamos consciência de algo que não concordamos no mundo, é preciso questionar:

  • Qual a minha responsabilidade nessa desordem?
  • Como minhas escolhas diárias e meus comportamentos, mesmo que pequenos, constroem essa realidade?
  • De que forma posso contribuir para a construção do mundo que quero viver?

Somos aquilo que temos dentro de nós e construímos a nossa realidade a partir disso. Afinal, quem constrói somos nós. Tudo o que há fora é reflexo do mundo interno. Para mudar o mundo, é importante nos conectarmos com o que está se refletindo no mundo. Afinal, nosso comportamento alimenta isso de alguma forma e podemos fazer algo para mudar.

Amar em vez de Armar

Andamos cada vez mais individualizados, vivendo em um mar de egoísmo onde cada um quer defender o seu. Nos aRmamos em vez de amaRmos. O R foi para o lugar errado. Precisamos devolver o R para o seu lugar. É o amor e a empatia consigo mesmo e com o outro que pode mudar o mundo, transformar o planeta.

Está faltando lembrar que ter saúde integral também é ter saúde no meio a nossa volta, pois sem isso não é possível ter saúde individual também. É preciso relembrar que somos uma rede interconectada e interdependente. Dependemos do meio ambiente e dos seres que nos rodeiam que fazem todo o círculo da vida rodar em harmonia. Se interferimos nisso, estamos interferindo em nossa própria vida. Como disse Joanna Macy e Molly Brown:

“ninguém pode existir sozinho e auto suficiente no espaço vazio”.

Nos dessensibilizamos para não sentir a nossa dor e a dor do mundo, por parecer mais confortável. Contudo, ela continua aí dentro e também lá fora. Essa dor é fruto da consciência de um mundo em sofrimento. Ela é tão natural quanto necessária para a própria cura coletiva. A dor, em qualquer situação e circunstância, tem uma função: alertar o que não está bem e gerar uma ação para solucioná-la. O problema não é sentir a dor, mas, sim, a sua repressão.

A função da dor é fazer mudanças

Achamos assustador aquilo que não conhecemos. Porém, o que também não nos ensinaram é que a ferida permanece ali mesmo que não a queiramos olhar. A dor nos domina e nos aprisiona se não fizermos nada com ela. Então, ela vai tomando conta de tudo ao nosso redor, disfarçada na anestesia. A anestesia é o perigo maior. Quanto mais evitamos sofrer, mais sofremos.

Sustentabilidade é optar pela vida e construir uma sociedade que dá sustentação à vida. Sustentabilidade e autoconhecimento caminham juntos pois é tomando consciência de si e cuidando das defesas, crenças e padrões comportamentais que podemos lidar com a nossa dor e a dor do mundo de forma transformadora.

Abrir o coração é permitir maior sensibilidade e empatia para com os outros e com o meio a nossa volta.

  • O que fecha o seu coração?
  • O que fechou o seu coração e você nem se deu conta?

Os conteúdos guardados inconscientes e as nossas defesas para não sentir mais dor, diante do percurso de nossa história pessoal e coletiva, criam muros e até abismos. O primeiro passo para qualquer mudança é tomar consciência de onde você está.

Então, é possível saber pra onde quer ir e o que fazer com isso. Qual o seu primeiro passo?

Luisa Restelli

Luisa Restelli

Psicóloga e Psicoterapeuta Corporal Reichiana. Realiza atendimentos no RJ e online, grupos terapêuticos para mulheres e palestras.

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