A ponte no Yoga: como vivenciar o Urdhva Dhanurasana
Por Analu Matsubara
Você conhece a ponte no Yoga? Venho, de forma gradual, de um ano e meio para cá, desenvolvendo naturalmente uma compreensão mais clara sobre o manejo de minha mente e do meu corpo ao desenvolver, praticar e estudar Urdha Dhanurasana, que sempre foi uma postura de grande desafio para mim.
Fiquei muitos anos com o quadro de uma diástase abdominal severa (que rompeu meu reto abdominal do púbis ao esterno), sem poder desenvolver, em camadas muito mais profundas, esse asana.
A respeito da potência da ponte no Yoga – de trazer à tona o material mais profundo da mente – se casa perfeitamente com um tema maior que venho testemunhando e administrando desde o falecimento de meu pai.
Com inúmeros temas que já esperava viver em razão do processo de inventariança, percebo a riqueza de desafios de janelas temáticas que desfilam ultimamente nas minhas prateleiras de “to do list”.
Gestão de empresas de natureza de negócios diferentes, gestão de uma dinâmica nova familiar por sermos uma família empresária, gestão de uma rotina nova pessoal para conquistar o fator tempo cronológico, gestão de inesperadas viagens e desafios intelectuais, que exigem uma nova forma global de racionalizar e viver as emoções.
Estabilidade em todo os níveis
Felizmente, consigo enxergar em meio ao aparente tumulto externo toda a dádiva e os ganhos em termos gerais de maturidade que vêm chegando até mim com a prática que está naturalmente consolidando-se em uma dedicada atenção maior ao Urdhva Dhanurasana.
Observo que a asana da “ponte” trava, estabiliza e faz amarrações muito diferenciadas sob todos os níveis em todos os corpos. Poderia aqui exemplificar alguns.
O quanto meus membros, braços e pernas, unem-se em maior ritmo e harmonia para doarem para a minha espinha um arco mais coeso e equilibrado. Minhas mãos e pés, pernas e antebraços, coxas e braços tendem a coordenarem-se melhor no intuito de abrir espaço na coluna interna.
Há dias mais favoráveis que outros, em que o asana realmente “cala” dentro do meu corpo, regando a mente para mais clareza e maior silêncio.
Observei, com esse processo, como, por meio de resgates no enlutamento, foi possível fazer uma ponte bela com a linhagem de meus antepassados japoneses, cujos padrões, cujas histórias e vidas revisitei em larga escala de ressignificação.
Observei o quanto me está sendo possível “auditar” melhor o outro (seja esse outro uma pessoa, um grupo, um pensamento), removendo muitas camadas pré-existentes de projeções e falsos conceitos.
O poder de uma ponte interna mais íntima
Observei o quanto essa união de forças de todas as vértebras da minha coluna, supostamente exposta em Urdha Dhanurasana, está me ensinando a ir para dentro de uma forma mais sensível, delicada, respeitosa e ritmada.
O quanto a qualidade do arco, da ponte, está genuinamente ligada a algo maior dentro do meu Ser e do meu espírito.
O quanto essa ponte interna mais íntima tem o poder de trazer-me novas joias a serem contempladas nas incontáveis horas do dia em que, adicionadas ao tempero da postura, conferem leveza, pertencimento e genuíno estado de introspecção.
Elas me libertam do casulo do ensimesmamento, promovendo calma aliança com os mais variados arcos alheios que deparo a cada momento.
Em suma: sinto que a aproximação com o Urdhva Dhanurasana fortalece não só nervos, mas leva o praticante a dedicar-se profundamente a seus processos mais íntimos e a colocar em cheque as dinâmicas e os disparos emocionais ocasionados pelos padrões arraigados, congelados e, por vezes, traumatizados dentro de nossa particular roda do samsara.
Professora certificada nível Senior internacionalmente pela Associação Brasileira de Iyengar Yoga ligada ao Ramamani Iyengar Yoga Institute, em Puna, Índia. Organiza workshops nacionais e internacionais de Yoga, e idealizadora de dois estudios: “ESYSP- Estudio de Yoga São Paulo" e da "Casa Azul Yoga”. Também é terapeuta de Somatic Experience.
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