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Abuso psicológico dos pais: entenda o que é e como lidar

Sequelas do abuso psicológico dos pais podem acompanhar a vítima por toda sua vida

Atualizado em

Infelizmente, nem todas as pessoas crescem em lares saudáveis. O abuso psicológico dos pais é uma realidade em diversas famílias e pode deixar sequelas profundas nas vítimas. 

Raramente, esse tipo de violência é reconhecido, principalmente, no âmbito intrafamiliar e com os mais vulneráveis. Isso porque, na maioria das vezes, são ataques normalizados em uma sociedade bélica como a nossa. 

Porém, seu potencial é altamente destrutivo. Segundo estudo publicado na revista Psychological Trauma: Theory, Research, Practice, and Policy, este é tão ou mais prejudicial que os abusos físico e sexual. Nesse caso, não há marcas visíveis, porque o alvo da agressão não é o corpo, mas a identidade e a personalidade da vítima.  

Vamos abordar, neste texto, como reconhecer o abuso psicológico praticado pelos pais, as consequências destes atos e como superar os traumas deixados por essa violência. 

Abuso psicológico dos pais na infância 

Não é incomum o abuso psicológico dos pais começar na infância, com controle e críticas excessivos sobre a criança. Quando isso acontece, as consequências são ainda mais danosas. 

Isso porque, nesse período da vida, o cérebro e a personalidade do indivíduo estão em formação. Os maus-tratos psicológicos, nesses casos, prejudicam o desenvolvimento e as capacidades do ser em crescimento.  

No Brasil, o primeiro e importante passo dado no sentido de reconhecer esse tipo de violência invisível foi torná-la crime em 2021. Conforme a Lei 14.188/2021, sobre o programa de cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica, a prática de violência psicológica contra a mulher pode resultar de um a quatro anos de reclusão para o agressor. 

No que diz respeito à infância, no entanto, essa proteção ainda está longe de acontecer. 

Como reconhecer comportamentos abusivos  

É preciso conhecer os tipos de violência psicológica para, então, saber como lidar com eles. Conheça alguns comportamentos considerados abusivos pelos pais (ou cuidadores):  

  • Exercer controle coercitivo, como manipular, intimidar, ameaçar e chantagear. 
  • Insultar, difamar, criticar em excesso. 
  • Constranger, humilhar e ridicularizar. 
  • Invalidar (menosprezar opiniões e sentimentos) e fazer gaslighting (um tipo de manipulação que usa mentira ou distorção de fatos, fazendo com que a vítima duvide da sua percepção da realidade). 
  • Evitar, isolar e fazer tratamento de silêncio.  
  • Criar demandas avassaladoras, como exigir que a criança tenha obrigações, responsabilidades e volume de trabalho muito além de suas capacidades. 

Consequências do abuso psicológico dos pais 

Engana-se quem pensa que os abusos só têm consequências enquanto acontecem. As vítimas dessa violência podem apresentar inúmeras sequelas emocionais, cognitivas e comportamentais na vida adulta, até mesmo após o afastamento ou falecimento dos pais. 

O resultado é o desajuste em, praticamente, todos os âmbitos da vida: relacionamentos amorosos, vida social, saúde física e mental e vida profissional e financeira.  

Conheça as principais sequelas psicológicas de quem sofreu esse tipo de abuso pelos pais (ou cuidadores):  

  • Codependência emocional; 
  • Sintomas de estresse pós-traumático; 
  • Transtorno de ansiedade generalizada; 
  • Síndrome do pânico; 
  • Tendência ao abuso de álcool e drogas; 
  • Depressão; 
  • Tendências suicidas. 

Comportamentos típicos das vítimas de abuso psicológico 

Como falamos, as sequelas do abuso psicológico dos pais acompanham a pessoa até a idade adulta. Por isso, é possível perceber indicativos de que alguém tenha sido vítima dessa violência. 

Alguns comportamentos típicos de quem sofreu abuso psicológico na infância são:   

  • Necessidade de validação constante; 
  • Perfeccionismo; 
  • Baixa autoestima; 
  • Dificuldade de pedir ajuda; 
  • Autoexigência exagerada; 
  • Necessidade de agradar os outros; 
  • Medo de abandono e rejeição; 
  • Dificuldade de reconhecer e priorizar as próprias necessidades; 
  • Dificuldade de reconhecer os próprios limites; 
  • Dificuldade em estabelecer limites para os outros; 
  • Tolerância a relacionamentos abusivos (nas amizades, no trabalho e na vida afetiva); 
  • Dificuldade em confiar nos outros. 

Vale a pena lembrar, no entanto, que apresentar algum desses comportamentos não quer dizer, necessariamente, que a pessoa sofreu abuso psicológico dos pais na infância. Outros tipos de violência também podem gerar as mesmas condutas. 

A intenção aqui é mostrar as possibilidades, instigando a observação e a busca por ajuda. 

O que fazer se tive pais abusivos na infância? 

Uma criança não tem condições de reconhecer, nomear e elaborar o abuso psicológico dos pais. Assim, não consegue se proteger, colocar limites ou pedir ajuda e fica presa em uma espécie de cativeiro.  

O mais comum é que, quem sofreu abuso psicológico na infância, procure ajuda na idade adulta, justamente, quando algumas dessas sequelas começam a aparecer com mais força.  

Na maioria das vezes, o trauma não aparece por meio de lembranças. Muitos adultos não se lembram de suas infâncias e isso é um mecanismo de proteção, pois o cérebro joga essas memórias de violência para o inconsciente.  

O trauma geralmente se manifesta na nossa reatividade, ou seja, nas reações exageradas a determinadas situações-gatilho. Elas nos remetem ao evento traumático e a crenças e comportamentos automáticos.  

É importante tratar as sequelas de pessoas que têm ou tiveram pais abusivos com terapia. Nesses casos, são indicadas tanto as tradicionais, como Psicologia e Psiquiatria, quanto as complementares, como a Constelação Familiar.  

Entenda melhor

A Constelação permite investigar o inconsciente da pessoa e de seu sistema familiar, acessando, de forma breve e distanciada, as emoções que não foram processadas no passado e que ficaram bloqueadas, gerando o trauma.  

Além do aspecto emocional, na Constelação Familiar se trabalha com as crenças, que geram respostas comportamentais, e com o corpo, pois as feridas emocionais ficam registradas também no nosso corpo físico.  

Após esse processo, é possível ressignificar o olhar para o que aconteceu. Portanto, a ideia é atualizar os fatos a partir de uma postura adulta e “reparentalizar” (isto é, maternar e paternar novamente) essa criança interior ferida.   

Outra vantagem de complementar o tratamento psicológico e/ou psiquiátrico com a abordagem sistêmica, é que os efeitos não são sentidos somente na vida de quem passa por uma sessão de Constelação, e sim na vida de todos do sistema familiar. Todas as pessoas envolvidas se sentem aliviadas e com mais liberdade de ação.  

Isso porque, muito frequentemente, o problema não teve início nos pais, mas em gerações anteriores, e pode estar relacionado a algum trauma transgeracional. No entanto, se este não for tratado, segue impactando as gerações seguintes.  

Por isso que, ao abranger também a nossa ancestralidade, a Constelação Familiar ajuda a potencializar os resultados das terapias ditas convencionais, que vão considerar apenas as repercussões na vida da pessoa vítima de abuso psicológico. 

Por fim, queremos reforçar que você não precisa carregar para sempre as cicatrizes do abuso que sofreu. As terapias existem para tratar esses traumas. 

Pense sobre isso e considere conversar conosco sobre essas questões para encontrar a paz que você merece. 

Alice Duarte

Alice Duarte

Alice Duarte é facilitadora de Constelação Sistêmica Familiar e Organizacional, com treinamentos internacionais com o alemães Bert e Sophie Hellinger, e os espanhóis Joan Garriga e Brigitte Champetier de Ribes. Desde 2015 facilita processos de autoconhecimento, cura emocional e solução de conflitos nos relacionamentos. É jornalista, mantém um site autoral com artigos em português e é criadora do programa online Por Uma Vida Sem Amarras. Vive em Curitiba, onde trabalha com grupos terapêuticos, workshops, cursos e atendimentos individuais (presenciais e online) de Constelação Familiar e Consultoria Sistêmica Empresarial. Aqui no Personare escreve sobre autoconhecimento e relações humanas.

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