Aprenda como se desapegar com o Yoga
Entenda como tirar a expectativa das coisas e encarar tudo com mais tranquilidade
Por Rosine Mello
“Quando a mente perde todo desejo pelos objetos vistos ou imaginados, adquire um domínio e desprendimento que chamado vairāgya, desapego“, disse Patañjali no Yogasūtra (I:15). Mas como se desapegar?
Primeiro, é preciso entender o desapego. E, para entender o desapego, precisamos antes entender o apego.
De acordo com o dicionário, apego significa “dedicação permanente e exagerada a..”.
Temos apego ao dinheiro, aos nossos pais, aos nossos filhos, aos resultados do nosso trabalho. A sensação de apego está intimamente ligada ao que chamamos de pertencimento e ao querer colher os frutos.
Desapego significa, conforme o dicionário, desprendimento. Mas podemos nos desprender de tudo a que nos apegamos? Sim, basta começar a ver as coisas como elas realmente são, ou seja, tirar todos os valores subjetivos dos objetos.
Para o ser humano, é muito difícil desapegar dos pais, filhos, amigos queridos, parentes e nossos pets, pois na nossa cultura esse desapego lembra abandono, desamor, indiferença.
Da mesma forma, não conseguimos abandonar nossos bens materiais. Em raríssimos casos, alguns conseguem abandonar tudo e viver como os sadhus indianos.
Mas estamos aqui, no Brasil, e precisamos viver com desapego. Isso é possível? Sim, é possível.
Como se desapegar?
É importante ter consciência de que a vida é impermanente, que nossas ações devem estar livres de expectativas e que os objetos devem ser enxergados pelo seu valor real.
É fácil? Não, requer trabalho e consciência.Vamos devagar e por etapas.
Da família e dos amigos
Comecemos pela família e amigos. Você está em uma família, você gosta dessa família, mas estar é diferente de pertencer.
Digamos que você seja mãe ou pai: você educa, ensina, orienta, ama e quer o bem do seu filho, mas ele é um ser independente, com ideias próprias, caminhos, experiências e sofrimentos, atos e consequências.
Você acompanha o caminho do filho, mas ele não pertence a você, o caminho dele é a vida. Isso é desapego: você está com ele, você o ama, mas ele segue sozinho e, um dia, você não o acompanhará, pois somos seres mortais fisicamente.
Porém, somos imortais nas ações que deixamos na vida daqueles com os quais compartilhamos nossas existências. Isso serve para filho, esposa, pais, irmãos e amigos. Todos são impermanentes e todos têm caminhos exclusivos a serem trilhados.
Do trabalho
Precisamos trabalhar, afinal, na nossa cultura, só sobrevivemos com os resultados do nosso trabalho. Isso, em geral, significa salário e cargo ou empresa e lucro.
Bhagavad Gita fala sobre o “reto-agir”, que está ligado ao Karma Yoga. Antes de entendermos o “reto-agir”, é preciso entender o “falso-agir”, que é a ação através do amor ao ego ilusório. Essas ações são feitas para podermos alcançar coisas com valores subjetivos, são ações feitas por amor a uma ilusão.
Existe também o “não-agir”. Místico, é aquele que diz assim: “se a ordem cósmica quiser, esse cargo será meu”. Então, ele senta e fica esperando.
O “reto-agir” é feito através do ego, mas não é feito por amor ao ego (ilusão) é a autorrealização. É ação feita por amor, ou seja, é fazer o melhor dentro do que é possível nas condições apresentadas no momento.
Agir sabendo que seus atos dentro daquele setor de trabalho ou dentro da sua empresa terão uma repercussão e que, independentemente de quais forem os resultados, estes serão os corretos.
Relaxa, você não está no controle! Desapega da expectativa, abrace o resultado, aceite e agradeça. Tudo na vida é aprendizado e o objetivo é sair do estado de Sansara.
Difícil? Sim, mas se fosse fácil não seria o caminho do yoga. Sansara… esse texto fica para outro dia… Namastê e um ótimo ano novo para todos.
Formada em Educação Física, é praticante de Hatha Yoga desde 1998. Atua como professora desde 2005, certificada pelo Simplesmente Yoga.
Saiba mais sobre mim- Contato: rosine.mello@gmail.com
- Site: https://www.rosineyoga.com.br/