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Astrologia e Dante Alighieri: os símbolos na obra máxima da literatura italiana

Na obra de Dante Alighieri, verifica-se presença muito forte da Astrologia, com relação direta entre signos, planetas, paraíso, inferno e céu

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Em 2021, completam-se 700 anos da morte de Dante Alighieri (1265-1321), autor de “A Divina Comédia”, obra máxima da literatura italiana. Talvez você não saiba, mas a obra de Dante Alighieri tem relação direta com a Astrologia.

Ao relatar sua viagem pelos reinos do além-morte, Dante descreve o Inferno, o Purgatório e o Paraíso de uma forma até então jamais ousada: em vez de escrever seu livro em latim, o fez se valendo da língua florentina que era então falada pelo povo, língua essa que mais tarde veio a se tornar o idioma italiano oficial.

“A Divina Comédia” se tornou um sucesso e, contrariando as expectativas da época, foi um livro lido por muita gente, justamente por estar escrito em uma língua acessível. Dante foi um revolucionário ao apostar na ideia de que o povo queria ler, e não apenas alguns poucos eruditos e letrados em latim.

Para entender a relação entre Astrologia e Dante Alighieri

A Astrologia está presente neste que é considerado um dos maiores clássicos do Ocidente. Isso se deve ao conhecimento de Dante sobre o assunto, derivado da influência de Brunetto Latini, seu então professor de retórica.

Geminiano que era, Dante estava longe de querer falar para as elites intelectuais de sua época e sabia que sua era a missão de comunicar a arte da forma mais popular possível – daí a escolha pela língua do povo.

Tanto era ciente de seu próprio mapa astral, que escreveu em uma passagem do Paraíso, em uma cena na qual reverencia o signo de Gêmeos:

Ó gloriosíssima estrela, ó lume cheio de virtude magna,
devo-te o meu engenho e tudo o mais que seja de estimável,
pois em teu signo se encontrava o sol quando respirei pela primeira vez.
(Paraíso, XXII)]

Entretanto, ainda que apreciasse a Astrologia, Dante desprezava o fatalismo e a tendência – já existente na época – de algumas pessoas para justificar os próprios defeitos a partir das “influências celestes”.

Você já deve ter conhecido pessoas que usam a Astrologia como argumento para justificar os próprios defeitos, não é mesmo? Dante também conheceu muita gente assim. Não é à toa que em Purgatório ele escreve:

O céu inicia os nossos movimentos, não todos na verdade,
mas daí não se conclua que tudo o que fizeres seja por determinismo,
visto que o discernimento do bem e do mal é um lume que te foi dado para modificar aquelas tendências, graças ao teu livre-arbítrio;
de modo que, se tiveres recebido más influências ao nascer, mais tarde poderás modificá-las se tiveres vontade firme para combatê-las.
(Purgatório, XVI)

Da próxima vez que alguém usar o próprio signo para justificar problemas de comportamento que tem, recite para esses versos de Dante.

A arquitetura compartimentada do Paraíso e do Inferno

Em “A Divina Comédia”, encontramos a síntese da visão cosmológica ocidental, herdeira do filósofo Aristóteles.

Não havia, na época, separação entre Astronomia e Astrologia, sendo as duas coisas uma só: observação material dos planetas e estrelas, além de reflexão filosófica sobre o simbolismo das luzes no céu.

É interessante observar, por exemplo, que o próprio Paraíso está longe de ser um lugar uniforme.

Dante Alighieri divide o Paraíso em lotes cósmicos distintos, e cada parte dele tem a ver diretamente com o simbolismo dos planetas na Astrologia. Assim é dividido o Paraíso:

  • No começo, temos a Esfera da Lua, para onde vão as almas virtuosas, porém carentes de coragem.
  • Seguimos então para a Esfera de Mercúrio, onde se encontram aqueles que fizeram bom uso de suas capacidades, mas que falharam no desafio de serem justos.
  • Já na Esfera de Vênus, encontramos as almas das pessoas que fizeram bom uso do amor, mas a quem faltou temperança e, por isso, incorreram no erro de cometer excessos.
  • Na Esfera do Sol, encontramos os sábios cuja luz a tudo clareia.
  • Em seguida, conhecemos a Esfera de Marte, para onde vão as almas dos guerreiros que lutaram por Cristo.
  • Ocupando posição ainda superior, temos a Esfera de Júpiter, lar daqueles que souberam ser justos.
  • Por fim, chegamos à Esfera de Saturno, morada final das almas contemplativas e prudentes.

É interessante observar como Dante coloca Saturno como a esfera mais elevada do Paraíso, se comparada aos demais planetas. Saturno costuma ser mal compreendido por muitos astrólogos, que o consideram um astro “maléfico”, sendo que termina sendo o planeta da mais alta virtude, capaz de conceder à alma imortal uma das mais gloriosas posições no Paraíso.

Previsão não é destino

E o que isso significa, na prática? Para a Astrologia, cada pessoa nasce com uma ou mais inclinações planetárias. Isso depende do signo ou signos predominantes no mapa astral individual. Confira, na tabela abaixo, as regências planetárias:

AstroSignos
SolLeão
LuaCâncer
MercúrioGêmeos e Virgem
VênusTouro e Libra
MarteÁries e Escorpião
JúpiterSagitário e Peixes
SaturnoCapricórnio e Aquário

Determinar o signo predominante demanda ir além do mero signo solar. É preciso conhecer o próprio mapa astral de nascimento (veja a versão mini gratuita do seu mapa astral do Personare).

Digamos que os seus signos predominantes sejam Áries e Gêmeos. Isso significa que você iria para o céu de Marte ou para o de Mercúrio?

Não necessariamente, embora seja possível dizer que, com essa combinação astrológica, você seja mais inclinado à coragem (Marte) e às altas habilidades (Mercúrio).

Para Dante – e também para muitos astrólogos antigos – “inclinação” jamais significa “destino”.

Todos são capazes de alcançar a esfera planetária mais elevada, que é Saturno, caso se esforcem na prática da contemplação, da meditação e cultivem a virtude da prudência.

Vale também dizer que existem estágios ainda mais elevados do Paraíso, segundo Dante: a Esfera das Estrelas, reservada aos santos, e ainda duas outras esferas exclusivas do próprio Deus.

Neste ponto, cabe perguntar: e o Inferno? Será que para Dante Alighieri ele também teria a ver com a Astrologia? A resposta é sim.

Assim como o Paraíso, o Inferno de Dante também é dividido em nove esferas, mas enquanto as esferas paradisíacas estão relacionadas às luzes do céu, os compartimentos infernais têm a ver com as sombras.  Cada círculo do Inferno é um reflexo maligno de um astro celeste.

  • O círculo maligno de Vênus, por exemplo, tem a ver com a luxúria, e é o local “das almas desfeitas por amor”.
  • O círculo da ira diz respeito a Marte e ao fato de que aqueles que usam mal as qualidades deste astro têm uma inclinação a rompantes de fúria.
  • E se o pedaço do Paraíso ligado a Saturno é o mais elevado se comparado ao de outros planetas, no Inferno o lote de Saturno é um dos piores: é para onde vão as almas que, em vida, praticaram a maldade (contra as outras pessoas, contra si mesmas ou contra Deus).

No fim das contas, como fica claro na obra de Dante, nenhuma inclinação planetária nos garante acesso ao Paraíso ou nos condena ao Inferno. A grande lição legada por “A Divina Comédia” é a de que todos os seres humanos são dotados de livre-arbítrio, capazes de se dirigir para o bem ou para o mal por vontade própria.

Todos nós trazemos o Paraíso e o Inferno como promessas dentro de nós mesmos, e vivemos a experiência do Paraíso e do Inferno ao longo de nossas próprias vidas.

Acreditem ou não em Astrologia, um dos maiores clássicos da literatura ocidental se baseia nesse conhecimento antigo para transmitir uma filosofia própria: a de que todos temos luz dentro de nós, e a sombra é o que vemos quando damos as costas para a luz.

Ver a luz é conhecer quem somos, em nossas profundas inclinações, de modo a não sermos escravos delas.

Gostou? Conheça o novo projeto literário de Alexey Dodsworth, baseado em “A Divina Comédia”.

Alexey Dodsworth

Alexey Dodsworth

Astrólogo e autor de análises de Astrologia, Tarot e Runas do Personare. Sua afinidade com temas esotéricos se alinha com sua defesa à liberdade de saberes, sejam eles científicos ou não.

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