A bagunça na sua casa está piorando sua saúde mental
Entenda os impactos psicológicos da bagunça doméstica na sua saúde mental e comece a cuidar melhor da sua mente e do seu lar
Por Celia Barboza
A bagunça no ambiente externo é um reflexo da bagunça interna. Cada vez mais, pesquisas que mostram o impacto negativo que a bagunça causa na saúde mental. Não é falta de tempo, não é relaxamento. Em muitos casos, indicam os estudos, é reflexo da nossa mente ansiosa, estresseada e caótica.
Por algum motivo a sua casa já deve ter ficado bagunçada, pelo menos, por alguns dias. Urgências do trabalho, uma visita inesperada, problemas de saúde, celebrações e outros acontecimentos precipitam maior uso de objetos. E, além disso, provocam o aumento do movimento de pessoas. Assim, trazem essa sensação de que está tudo bagunçado.
É possível que você tenha olhado o tanto de louça na pia e as roupas empilhadas sem saber por onde começar uma boa faxina. E, ao mesmo tempo, precisa responder às mensagens no seu celular. Isso tudo leva a sensação de pressão.
É que além da questão da limpeza, a desorganização pode gerar impactos na percepção do ambiente e trazer ansiedade, afetando a saúde como um todo. Eu vou te ajudar a entender isso.
Não somos multi-tarefas!
O estudo sobre múltiplos estímulos, publicado no Journal of Neuroscience, mostrou que a desordem visual no ambiente pode interferir na capacidade do cérebro de processar informações e na tomada de decisão.
Neste estudo, os pesquisadores descobriram que, quando há muita informação visual, as atividades da amígdala e do córtex pré-frontal aumentam sua atividade. A Amígdala é a área do cérebro responsável por processar emoções e participa da cadeia do estresse. E o córtex pré-frontal é a área do cérebro que faz planejamento e toma decisões.
Essas áreas cerebrais compõem o circuito do controle emocional e cognitivo. Assim, a exposição constante a ambientes desorganizados, sobrecarregados de informação, pode levar ao aumento do estresse e da ansiedade. Isso acontece porque o cérebro não é preparado para realizar múltiplas tarefas simultaneamente.
Embora possa parecer que fazemos mais de uma coisa ao mesmo tempo, isso não é verdade. Acreditar que somos multitarefa é construir uma perspectiva errada de si mesmo, colocando-se em comparação, por supor que outro ser humano tem essa capacidade.
É importante desmistificar a ideia da multitarefa como se fosse um superpoder, pois isso não está disponível para nenhum ser humano.
Competição Invisível por Atenção
O estudo realizado pela Princeton University, nos EUA, mostra que informações “presentes no campo visual ao mesmo tempo competem pela representação neural, suprimindo mutuamente sua atividade evocada em todo o córtex visual, fornecendo um correlato neural para a capacidade limitada de processamento do sistema visual.”
E o que isso quer dizer? Que essa limitação de processamento do cérebro não é um defeito. Tentar lidar com diversas atividades ao mesmo tempo pode ser comparado a manter várias abas abertas em um navegador, e tentar ver todas juntas.
Você pode até achar que está prestando atenção à várias coisas simultaneamente. Mas, na realidade, a informação é percebida uma de cada vez, ainda que seja num intervalo de microssegundos.
O que acontece a partir da percepção de sermos multitarefas é o aumento de frustração e cansaço. Pois o que de fato acontece são interações competitivas entre tantos estímulos. Isso faz parte do cotidiano, mas precisa ser direcionado para processamento e decisão no cérebro, por algo identificado como relevante ou particularmente interessante.
Significa dizer que a TV ligada e uma mesa lotada de papéis, enquanto você trabalha ou estuda, competem pela atenção do cérebro. E isso pode interferir na qualidade de aprendizagem e produtividade.
Pensar sobre isso pode trazer esclarecimentos sobre aquela vontade de levantar inúmeras vezes, ou sobre o sono inconveniente, bem na hora que você precisa focar. Além de deixar ainda mais evidente que hábitos como dirigir e falar ao celular expõem a graves riscos.
Bagunça e saúde de acordo com pesquisadores
Em casa, “a desordem e a bagunça são mais do que apenas incômodos visuais. Eles podem ter um impacto profundo no bem-estar mental, na produtividade e nas nossas escolhas“, explica Erika Penney, professora de psicologia clínica na University of Technology Sydney, em artigo para a plataforma The Conversation.
“Quando estamos cercados por distrações [como a cama desarrumada, a pia suja, a geladeira com comida estragada e o xixi do pet no meio da sala], nossos cérebros se tornam um campo de batalha de elementos que buscam atenção. Tudo compete pelo nosso foco”, diz Penney.
“A ordem ajuda a reduzir a competição pela nossa atenção e reduz a carga mental. Embora algumas pessoas possam ser melhores do que outras em ignorar distrações, ambientes distrativos podem sobrecarregar nossas capacidades cognitivas e de memória”, completa a professora.
Quando o dia não termina
Estamos muito cansadas por tantas tarefas que precisam ser cumpridas, sendo comum a sensação de que as horas são insuficientes. E é difícil seguir antes de colocar tudo organizado.
Considerando que o cérebro gosta de ordem e de realizar uma única tarefa por vez, e tem dificuldade em se organizar quando há muita informação no ambiente.
Como, por exemplo, a bagunça, a frequente exposição pode se desdobrar em problemas de produtividade, questões de saúde e dificuldade em dormir, configurando um tipo de ansiedade específica por tarefas não finalizadas.
Saúde das mulheres é mais afetada pela bagunça
Outro estudo publicado na revista Personality and Social Psychology Bulletin (PSPB) descobriu que a tendência é que a desordem em casa afete majoritariamente as mulheres. Ela podem apresentar níveis mais elevados de cortisol, o hormônio do estresse, quando falta ordem no lar.
A principal hipótese é de que, historicamente, as mulheres são responsáveis pelas atividades domésticas, e que isso gera um acúmulo de estresse sobre elas.
Este tema é de grande importância e tem sido frequente nos processos terapêuticos, nos quais mulheres vão desconstruindo a imagem da mulher-guerreira.
Bagunça Doméstica: Reflexos de Vidas Interiores
Usando a analogia de que a casa é reflexo do interior da pessoa, vale refletir sobre os casos onde a bagunça da casa pode ser sintoma de algum distúrbio ou problema de saúde e comportamento dos próprios moradores, e até mesmo dos relacionamentos.
Além das questões de ansiedade e insônia, podemos abrir outras possibilidades de investigação, onde a pergunta principal é sobre o que a bagunça está sustentando ou omitindo. Por exemplo, olhar para a dificuldade de doar livros antigos e sem uso pode se referir a alguma questão de validação e o quanto se pode ficar sem algo.
Ter infinitas pilhas de papéis sobre a mesa pode estar relacionado à dificuldade de lidar com a passagem do tempo e questões de utilidade. Deixar roupas empilhadas, sem guardar adequadamente, pode apontar para a auto negligência e solidão. Manter objetos quebrados, estragados, não funcionais, pode mostrar o medo do vazio e questões sobre o fracasso.
No entanto, os exemplos citados não devem ser compreendidos como diagnóstico, e a relação entre uma questão mais profunda e a desorganização da casa deve ser observada com auxílio terapêutico.
Nestes casos, a busca por um profissional é fundamental para que a pessoa reconheça a questão e possa modificá-la gradualmente.
Perfeccionismo e desordem
É importante saber que é impossível alcançar a perfeição da ordem dentro de uma casa, já que é um organismo vivo e todas as tarefas precisam ser refeitas com alguma regularidade. Se viver em uma casa bagunçada traz impacto na saúde, ser perfeccionista também traz.
Afinal, o perfeccionismo também gera sensações negativas e bastante ansiedade, sendo semelhante no impacto na saúde.
Como utilizar a bagunça para reflexão
Muitas pessoas normalizam a bagunça ao ponto de nem perceberem os impactos nocivos da desorganização e podem não se reconhecer como ansiosas. Para pessoas assim, sugiro parar os afazeres e olhar em volta:
- O que você vê te agrada?
- Se alguém chegasse de surpresa, qual seria seu sentimento?
- O que você faria?
A partir dessas sensações e sentimentos, é possível começar um caminho para entender os reais motivos por trás da bagunça.
A bagunça e o Bagunceiro
A bagunça é a materialização de processos ocultos na pessoa que vive a experiência de desorganização. Citando novamente a psicóloga Penney, compartilho importantes reflexões que você pode e deve considerar para auxiliar no fortalecimento de uma relação mais saudável com seu ambiente.
De acordo com a professora, “a bagunça não define se você é uma pessoa ‘boa’ ou ‘má’ e, às vezes, pode até estimular a sua criatividade”. “Lembre-se de que você merece sucesso, bons relacionamentos e felicidade, tendo bagunça ou não no seu escritório, na sua casa ou no seu carro”, completa.
Vale observar que os pontos de impacto da desorganização não se resumem apenas à mente, considerando que doenças respiratórias, por exemplo, também estão associadas à qualidade dos ambientes.
Em primeiro lugar: Conhecimento
Saber sobre essas pesquisas, realizadas com aparato de tecnologia e ciência muito desenvolvidos, mostrando o quanto o ambiente nos afeta, me faz lembrar dos conhecimentos antigos, que me inspiram pela sua sabedoria.
Temos muito a aprender com a sabedoria chinesa, por exemplo, que acredita que há cinco fatores que determinam as características da vida de cada pessoa, onde o Feng Shui trata de uma parcela entre as cinco.
- Ming ou Destino — trazido de antes do nascimento, imutável.
- Yun ou Sorte — varia entre períodos favoráveis e desfavoráveis.
- Feng Shui ou Ambiente — o ambiente influencia na qualidade de vida, podendo receber ação humana para melhorar a energia do espaço.
- Daode ou Virtude — referente ao desenvolvimento pessoal, moral e espiritual.
- Dushu ou Educação — o tempo dedicado ao desenvolvimento mental e autoconhecimento.
Pensando sobre este ensinamento, se há um destino imutável, há também a possibilidade de transformar a qualidade da existência à partir do ambiente em que vivemos. Tendo em vista que tudo é caminho para o autoconhecimento, unindo os ambientes interno e externo.
Então, se possível, reflita sobre o que você pode fazer agora, em seu benefício, no seu ambiente imediato, pois não é somente sobre estética e sim sobre a sua saúde.
Bibliografia e fonte
- Bagunceiro | Lorraine Leet | Editora Babelcube Inc., 2019
- O Poder do Morar Bem: sob o olhar de uma arquiteta | Camila Pellegrino Kredens | Editora Simplíssimo, 2021
- Interactions of Top-Down and Bottom-Up Mechanisms in Human Visual Cortex | Journal of Neuroscience
Terapeuta Integrativa, Celia Barboza é certificada em BodyTalk Sistem, Master em Programação Neurolinguística, Consteladora, integrando outros saberes filosóficos para uma abordagem terapêutica profunda.
Saiba mais sobre mim- Contato: celiabodytalk@gmail.com
- Site: https://www.celiabarboza.com