Desvendando o medo de fazer sexo
Entenda por que algumas pessoas não conseguem se entregar na cama
Por Antonieta Mazon
A vida moderna nos insere em uma pluralidade fantástica, mas também nos remete a verdades muitas vezes paradoxais: se por um lado temos a impressão de estarmos cada vez mais no controle de nossas vidas, por outro vimos despertar em nós uma intranquilidade e um medo sempre maiores. Muitas faces do medo podem ser manifestadas em cada um, que vão muito além do medo do escuro ou do medo das assombrações de nossa infância.
As fobias da atualidade passam pelo medo da solidão, da violência, do controle pela tecnologia e de contrair doenças novas e antigas, além dos medos mais típicos da nossa existência segura, como o de perder emprego, o de não ser aceito socialmente, o da traição, entre outros que angustiam nossas mentes. Entre todos os medos e fobias, também existe o de fazer sexo.
Uma análise mais atenta sobre esses e tantos outros medos nos revela que a insegurança é a origem de tudo. A falta de confiança em si mesmo é um processo mental que vai nos absorvendo e impedindo que nossas emoções positivas fluam naturalmente. Sabemos que nossa mente registra todas as sensações boas e ruins que experimentamos na vida. A cada novo acontecimento, visto como ameaçador, o inconsciente resgata memórias passadas, alertando a respeito do que considera como perigo ou ameaça.
Pressão por bom desempenho na cama gera insegurança
No caso do medo de fazer sexo, a ameaça pode ser muitas vezes traduzida como constrangimento, humilhação e até violência. A insegurança que gera o medo de fazer sexo geralmente está relacionada às pressões sociais. O culto cada vez maior a uma performance sexual impecável é capaz de desenvolver o medo de não ser capaz de satisfazer sexualmente às expectativas do outro na cama.
Crenças ligadas ao desempenho masculino no sexo cobram atividade sexual intensa, ereção controlada e eficaz, além de reserva na expressão do sentimento. Quando o homem não consegue manifestar todos esses aspectos durante o ato sexual, ele pode sofrer discriminação social ou desconfianças sobre sua virilidade, fatores estes que podem gerar o medo de fazer sexo novamente.
No caso da mulher, paira o fantasma da anorgasmia (ausência de orgasmo), que tem como consequência o fracasso sexual ou, ainda, a inibição do desejo sexual. Na fisiologia da resposta sexual humana, o desejo é a primeira coisa a ser ativada para que o ato sexual aconteça de modo satisfatório. Sem essa pulsão desejante, a mulher não se sente disponível para o sexo. Como numa reação em cadeia, essa inibição pode, também, desencadear o medo de fazer sexo.
Em ambos os casos, a experiência somente será plena se os amantes se desprenderem do controle e se permitirem a entrega de si mesmos ao amor, ao fazer sexo pelo prazer de amar e ser amado. Nunca pela exigência de ser o melhor ou a melhor na cama.
Ame seu corpo
Outro aspecto que pode frustrar o desempenho na cama é a insatisfação com o próprio corpo. Isso acontece quando a pessoa se fixa nos pensamentos de que não possui o corpo ideal, segundo os “padrões” estabelecidos socialmente, que são apenas idealizados e não reais. A não aceitação do corpo pode gerar experiências sexuais negativas, de corpos rígidos, que não se entregam às carícias mútuas e, assim, uma insegurança tamanha que se configura no medo de fazer sexo.
O encantamento no sexo existe justamente na intimidade, onde as formas desaparecem para que os corpos se plasmem numa festa de prazeres e fantasias. A verdadeira entrega humaniza a relação sexual e a coloca acima de qualquer padrão estético, pois se torna a própria beleza.
Inibições psicológicas e medo de fazer sexo
Mesmo não parecendo, em pleno século XXI, os controles institucionais – como família, religião, saúde, contratos sociais, etc. – ainda podem também ser considerados um fator repressor da sexualidade humana, e em alguns casos ainda é o principal motivo do medo de ser entregar na cama.
Quando não é bem administrada, a educação familiar desencadeia temores e receios para a atividade sexual. Afinal, a sexualidade adulta é profundamente influenciada pelas atitudes dos pais vivenciadas na infância. As crianças podem desenvolver tabus, vergonha e culpa por sentir desejo sexual, decorrentes da desinformação a respeito do sexo. Isso muitas vezes é reflexo de uma educação mais rígida, que impede o conhecimento do próprio corpo.
Não podemos esquecer as questões traumáticas que permeiam a sexualidade, como estupro; violência ou abuso sexual; e, primeira experiência sexual insatisfatória, com agressão ou altas expectativas não atingidas. Nesse caso, também é importante levar em consideração o medo de contágio pelas doenças sexualmente transmissíveis, como a AIDS.
Anomalias físicas também prejudicam o ato sexual
Certas anomalias bio-fisiológicas podem igualmente ser geradoras do medo de fazer sexo, tais como a ejaculação precoce e disfunção erétil, no caso do homem, e dispareunia (dor genital durante o ato sexual), vaginismo (a dor genital impede a penetração) e anorgasmia (ausência do orgasmo), no caso da mulher.
Há também os problemas de comportamento na relação, tais como a dificuldade de falar para o outro do que realmente gosta na cama, a insatisfação com o parceiro ou parceira, os maus-tratos dos parceiros e a falta de expressão do bem-querer e do afeto os relacionamentos de conveniência, o medo da gravidez, a falta de autoconfiança e/ou da confiança no parceiro ou parceira, e até mesmo o estresse decorrente dos papeis assumidos socialmente.
Qualquer um dos aspectos acima pode se tornar uma informação negativa armazenada em nossa memória mental, capaz de suscitar o medo de fazer sexo. Desde os tempos mais remotos, em todas as culturas, controles são exercidos sobre a sexualidade das pessoas e isto é extremamente individual, dependendo da história de vida de cada um de nós.
Entregue-se ao amor
O medo de fazer sexo pode esconder um medo maior de se deixar envolver numa relação amorosa, de entregar-se a uma experiência de realização mais profunda, pois isso poderia denotar a perda de “controle”, de uma falsa autossuficiência e da perda do “poder de si mesmo” no outro.
Nesse caso, é preciso reprogramar a mente para que o medo se dissolva e, assim, a pessoa tenha coragem de arriscar-se a viver além das barreiras, ora ostensivas, ora sutis que surgem em nossa saúde sexual. A coragem, que tem em sua raiz etimológica a palavra cuore (do latim, coração), pressupõe um investimento do coração na ação.
Uma escuta atenta do nosso coração pode nos impulsionar a viver mais integralmente a nossa sexualidade, permitindo-nos o exercício pleno da liberdade. Dessa forma conseguiremos aliar às nossas experiências do cotidiano a ação de fazer sexo como uma fonte de prazer e de realização emocional no encontro amoroso e da própria estruturação de nossa identidade.
Química, pedagoga, mestre em Educação, pós-graduada em Sexualidade e Psicologia, e orientadora sexual. Faz palestras e escreve artigos sobre educação, família e sexualidade.
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