É mais difícil fazer amigos depois dos 30?
Reflita porque algumas pessoas ficam mais seletivas com a maturidade
Aos que já se aproximam dos 30 anos e, mais ainda, aos que já passaram dessa idade, é fácil adivinhar a já conhecida constatação que os “verdadeiros amigos”, os “amigos do peito”, foram aqueles feitos nos anos de colégio e faculdade. Mas por que será que isso acontece? Ou melhor, por que algumas pessoas têm essa impressão?
Bem, primeiro vamos entender e chegar ao consenso do que significa amizade. Um dos significados da palavra amigo vem de animi (alma) e custos (custódia), um belíssimo sentido: o guardião da alma, aquele que guarda ou custodia a alma do outro. É uma responsabilidade altíssima, considerando que a nossa alma é o que nos sustenta. Já a partir dessa “ponta do iceberg” podemos deduzir uma primeira dica do porquê de nos tornarmos tão seletivos quanto a esse guardião com o passar dos anos.
O significado de uma amizade verdadeira
Aprofundando mais, lembremos que a amizade verdadeira, para o filósofo Nietzsche, compreende dois aspectos: a liberdade do espírito e a partilha da alegria. Ser livre de espírito é aceitar que o outro e você mesmo sejam quem realmente são. “Ser o que se é” demanda coragem, não é qualquer um que aceita a verdade do outro, ou que consegue ignorar as exigências sociais para vivenciar a sua verdade.
A cada encontro com um amigo surge uma nova possibilidade de transformação, única e inesquecível.
A cada encontro com um amigo surge uma nova possibilidade de transformação, única e inesquecível.
Na presença de um amigo podemos soltar o “cinto de segurança”, nossa alma sorri, falamos o que nos vem à cabeça e ao coração, agimos com naturalidade, nos mostramos mais e assim expandimos a nós mesmos. Mas, na vida adulta, estamos realmente abertos? Não estaremos demasiadamente confortáveis no nosso posto de “pessoa amadurecida”?
“Partilhar alegria” é compartilhar, num espaço comum, a satisfação de estar com o outro e consigo mesmo. Por isso, para sentir a amizade verdadeira é muito importante conhecer a si mesmo e respeitar a individualidade do outro. Só assim chega-se a suportar as diferenças e ficar feliz com as inúmeras possibilidades dessa relação. Talvez aí vejamos a segunda dica do porquê é difícil fazer novas amizades na vida adulta.
Maturidade combina com novos amigos?
Detenho-me agora nessa segunda dica. Como já é notório para muita gente, próximos dos 30 anos e mais amadurecidos, somos mais exigentes quanto a se abrir para uma nova amizade. Geralmente achamos que essa relação precisaria cumprir critérios demais, pois não estamos mais dispostos a passar por cima de certas “diferenças” tão óbvias daquilo que desejamos encontrar no outro, a nos arriscar a viver mais mudanças e muito menos expor nosso íntimo para alguém novo. O que queremos é estabilidade.
Além do que se passa dentro de nós, existem, é claro, as condições externas. Durante as primeiras duas décadas das nossas vidas, os amigos vinham até nós de maneira mais constante, dentro de três circunstâncias que vêm sendo listadas pelos sociólogos desde a década de 50: proximidade; interações repetidas e não planejadas; e um cenário que encoraja as pessoas a baixar sua guarda e confiar uns nos outros, é o que diz Rebecca Adams, professora de sociologia e gerontologia da University of North Carolina.
Como veem, além dos critérios de personalidade para estabelecer uma amizade, existem outros mais práticos: a pessoa mora perto de você ou é acessível? Dá trabalho encontrá-la num fim de semana ou numa hora de dor de cotovelo? O amigo tem o mesmo status de relacionamento e de trabalho que o seu? Possui família, filhos? Certamente não nos preocupávamos muito com essas questões durante a formação dos primeiros vínculos de amizade – como na escola e na faculdade – pois estávamos abertos a conhecer e experimentar tudo (ou quase tudo) que a vida nos oferecia.
Querem agora uma dica sobre como lidar da melhor maneira com essas circunstâncias? A amizade requer estar disponível para o encontro, sem precisar de uma disponibilidade incondicional. Mas, sim, é preciso um encontro livre, um encontro de respeito e, mais importante, ter necessidade da companhia do outro. No bom encontro, os aspectos criativos do ser se estruturam, dando mais vida a você mesmo. Abra-se para esta experiência, mesmo depois dos 30, mas também por toda a sua vida.
Psicóloga, Psicoterapeuta Junguiana, Mestre e Doutora nas áreas de Ciências da Literatura e Estudos de Mulheres, Gênero e Cultura. Atuação clínica voltada aos desafios contemporâneos do feminino, por um olhar que busca, nas imagens e símbolos, autenticidade e criatividade. Fundadora do site Psique Criativa, que aborda temas como relacionamento, sexualidade, vocação, sonhos e autoconhecimento.
Saiba mais sobre mim- Contato: mariprotazio@gmail.com
- Site: http://www.psiquecriativa.com