Se mudarmos nossa respiração, melhoramos nossa vida

Personare: Em suas palestras você fala muito sobre como gerenciar o estresse. Na sua opinião, o que significa este tipo de sentimento?

Rajshree Patel: O que nos deixa estresseados é a nossa própria mente, nossa própria percepção e nossos pontos de vista sobre a vida. Achamos que nos estresseamos com alguma situação, como o trânsito ou uma pessoa, mas na verdade o estresse é a nossa própria experiência, ele está em nossas mentes. Nem todos se estresseam com determinada situação, ou nem se estresseam igualmente. Você se estressea em alguns momentos, enquanto em outros sorri e às vezes nem percebe que passou por uma situação que seria estresseante. Portanto, estresse é uma experiência interna, um estado da mente.

Personare: Você diz que gerencia bem o seu tempo e o seu estresse. Pode explicar?

RP: Se quiser gerenciar seu tempo, terá que gerenciar sua mente. Quando não estamos felizes, com medo ou ansiedade, o tempo parece correr bem lentamente. Já quando estamos felizes, calmos e relaxados, o tempo parece voar, se move muito rapidamente.

Tem sido clara e repetidamente provado pela ciência que o sucesso resulta da felicidade. Não é o contrário.

o sucesso resulta da felicidade. Não é o contrário.

A felicidade não resulta do sucesso. O que fazemos para gerenciar o nosso tempo e a nossa mente? Tentamos cumprir uma lista de tarefas: “Quando eu terminar isso, serei feliz; quando realizar aquilo, serei feliz”. Dessa forma, levamos ainda mais tempo para alcançar nossos objetivos. O truque é ser feliz, centrado, claro e ter a coragem de passar pelas coisas que sabe que tem que fazer – e que quer fazer. Você lidará com o que vier, conforme se move para a ação. Com essa atitude interna, poderá gerenciar seu tempo e sua mente.

Você diz que se mudarmos nossa respiração, podemos mudar nossas vidas. Pode explicar como as pessoas podem aplicar isso nas suas rotinas, de forma prática?

RP: Isso é aplicável apenas na vida prática. Quanto mais coisas você tem que fazer e mais demandas tem, mais precisará descobrir como lidar com suas emoções e mentes. Ninguém nos ensina isso. Sabemos gerenciar todo tipo de coisa, mas não sabemos como gerenciar nossas próprias emoções, especialmente as negativas.

Sabemos gerenciar todo tipo de coisa, mas não sabemos como gerenciar nossas próprias emoções, especialmente as negativas.

Ficamos com raiva, frustrados, tristes, nos sentimos sozinhos ou isolados. Ninguém sabe o que fazer com isso.

Antes de realizar qualquer objetivo no externo, a mente deve antes descansar. Porque um pensamento, uma ideia ou um desejo surge primeiro. Apenas depois disso você executa e cria metas e direcionamentos no externo.

Como se certificar que sua mente está alegre, clara, positiva e centrada?

RP: Existe um grande segredo na respiração. Ela nos dá vida, pois sem ela estaríamos mortos. Não existe um botão que temos que apertar para respirar. Portanto, para gerenciarmos melhor nossas vidas, mentes e emoções, a forma mais rápida é tirar alguns dias para aprender sobre ela e ver o que pode fazer por você. Isso é para a vida prática.

Algumas pesquisas apontam que o Brasil já é o 2º país com maior nível de estresse do mundo. Como uma pessoa que viaja muito e conhece diversos povos, a que você atribui este dado alarmante?

RP: Há algo que precisamos entender sobre o estresse: quanto mais nossa atenção está no externo, mais estresseados ficamos. Não quero dizer que o resto do mundo, seja a Europa, América do Norte ou até outros países da América do Sul, não tenha estresse. Se não pararmos e continuarmos estimulando nossos sentidos cada vez mais, sem tirarmos um tempo para ficarmos quietos, mais exaurido ficará o nosso sistema. O quanto você consegue ver? O quanto você consegue tocar e degustar? Os sentidos cansam a mente e então ficamos estresseados. Se não comermos e dormirmos adequadamente, e não nos dermos não apenas o descanso físico, mas também os momentos necessários de descanso mental, ficaremos estresseados.

Não ajuda também quando se tem os desafios que o Brasil está enfrentando atualmente. A situação política foi abalada e nada está estável. É difícil para as pessoas dependerem e confiarem em suas lideranças. Quando há uma liderança da qual as pessoas não conseguem depender e confiar, então o estresse nacional aumenta. Isso está acontecendo no mundo todo, inclusive nos EUA e na Europa, em países como a França. No mundo inteiro, as pessoas que deveriam liderar e guiar as decisões de um país estão elas mesmas operando a partir de um lugar de estresse. Se você somar a isso a crise econômica e o sentimento de que não se sabe para onde estamos indo, sem objetivos nem inspiração, então naturalmente o estresse é experimentado um pouco mais.

Como a Meditação e a respiração ajudam a melhorar a vida? Pode dar dicas para alguém que nunca as experimentou?

RP: A melhor dica que posso lhe dar é entrar no site da Arte de Viver e se inscrever em um dos programas que eles oferecem. A respiração é algo tão pessoal, tão íntimo, e nunca olhamos para ela, apesar de estar bem debaixo de nossos narizes.

A coisa mais óbvia e básica a se fazer é inspirar profundamente e relaxar conforme expira.

A coisa mais óbvia e básica a se fazer é inspirar profundamente e relaxar conforme expira.

Essa é a coisa mais simples que posso lhe dizer, mas não será suficiente. Você vai achar isso banal e simples. É por isso que apenas ler sobre isso não é suficiente, você precisa praticar e sentir na própria pele.

Na sua opinião, o que é qualidade de vida nos dias de hoje? Quais são os valores essenciais para manter a felicidade?

RP: Se observar bem, a atenção de todos está do lado de fora. Andamos mandando mensagens no celular. Sentamos e comemos assistindo televisão, ou conversando com alguém no celular. Nossa atenção está constantemente no exterior. De alguma forma, não temos descanso. Nossa mente está espalhada por todos os cantos.

Talvez você se lembre de quando era um aluno e olhava para fora da janela da sala de aula, pensando sobre isso ou aquilo, incapaz de prestar atenção no professor. Nós facilmente olhamos para isso, hoje em dia, e dizemos: “essa criança tem déficit de atenção”. Na verdade, se olhar bem no mundo atual, todo mundo – sejam jovens ou velhos – tem algum déficit, que só está presente porque estamos totalmente dispersos.

A tecnologia é valiosa, útil e nos traz conforto, mas ela não traz necessariamente felicidade. O que nos faz felizes é uma conexão interpessoal. Conexão com o amor dentro de nós, com os outros, com a família, amigos, colegas, pessoas e ambientes a nossa volta. O que acontece atualmente é que as pessoas estão se tornando mais desconectadas e, ao mesmo tempo, cada vez mais conectadas através da tecnologia e presumindo que isso é uma conexão interpessoal. Só porque você posta uma foto no Facebook e 100 pessoas veem, não significa que houve uma conexão com elas. Isso é apenas um momento.

Só porque você posta uma foto no Facebook e 100 pessoas veem, não significa que houve uma conexão com elas. Isso é apenas um momento.

As emoções, sentimentos e engajamento humanos estão ausentes ao apenas olhar para uma foto. Habilidades básicas de compartilhar, cuidar e interpretar o que acontece enquanto se comunica desaparecem, e a única coisa que existe são textos ou fotos. Isso nos mantém informados e conectados, mas não mantém a humanidade da conexão.

O que precisamos fazer quando estamos perdidos no mundo externo da tecnologia é irmos profundamente no nosso interior, nos conectar conosco e voltar com maior conexão ao ambiente. Se de fato fizermos isso, seremos mais dinâmicos e proativos ao fazer a diferença para nossa comunidade, nosso ambiente e, talvez, até fazer a diferença ao exigir uma nova e melhor liderança e direcionamento dos políticos e do governo.