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Existe amor depois da separação

Conheça a história de Aline, do livro "Para que o amor aconteça"

Atualizado em

Não foi fácil para Aline, de 28 anos, ser feliz ao lado de quem ama. Ela achava que vivia uma história perfeita ao lado de Leo, quando vieram à tona mentiras e traições. Depois de idas e vindas, a autora da história “O amor não é nada do que me disseram” conta que resolveu fortalecer sua relação e rumou ao altar. Já casada, viu outros problemas ameaçarem minar o relacionamento. Na entrevista abaixo, ela revela como conseguiu resgatar a amizade com Leo depois de tantos términos e ainda analisa as principais dificuldades que encontrou ao tentar conciliar maternidade e casamento.

Personare: Você acha que a idealização do outro pode atrapalhar uma relação?

Aline Mendes: O que mais atrapalha as relações é a incapacidade de ver o outro como ele realmente é, e nos basearmos nas nossas fantasias sobre como o outro deveria ser. Os príncipes encantados não existem a longo prazo, mais cedo ou mais tarde as máscaras caem, e quanto menos você tiver idealizado o parceiro, mais fácil vai ser encarar a realidade (e vice-versa).

Como você conseguiu resgatar a amizade depois de tantos términos?

AM – Através do não julgamento e da aceitação incondicional. Quando o outro percebe que estamos ali só pelo bem-estar e pelo bem-querer, reconhece o tesouro que há por trás de uma relação verdadeira, ainda mais nos dias de hoje, onde o egoísmo e a competição predominam em quase todas as áreas da nossa vida. Me livrar das mágoas e ressentimentos, e focar no que ainda tínhamos em comum foi essencial para seguir em frente. Mas da boca para fora não serve. Isso foi um propósito a ser vivido, por meio das mínimas coisas do dia a dia.

O que você faria de diferente na sua história com o Leo? Na sua opinião, o amor vence qualquer obstáculo?

AM – Eu não teria traído, não teria guardado mágoas, não teria dito coisas nem tomado atitudes sem pensar… Queria ter tido mais maturidade para sofrer e tê-lo feito sofrer menos. Queria ter tido mais tranquilidade e autossuficiência emocional para não culpá-lo tanto e não continuar enganando a mim mesma sobre a minha imaturidade no amor. Sim, o verdadeiro amor vence todo obstáculo. Mas é o amor que nasce dentro da gente e aquele que damos para o outro. Se esperarmos o amor do outro para salvar a relação, ela não tem mais salvação. A capacidade de amar supera tudo, mas a carência pelo amor alheio estraga qualquer relação.

Você acha que quando amamos verdadeiramente uma pessoa, este sentimento nunca morre?

AM – Eu acho que o verdadeiro amor nunca morre mesmo, acho que ele se transforma. Quando ele passa de paixão arrebatadora para um amor mais “morno”, muita gente acha que o amor morreu. Ele não morreu, ele apenas se transformou, ficou mais maduro para aguentar os novos obstáculos da vida a dois. Muita gente não gosta desse tipo de amor, e acredita que o sentimento se foi. Essas pessoas só gostam do amor ardente e apaixonado. Eu sofri muito quando perdi esse tipo de amor, mas hoje eu sei que ele existe de um jeito diferente, mais tranquilo e contido, mais estável e discreto. Eu acolhi esse amor da forma como ele se mostrou, sofri, mas resolvi aceitá-lo, e hoje eu sinto que se o amor não fosse presente na minha vida a dois, não teríamos tanto respeito, carinho, apoio e ajuda na correria que se tornou a vida adulta. Posso não ter mais tanto sexo e jantares românticos como outrora, mas tenho uma cumplicidade e um apoio que seria loucura minha acreditar que isso não é amor.

Quais as principais dificuldades você encontrou ao tentar conciliar maternidade e casamento?

AM – Separar o papel de mãe do papel de mulher é muito difícil mesmo, por que o bebê nos suga tanta energia, tempo e dedicação, que a mulher que temos dentro de nós dá uma sumida. Eu sofri muito até entender que a vida sexual e emocional do casal andava ruim porque eu só estava me dedicando ao bebê. Aí tive que dar uma repensada e comecei a agir diferente: resgatei minha vaidade, as surpresinhas íntimas, os joguinhos de sedução, ou seja, fui ressuscitando a mulher que havia dentro de mim. Isso foi bom porque eu percebi que o Leo, aos poucos, voltou a ter um pouco mais de interesse. Da parte dele, depois de conversar, entendi que a pressão de criar um filho, sustentar uma família e se dedicar à carreira também minaram um pouco o desejo. Na verdade, fizemos um pacto de paciência e aceitação um com o outro, por entendermos que não era mais uma questão de se descobrir, divertir e aproveitar a vida (como no começo de quase toda relação). Agora a coisa era mais séria e precisávamos dedicar mais tempo, energia e dedicação para outras coisas na vida. Então, se por acaso alguém se mostrasse indisposto para o sexo, o jeito era respirar fundo e ir assistir TV. À medida que o bebê foi crescendo e o Leo foi solidificando sua carreira, as coisas melhoraram. Tudo é uma questão de paciência.

É comum, quando a gente vive uma situação difícil, ter dificuldades para falar sobre aquela situação. Isso também acontecia com você? Explique melhor.

AM – Eu nunca tive esse problema. Acho que por ser psicóloga e estar sempre lidando com as mazelas do ser humano, sempre achei natural falar sobre minhas dificuldades, defeitos, carências e erros. Mas o Leo é o contrário de mim, ele é incapaz de se abrir espontaneamente. Na verdade meu jeito aberto o assustava e o jeito contido dele me irritava. Ele podia sofrer meses sozinho, sem eu nem desconfiar que estava acontecendo isso. Até hoje ele espera a situação chegar no limite para conseguir se abrir. A impressão que eu tenho, é que se eu fosse contida como ele, e a gente nunca conversasse sobre nossas dificuldades, muitos problemas teriam crescido e culminado no fim da relação. Ou que se ele fosse tão aberto quanto eu, nós teríamos discutido por qualquer assunto e qualquer coisa poderia ter levado à separação também.

Como sei da dificuldade do Leo, eu o ajudo a se abrir, sendo amigável e cuidadosa. Como ele também me conhece, quando começo a falar demais, ele me dá um chega para lá, educadamente, mas deixando bem claro que não vai entrar nessa discussão. Mas quando estamos nos nossos limites, respeitamos o momento do outro.

Você acha que compartilhar sua história no Fórum a ajudou a entender melhor ou até superar os momentos difíceis que viveu? Fale sobre os benefícios que o Fórum trouxe.

AM – O Personare em si foi valioso na construção da minha relação. Eu não tinha muitas expectativas em relação ao Fórum, para falar a verdade eu apenas queria fazer uma homenagem ao Leo, pois estávamos completando 10 anos de relacionamento na época. Mas ao começar a ler outros depoimentos e receber comentários na minha história, fui percebendo como estava sendo rico participar. Aprendi e me emocionei com outras histórias, me identifiquei, tive empatia por muitas pessoas ali. Mas o mais lindo foi ver quantas pessoas estava sempre ali, comentando (a minha e todas as outras histórias), incentivando, apoiando e consolando umas às outras. Quanta gente ama e quanta gente acredita no amor. Isso dá uma força e uma alegria que vocês nem imaginam. A gente percebe que acreditar no amor não é tão raro quanto imaginamos. Tem muita gente ali com muito amor no coração. Bonito demais.

Psicólogos acreditam que escrever ajuda as pessoas a se conhecerem melhor. Quais descobertas valiosas sobre si mesma a escrita proporcionou?

AM – Descobri que sou mais perseverante do que imaginava, mais amorosa do que acreditava, mais segura do que supunha, mais vitoriosa do que nos meus sonhos mais lindos. Obrigada a todos, foi uma experiência inesquecível.

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