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Gêmeos e o domínio da palavra

Chico Buarque e Fernando Pessoa exemplificam qualidades geminianas

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Chico Buarque de Holanda é tão, mas tão geminiano, que seu mapa astral poderia ser utilizado como exemplo numa aula de Astrologia sobre o terceiro signo do Zodiaco. Nascido no dia 19 de junho de 1944, às 11h35m, no Rio de Janeiro, Chico tem seis astros no signo de Gêmeos: Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Saturno e Urano. Com esta “overdose” geminiana, temos o que chamamos de “caso típico”.

Por conta do Ascendente em Virgem, Chico pode até não parecer tão geminiano à primeira vista, pois como o Ascendente representa a “capa do livro”, ele parece mais tímido do que em verdade é. E, de fato, à primeira vista Chico Buarque é um homem tímido, profundamente autocrítico, alguém que prefere a discrição às luzes da ribalta – coisas bem virginianas. Mas nada disso anula a enorme ênfase geminiana em seu mapa astral, apenas concede um tempero diferente.

Uma das maiores particularidades do signo de Gêmeos consiste no domínio do uso da palavra, seja ela falada ou escrita. Além de músico exímio, conhecido por elaborar canções cujas letras são carregadas de questionamentos políticos, Chico Buarque é também um grande escritor, tendo sido agraciado com o prêmio Jabuti por conta de seu livro “Budapeste”.

Nada disso é uma surpresa, quando conhecemos o mapa astrológico de Chico. Pessoas com ênfase no signo de Gêmeos, afinal de contas, costumam dominar com esmero a arte de escrever. Autor de várias canções de sucesso e também um grande adaptador musical das obras alheias (musicou “Os Saltimbancos” e “Morte e Vida Severina”, por exemplo), Chico tem também poderosa veia política.

Socialista assumido, voltado para a problemática das diferenças de classes, este músico canaliza a forte qualidade contestadora concedida pelas conjunções Mercúrio-Urano e Lua-Urano e demonstra não aceitar as estruturas da ordem vigente. Chico, pelo visto, não produz a arte pela arte, mas se vale dela como um instrumento de transformação política.

O conhecido sucesso com as mulheres é explicado pela conjunção entre a Lua e Vênus no alto do céu no momento de seu nascimento. Esta conjunção explica também a forte inclinação para exprimir o “eu feminino” em diversas de suas composições, tais quais “Com Açúcar e com Afeto”, que ele escreveu para Nara Leão. Para Maria Bethânia, Chico escreveu “Teresinha” e “Olhos nos Olhos”. E Chico não parou ai, escrevendo diversas outras canções para mulheres variadas, sempre exaltando as particularidades da energia feminina, bem de acordo com sua conjunção lunar-venusiana no signo de Gêmeos.

Fernando Pessoa é outro geminiano que ilustra bem o domínio sobre as palavras tão característico deste signo de Ar e regência mercurial. Com o Sol, Vênus, Netuno e Plutão no terceiro signo do Zodíaco, Pessoa foi a expressão consciente das divisões e contrastes que tanto caracterizam Gêmeos. Como o próprio nome do signo diz, trata-se de um tipo duplo, dividido, “dois em um”. Gêmeos se encontra em suas contradições e se afirma a partir da multiplicidade. Todo geminiano típico é meio que duas ou três pessoas ao mesmo tempo. Às vezes até mais! Acontece que Fernando Pessoa viveu isso literalmente, criando três heterônimos: Alvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis. Cada um destes personagens não apenas apresenta personalidades completamente distintas e uma biografia ficcional, como também possui mapas astrais diferentes, criados pelo próprio Fernando Pessoa (ele mesmo um grande estudioso da Astrologia e do Ocultismo em geral).

O primeiro dos heterônimos de Pessoa, chamado “Alvaro de Campos”, representa o aspecto do estranhamento do terceiro signo. Vendo-se como um eterno estrangeiro em qualquer lugar do mundo em que se encontre, está e ao mesmo tempo não está nos lugares, manifestando sempre certo estranhamento em relação à vida. Alvaro de Campos também representa bem o Ascendente em Escorpião de Pessoa: após uma série de decepções pessoais, assume uma postura realista e até mesmo pessimista diante da vida.

Já Ricardo Reis ilustra a herança clássica da civilização ocidental, uma personalidade que valoriza a disciplina e os valores tradicionais. Expressa também o Ascendente escorpiano de Fernando Pessoa através da uma constante preocupação com o tema da morte.

Alberto Caeiro, por sua vez, é o personagem criado por Pessoa que mais repudia a metafísica e valoriza as coisas simples da existência material. Dentre todos os personagens, Caeiro é o que apresenta uma linguagem mais direta, simples e crítica.

Foi através da divisão de si mesmo em três que Fernando Pessoa se imortalizou, vivendo assim a expressão máxima da multiplicidade geminiana. Ao invés de buscar por um “centro verdadeiro”, Pessoa se deu conta da mais marcante verdade do terceiro signo do Zodíaco: ser humano é ser contraditório. E isso não é um “problema”, pelo contrário, é a oportunidade de não sermos escravos nem de nós mesmos. E é esta uma das grandes lições dadas por Gêmeos, o signo que é “muitos em um”, capaz de viver várias vidas numa só.

Imagens: Divulgação.

Alexey Dodsworth

Alexey Dodsworth

Astrólogo e autor de análises de Astrologia, Tarot e Runas do Personare. Sua afinidade com temas esotéricos se alinha com sua defesa à liberdade de saberes, sejam eles científicos ou não.

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