2025

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  • Genialidade e arrogância

    A Rede Social nos faz refletir sobre solidão num mundo superconectado

    Atualizado em

    Só pelo título já se vê que “A Rede Social” não veio para passar em branco. O artigo definido do início anuncia que o filme aborda o Facebook com uma certa dose de ousadia, considerando-o num patamar diferenciado das outras redes sociais. Senhoras e senhores, o Facebook é “a” rede social.

    Originalmente “The Facebook”, a rede foi criada em um ambiente de clubes universitários, ou melhor, de clubes da renomada e elitista universidade norte-americana de Harvard. As sementes dessa fabulosa ferramenta apresentaram-se logo nos primeiros diálogos do filme, em que os espectadores estabelecem uma relação de exaustão e raiva com o protagonista, o garoto Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg). Após um longo desfile verborrágico sobre clubes de Harvard e um consequente “fora” de sua namorada, o gênio afoga suas mágoas criando um site de comparação de mulheres. Mas não quaisquer mulheres: as meninas de Harvard. Vingança e sucessos garantidos. O cenário estava montado.

    Em pouco tempo, Mark articula-se com a certeira visão de que uma rede de conexões entre pessoas só pode ser estabelecida a partir de um dado objetivo: ver e ser visto, conhecer e ser conhecido. Eis uma necessidade vital: a de pertencimento, de ser visto e reconhecido dentro de um grupo.

    Eis uma necessidade vital: a de pertencimento, de ser visto e reconhecido dentro de um grupo.

    Ligado muito mais à identidade do que ao status, esse impulso de pertencer a um clã pode ser compreendido como um forte componente da afirmação da noção de eu. Afinal, somos alguém dentro de um contexto, somos alguém quando ocupamos um papel em uma história. Deslocados daquele cenário, nossa identidade se dissolve.

    Só como curiosidade, já que estamos falando em conexões, outra famosa rede social, o Orkut, foi criada no mesmo ano do Facebook, 2004. Havia algo no ar que somente os gênios, como Mark, captaram naquele momento.

    O filme traz algumas imagens com sobrecarga de ruídos, festas, pouca iluminação, criando um clima de excesso de informações, como o mundo interno dos hackers e nerds, plugados.

    Grande parte das cenas ocorre em um júri particular. Nosso anti-herói responde a mais de um processo, entre eles por roubo de propriedade intelectual. O difícil é prever qual é a semente de uma criação. Afinal, algo no mundo ainda é criado ou tudo é transformado, estando o mérito no ato de recriação?

    No filme, Mark só pensa em ampliar sua magnífica rede, subvalorizando os esforços de seu amigo e sócio, isola-se em seu mundo idealista e egocêntrico. “A Rede Social” é, na verdade, uma história da solidão de um mundo superconectado.

    Imagem: Divulgação

    Clarissa De Franco

    Clarissa De Franco

    Clarissa De Franco é psicóloga, com Doutorado em Ciência das religiões e Pós-Doutorado em Estudos de Gênero. Atua com Direitos Humanos, Gênero e Religião, além de ser terapeuta, taróloga, astróloga e analista de sonhos.

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