Medicina tradicional e terapias alternativas: complementares ou conflitantes?
Corpo e mente trabalham juntos, as emoções dão a tônica do bem estar geral. Ciência e terapias holísticas podem caminhar de mãos dadas.
Por Celia Lima
Com tantas alternativas de busca pelo bem estar físico e emocional, muitas pessoas acabam ficando confusas, por vezes acreditando que podem dispensar o uso de remédios porque estão fazendo meditação, ou que os remédios bastam e que a porção psicológica, emocional e espiritual podem ficar de lado.
Desenvolver a crença de que a mente comanda o corpo por completo ou, ao contrário, que os remédios são milagrosos e independem do estado de ânimo do paciente para que façam efeito, são ambas posições radicais, tanto quanto é radical imaginar que apenas rezando pode-se obter a cura de um câncer ou outra doença que sabidamente exige tratamento medicamentoso.
Muitas pessoas ainda têm dúvidas a respeito da opção que devem fazer: consulto um médico ou consulto um terapeuta holístico? Um pneumologista ou um xamã? Aos quem têm dúvidas do que devem fazer, convido a uma breve reflexão: se eu fico triste porque estou gripado, tenho dois problemas: a gripe e a tristeza que faz parte de um contexto emocional.
A gripe traz um grande desconforto físico e se eu não souber lidar emocionalmente com o fato de estar doente, minha tristeza vai se aprofundar, muitas vezes retardando a recuperação. Por que não posso optar pelos medicamentos que vão me aliviar fisicamente e ao mesmo tempo lançar mão de alguma ferramenta que possa me trazer calma, aceitação e vigor emocional para enfrentar a doença física?
Ter dúvidas é ainda melhor que ter certezas nessa questão porque existem pessoas que simplesmente negam a necessidade do uso de medicamentos alopáticos, retardando a cura ou aprofundando a doença, e outras que negam ajudas mais sutis que podem preparar o campo das emoções e acelerar a retomada da saúde como um todo.
Mas é possível misturar estações? Na verdade, não é possível “fatiar” um indivíduo, como se cada fatia representasse isoladamente as tantas demandas da vida. Quando adoecemos, é o todo que adoece, não apenas uma parte. O estado do corpo interfere nas emoções e as emoções determinam várias disfunções orgânicas.
Medicina tradicional e terapias alternativas podem se mesclar, afinal?
Convencionou-se chamar de “medicina tradicional” a que conhecemos hoje, dos hospitais, laboratórios e medicamentos e as terapias alternativas as que privilegiam componentes naturais nas “medicações” e o que conhecemos como medicina vibracional. Apenas para uma compreensão mais superficial do tema, vamos tomar essas definições acima como premissa.
Não somos apenas corpo e sua engenharia, somos também emoções e a psicossomática nos mostra o quanto nossas emoções interferem no funcionamento da “máquina” corpo.
A importância da medicina tradicional
A ciência evolui constantemente e hoje podemos, através da evolução dos equipamentos médicos e da informática, enxergar por dentro do corpo com exames de ultrassom, tomografia, ressonância magnética, apenas para citar os mais populares e que possibilitam uma série de diagnósticos por imagem.
Ao lado das imagens temos os exames de laboratório: com uma pequena quantidade de sangue, temos uma infinidade de informações sobre o funcionamento do corpo e possíveis disfunções, abrindo um vasto campo para os mais diversos tipos de tratamento.
A produção de remédios como antibióticos, anti-inflamatórios, antidepressivos, analgésicos poderosos é constantemente alvo de estudos profundos com o objetivo de curar, amenizar a dor e promover qualidade de vida aos doentes, independentemente do fato de gostarmos ou não desse tipo de terapêutica. Essa medicina tradicional visa a cura do corpo no menor espaço de tempo possível, tentando devolver ao paciente suas plenas funções.
O que são as terapias alternativas?
As terapias alternativas são, na verdade, o resgate dos primórdios da medicina, quando não havia tecnologia suficiente que oferecesse a precisão de um diagnóstico e medicamentos tão potentes quanto um comprimido que cessasse a dor quase que de imediato.
Antigamente os “médicos” eram curandeiros que aplacavam o sofrimento através de rezas e ervas. Era a experimentação ou o “acaso” que determinava que um chá de erva-doce aliviava a dor de barriga ou que a maceração de algumas plantas ajudavam na cicatrização de um ferimento.
É preciso olhar de uma perspectiva histórica para compreender o avanço da cura e o interesse pelo conhecimento do corpo e das doenças e Hipócrates, conhecido como o “pai da medicina”, foi quem sugeriu a necessidade de uma maior objetividade no trato da matéria, deixando de lado análises subjetivas para que se colocasse foco no problema físico do paciente.
Hoje temos tudo ao nosso alcance: a ciência norteando os avanços tecnológicos para promover o bem estar físico e, consequentemente psicológicos e emocionais do paciente, e as terapias alternativas que entendem que o conforto emocional e psicológico colabora para a recuperação do corpo e até mesmo pretende evitar que a doença se materialize no corpo quanto mais trabalharmos conscientemente nossas dificuldades emocionais.
Como? São inúmeras as ofertas, muitas passam por técnicas vibracionais como reiki, mesas radiônicas, aromaterapia, florais, cromoterapia e muitas outras que promovem o equilíbrio físico e emocional, mental e espiritual do indivíduo. A acupuntura, a medicina tradicional chinesa, Ayurveda e outras são também classificadas como terapias integrativas.
O SUS passou a integrar 29 tipos de terapias alternativas à população, entre elas a terapia floral, apiterapia, constelação familiar e yoga.
A medicina tradicional e terapias alternativas são conflitantes?
É claro que não podemos simplesmente negar a necessidade do uso de antibióticos diante de uma infecção, sob pena de levar o paciente até mesmo a uma sepse, representando um alto risco à sua saúde e sua vida.
Seria uma grande irresponsabilidade não reconhecer, por exemplo, a necessidade de uma consulta urgente a um psiquiatra num paciente com ideias suicidas ou com uma clara depressão profunda, acreditando que só com reiki ou com florais a pessoa será capaz de superar suas dificuldades.
Mas tudo o que puder colaborar para o equilíbrio da pessoa como um todo, pode e deve ser utilizado. Diante de uma doença longa que exija paciência e uma boa dose de resignação para que as etapas sejam vencidas, os florais podem ter um papel fundamental, resgatando a coragem e o humor para o enfrentamento da doença, evitando muitas vezes que o paciente esmoreça e se entregue, dificultando o processo de cura. A aromaterapia pode acionar o centro do vigor, da calma, emprestando um fôlego emocional importante para a recuperação.
Essas terapias são antes complementares, jamais conflitantes. E em doenças que não demandem uma intervenção direta no corpo, as terapias alternativas oferecem um grande potencial de caminho para a cura física, como no caso de algumas alergias, estados leves de depressão e ansiedade, constipação recorrente, dificuldade para dormir, problemas dermatológicos, etc, porque tratam diretamente as emoções que desencadeiam os problemas físicos.
Portanto, podemos dizer que são complementares. As terapias alternativas dão suporte emocional à cura física trabalhando principalmente na prevenção do surgimento de doenças e amenizando os desconfortos emocionais da doença e a medicina Tradicional se beneficia do bom estado de equilíbrio emocional do paciente para alcançar seus efeitos plenos.
Jamais devemos ignorar a ciência e seus avanços. É graças a ela que temos hoje vacinas e medicamentos que promovem o bem estar e a longevidade dos humanos. Os métodos de diagnósticos estão cada vez mais sofisticados e desenvolvidos, dando chance de descobrirmos e tratarmos o quanto antes da nossa saúde.
Por outro lado, é inútil negar que o bem estar mental, emocional e espiritual têm um efeito direto na recuperação física dos pacientes, o que coloca as terapias alternativas num grau de importância nada desprezível quando o assunto é cura como um todo. Cada um deve buscar o método terapêutico com o qual mais se identifica e que lhe traz mais conforto e resultados.
Psicoterapeuta holística com abordagem junguiana há mais de 30 anos e pós graduanda em Psicologia da Saúde e Hospitalar pela PUC-PR. Utiliza os florais, entre outras ferramentas como método de apoio ao processo terapêutico, como vivências xamânicas, buscando um pilar metafísico para uma compreensão mais ampla da vida, da saúde física e emocional.
Saiba mais sobre mim- Contato: celiacalima@gmail.com