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Meditação pode ser um processo natural

Aprenda a incorporar essa prática na sua rotina

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Imagine que todos os dias realizamos atividades rotineiras, sem muito esforço, pelo simples fato de ser algo natural ou necessário. Atividades corriqueiras como escovar os dentes, tomar banho, pentear os cabelos, fazer as refeições do dia, fazer compras, ligar para os amigos, fechar negócios. A lista não tem fim…

Agora imagine introduzir nesta rotina diária uma prática meditativa que passe a fazer parte de suas atividades, assim como o ato de beber um copo d’água ou responder um e-mail. Evidente que de início não será algo simples. Abrir um momento em sua agenda e parar para respirar, observar os pensamentos, organizar as emoções, planejar onde colocará sua energia ao longo do dia não será fácil – apesar de ser fundamental. Mas garanto que em poucas semanas, se mantiver uma rotina, a Meditação passará a fazer parte de sua vida, assim como o ato de dormir, se alimentar e se divertir.

Seja natural, seja você mesmo

Mas para mudar hábitos é preciso vontade. E a vontade é o fruto de uma experiência vivida. Vivenciar uma experiência é estar aberto ao simples e natural que a vida dispõe a cada instante para nós. Ser simples significa ser natural e leve com a vida, e meditar é o que há de mais simples em nossa rotina, acredite. É simples por nos dar simplicidade para ver e viver a vida. É natural por ser um estado intrínseco da naturalidade de nosso ser. Experimente.

Entretanto, para meditar, temos que descomplicar nosso olhar, recondicionar nossos hábitos e desconstruir alguns conceitos. Em outras palavras, precisamos abrir uma lacuna na ansiedade da mente. Ou seja, é preciso observar o fluxo mental enquanto ele transcorre, sem julgamentos, sem restrições ou designações.

Se fizermos uma comparação, meditar é como estar sentado sem estresse na beira de um rio e simplesmente observar, sem ansiedade, como ele flui, como ele vive seu tempo. A dificuldade surge ao darmos importância às folhas e aos galhos que o rio transporta, que fazem com que a gente se esqueça do rio. Eis o paradoxo: enquanto houver esforço, não haverá Meditação. Afinal, a lógica do esforço nunca abolirá o próprio esforço – ele é um mecanismo da mente.

A lógica do rio

A mente tem seu mecanismo de criar esforços. Olhamos para o rio, mas nos detemos nas folhas e galhos, nos objetos que o rio arrasta. A mente cria o esforço que arrasta nosso foco, nossa concentração. Esta não é nossa natureza, mas a natureza da mente. No entanto, não podemos nos limitar aos objetos que fluem junto com o rio: eles estão lá, fazem parte do rio, mas não são o rio. A mesma coisa acontece com nossos pensamentos.

Isto significa que teremos desafios no início da Meditação. Precisamos nos ver de modo simples e natural, pois todos os condicionamentos, hábitos e paradigmas que trazemos são, na verdade, os objetos arrastados pelo rio e não o observador do rio. Quando pensamos que somos o rio, nos identificamos com tudo que está dentro do rio e criamos esforços para sairmos dele (devido às frustrações e decepções que o rio trouxe e acatamos como nossas). Mas somos apenas o observador, não o rio. E meditar é simplesmente adotar a postura de ser o observador.

Meditar pode ser tão natural quanto tomar banho

Nesta analogia, devemos entender que a Meditação é uma ação simples, que não requer esforço, apenas direcionamento e concentração. Devido às complexidades da vida moderna, perdemos o contato com o que somos, com a simplicidade de sermos e vivermos com naturalidade. E quando meditamos voltamos ao estado natural de consciência que constitui nosso ser, desenvolvendo a naturalidade do olhar e do ouvir.

Isto não requer uma mudança tão significativa. Assim como você se banha, se veste e se alimenta diariamente, você também pode começar a meditar. Afinal, desenvolver algo que já está em você é mais fácil do que incorporar algo que venha de fora. E o estado meditativo já é nosso – uma vida de ansiedade, de preocupações e de inseguranças é que não faz parte de nosso ser, isso foi somente incorporado em nosso estilo de vida.

Tire quinze minutos do seu dia, pare, relaxe, respire profundo e se observe internamente. Perceba seus sentimentos, emoções, pensamentos, desejos e percepções. Perceba seu fluxo mental, seu fluxo de consciência. Perceba-se no mundo, em sua realidade e veja tudo isto como um grande fluxo do rio existencial do qual você faz parte, mas que preserva sua individualidade de observador consciente.

Estado de consciência natural

O “Yoga-sutra”, obra escrita pelo sábio Patañjali, expõe que quando a mente reduz seu estado de agitação, através da prática de Yoga ou Meditação, o ser se estabelece em sua natureza real de observador dos fenômenos da realidade, sem que eles interfiram em sua natureza intrínseca. O mesmo é apresentado no Bhagavad-gita, importante tratado filosófico que aborda a ciência do autoconhecimento transcendental. Nele é explicado que o corpo e a consciência são dois aspectos do mesmo ser, mas que este não se identifica com os objetos do rio. Isto nos leva a entender que a Meditação é algo mais do que necessário para quem vive sob constante influência do meio, exposto a todo tipo de interferência energética, psicológica e social.

O estado de consciência natural do ser é de integração e unidade. E isso difere de toda fragmentação que a personalidade do homem moderno adquiriu. Esta reintegração do ser em sua simples natureza é o objetivo da Meditação.

Simplifique-se para meditar

Alguns procedimentos podem ajudar no momento de meditar. Por exemplo, manter um estado mental introvertido, buscando olhar para dentro de si mesmo; procurar focar os pensamentos presentes até que eles se dissipem, sem alimentar novos pensamentos; cultivar pensamentos desejáveis; e observar os pensamentos e a mente como sendo um mesmo objeto.

Os pensamentos são decorrentes do conteúdo que absorvemos com a percepção. Por isto, devemos buscar absorver impressões, sensações e emoções positivas antes da prática. Por outro lado, os pensamentos podem servir de objeto de concentração, e esta é a preliminar do processo de meditar. Sem concentração dificilmente se alcança uma experiência profunda ou transformadora com a Meditação.

Também podemos usar alguns elementos que facilitam a prática meditativa. São os seguintes:

  1. Praticar a mesma técnica meditativa diariamente, preferindo o horário da manhã e ou da noite, durante pelo menos 15 minutos.
  2. Use um tapete ou apoio confortável para meditar.
  3. Procure praticar em um local livre de movimentos de pessoas ou barulhos, um local que não tenha móveis que atrapalhe sua permanência.
  4. Evite deixar incensos, chamas ou qualquer outro elemento que possa causar algum tipo de acidente ou tirar sua concentração.
  5. Pratique por alguns minutos uma técnica de respiração (pranayama).
  6. A Meditação não pode ser finalizada abruptamente. Desligue o celular e qualquer outro objeto que possa perturbar sua concentração enquanto medita.
  7. Use um diário com notas sobre sua prática diária, incluindo suas experiências, insights e pensamentos decorrentes de sua Meditação.
  8. Quando possível, siga orientações diretas de um mestre ou guru.
  9. Ao final de todas as práticas, permaneça por alguns minutos sentado em silêncio e de olhos fechados. Depois, entoe um mantra específico que possa ajudar em sua absorção da prática.

Unindo estas dicas com o que descrevemos acima, comece a praticar a Meditação de auto-observação. Em pouco tempo terá a Meditação como algo natural em sua rotina diária. Boa prática!

Para continuar refletindo sobre o tema

Saiba mais sobre o Bhagavad-gita (site em inglês), importante tratado filosófico que aborda a ciência do autoconhecimento transcendental.

Jayadvaita Das

Jayadvaita Das

Especializou-se em pranayamas, Meditação e Filosofia Vedanta. Escritor, educador e ensaísta. Ministra estudos, cursos, workshops e vivências relacionadas ao Yoga e Espiritualidade.

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