Meu amor me traiu, e agora?
Filme "Onde está a felicidade?" levanta debate sobre o tema
O caminho é a felicidade ou a felicidade é o caminho? Essa é a frase que dá início ao filme brasileiro “Onde está a felicidade?” (2011). A história é leve e com alguns clichês, mas levanta um debate importante sobre a traição.
Gosto de filmes que retratam conflitos de casais, pois costumam refletir bem a realidade da vida a dois (tirando os finais sempre felizes, é claro). No filme, Teodora, interpretada por Bruna Lombardi, sente-se traída pelo marido Nando (Bruno Garcia), após ver uma mulher o seduzindo pela webcam do computador. O homem diz à esposa que nunca encontrou sua parceira virtual e que, portanto, aquilo não poderia ser considerado uma traição. Então, chegamos a um assunto corriqueiro atualmente, a infidelidade virtual.
A interpretação de Nando é pessoal e intransferível. Afinal, só quem vivencia essa experiência pode afirmar se houve infidelidade. Mas em uma situação como essa eu prefiro olhar para o todo. O filme não aprofunda o assunto, mas seria interessante entender os motivos que levaram Nando a conhecer a mulher virtual. O que ocorria no casamento e o que deixava de acontecer? Aparentemente, os personagens, casados há 11 anos, eram apenas diferentes em alguns comportamentos do dia a dia, assim como outros diversos casais. Ele ama futebol, ela gosta de cozinhar. Ele é bagunceiro e ela extremamente organizada. Mas essas diferenças não são suficientes para levar à traição.
É possível perdoar uma traição?
Penso que a infidelidade é derivada de uma crise conjugal. E como qualquer crise, pode ou não ser superada. Isso depende da maturidade do casal e do relacionamento existente entre eles. Mas passar por uma crise requer mudança de ambos os lados. Infelizmente é comum que a pessoa que se sente vitimada (geralmente quem é traído) não esteja disposta a aceitar a sua responsabilidade na traição. Mas não há vitimas e algozes em relações amorosas. Ambos contribuem para a evolução do relacionamento. Algumas vezes a “vítima” não tem a consciência de que algum comportamento seu pode ter influenciado a atitude de seu suposto “algoz”. Mas o casal alimenta os papéis um do outro todo o tempo e, em alguns casos, por toda vida.
O que fazer então? Um bom terapeuta de casal pode resolver. Mas se o casal conseguir retomar o diálogo e esclarecer os pontos obscuros da relação, já é um ótimo começo. O problema é que na maioria das vezes as pessoas apenas pensam que resolveram a situação, mas a cada nova discussão ou crise no relacionamento (porque elas irão ocorrer) o tal assunto volta à tona.
Aprendendo a regar sua relação
Certa vez tive o privilégio de assistir uma palestra com o Carlos Arturo Molina, escritor na área de Psicologia Familiar e de Casal, na qual ele mencionou este assunto. Achei brilhante uma tarefa que ele deu a um casal que passava por tal situação. O especialista disse que ambos teriam que enterrar aquele assunto de uma vez por todas. E como procuraram a terapia, é porque estavam mesmo decididos a melhorar a relação. O casal aceitou a proposta e tiveram que fazer um acordo por escrito, afirmando que qualquer crise conjugal, dali por diante, deveria ser resolvida no prazo de um ano. O mesmo problema não poderia nunca estar presente em novas discussões no futuro, sob pena de pagamento de alguma multa simbólica estabelecida por ambos. Assim, o casal pode escolher que a felicidade de um não dependeria do outro, mas sim do esforço de cada um estar presente no relacionamento, construindo com respeito, amor e diálogo uma relação madura e preparada para enfrentar as crises.
Termino com uma frase do personagem Nando, citada no final do filme: “o amor é como a caatinga: quando tudo parece estar seco e morrendo, de repente vem a chuva e tudo floresce novamente”. Casais que ainda acreditam em seu relacionamento precisam aprender a fazer chover!
É psicóloga sistêmica. Atua com traumas pela abordagem Somatic Experience® além de abordar outras questões de relações interpessoais, autoestima e postura diante da vida. Atende online e presencialmente na cidade de Belo Horizonte.
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