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O que há dentro da sua caixa de Pandora?

Mito simboliza sentimentos e emoções trancados dentro de nós

Atualizado em

Sou muito encantada pela mitologia. Um mito não é uma mentira, é um simbolismo complexo da natureza humana em suas várias faces e sempre nos ajuda a observar um pouco mais sobre nós mesmos. São as forças masculina e feminina, em sua máxima expressão de dualidade.

É possível perceber que o Olimpo é aqui mesmo. Uma enorme confusão de desejo, vaidade, traição, medo, raiva, comemoração, expectativa, bondade, amor, bênçãos e maldições; que vêm descritos de épocas absolutamente patriarcais e, somente por isso, influenciam os papéis que “devemos” ter na vida.

Ainda por ser de narrativa patriarcal, às figuras femininas cabe a culpa. Estas sobreposições conceituais, facetas da humanidade, deixam-se mostrar naturalmente na maneira como lidamos com a vida, revelando-se nas mulheres e nos homens.

Como os mitos se revelam em nós

Você lembra quando sustentou tudo sobre seus ombros? O Atlas fez isso.
E quando trancou dentro de si, todas as dores? A Medusa sabe.
E quando não queria, não queria, mas foi? Ah, Perséfone…

Desde os 12 anos, por puro apaixonamento, pesquiso sobre variadas mitologias e sempre encontro dentro de mim Górgonas, Hércules, Perseus, Afrodites, Perséfones, Panaceias, o desconfiado Prometeu, que vê tudo antes e o arisco Epimeteu, que vê depois, antecipando para sempre as coisas.

Encontro também a Pandora, com sua caixa, que na verdade era uma ânfora.

Fora estes, tantos outros mitos me habitam, hora adormecidos, ora muito ativos. Acho maravilhoso mexer neste caldeirão.
O mito de Pandora

Pandora foi “inventada” por três figuras masculinas; Zeus, Prometeu e Epimeteu, a partir da discórdia entre eles.

A intenção de Zeus era iludir e castigar os homens; olha eles aí no centro do universo novamente, não importando que, para isso, usasse a figura de uma mulher.

À Pandora foram concedidos os dons de encantar, Atena deu-lhe o sopro de vida, a deusa Afrodite a presenteou com a beleza, o deus Apolo concedeu-lhe uma voz suave e Hermes contribuiu com a persuasão.

Conduzido por Pandora havia o tal jarro, ou caixa, onde estavam as piores coisas que assolam até hoje a humanidade e são ditas como o castigo que Zeus destinou.

Pandora não deveria abrir a caixa, o marido avisou que ficasse quieta, mas a curiosidade investigativa, sobre querer saber o que havia lá dentro, superou o medo do desconhecido e sim, ato de coragem, abriu!

Foi aí que o conteúdo que estava lá, apertadinho, emergiu para ser um borbulhante caldeirão.
Pandoras, mulheres e homens, cada vez mais trazem suas caixas

Terapeuta por traço de personalidade, que depois foi se encontrando com a profissão, observo que cada cliente traz, guardadinha, a sua própria caixa de Pandora.

Às vezes pequenas, outras vezes, em caixas enormes. Algumas são coloridas, pintadinhas de disfarce da dor, outras caixas são quase um blindado.

Outros olham para a caixa, mas ainda não está disponível para abrir e, de acordo com as suas prioridades, poderão permitir a abertura em algum momento.

Pandora é somente mais uma das mulheres sobre as quais pesa a culpa de tudo que sai de errado no mundo. Afinal, quem mandou abrir a caixa, sua teimosa curiosa?!

O fato é que mulheres são predominância no universo da busca terapêutica, beneficiando aos muitos homens que decidem investigar o caminho que elas já quiseram trilhar e também encaram as suas caixas.

Fico sempre muito grata quando homens se dispõe à investigação terapêutica, pois acabam encontrando as suas valentes Pandoras.

Abrir a caixa de Pandora, no meu modo de sentir, é entrar em contato com aquele monte de coisas que Zeus declarou como castigo para os seres humanos, mas que moram dentro da gente. Ter como ícone uma figura feminina, representa o quanto tudo que é do feminino, do sensível, do criativo, vem sendo ferido e trancado, nas mulheres e nos homens, ao longo de eras.

O paradoxo é que somente pela sensibilidade e vulnerabilidade se pode tecer novas hipóteses, o que significa dizer que, mais dia, menos dia precisaremos verificar essas coisas todas trancadas dentro de nós.

Sensibilidade e vulnerabilidade: processos profundos de confiar

Respira nesta palavra: Com fiar.

Burlamos aqui as boas regras ortográficas para apenas sentir: Com fiar.

Confiar. Tecer junto. Costurar uma história, muitas histórias ou história nenhuma. Apenas o ato de olhar o jarro, tocar no jarro, saber que há algo lá dentro e que, o que já foi exposto ou expulso é, e sempre será, somente parte.

Sobre o mito de Pandora, aquela que ousou abrir a caixa e fazer ferver o caldeirão, pesa a culpa; e muitas pessoas quando começam seus processos terapêuticos, inconscientemente, acham que não deviam ter aberto a caixa, que são culpadas por seus sintomas e comportamentos, que algo às ameaça e que é sua responsabilidade manter o status de controle.

Inúmeras vezes não há espaço para respirar, apesar da respiração ser o sinal de que a vida acontece.

Acham mesmo que suas mudanças, que fazem a família estranhar e os amigos ficarem um pouco aflitos, quando percebem novos limites sendo propostos, não deveriam acontecer.

No entanto, para Pandora, também destina-se a guarda da esperança que está, ainda, lá dentro da caixa. Não é uma esperança vazia.

É uma vibração, uma informação, uma fragrância, um sabor de que há algo ainda não explorado, algo que sugere que tudo pode mudar a qualquer instante. A esperança é em si mesma, para ser inspirada e expirada.

É a eterna dualidade. Dentro e fora. Em cima, como embaixo.

Do mesmo lugar de onde saíram as dores, também repousa o entendimento e a força; e poderá ser necessário um novo ato de curiosidade ou coragem, para verificar o que mais existe lá dentro, por trás de cada sintoma ou comportamento.

Respira profundo… e solta.

Celia Barboza

Celia Barboza

Terapeuta Integrativa, Celia Barboza é certificada em BodyTalk Sistem, Master em Programação Neurolinguística, Consteladora, integrando outros saberes filosóficos para uma abordagem terapêutica profunda.

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