Pesquisar
Loading...

Por que você quer saber como ser perfeito?

Uma reflexão sobre a busca desenfreada pela perfeição

Atualizado em

Na busca desenfreada pela perfeição, o que geralmente encontramos é a frustração. Afinal, no mundo real, não existe perfeição. O que existe é um desejo de encontrar paz, tranquilidade e satisfação. A pretensão de ser perfeito em qualquer setor da vida nos afasta da nossa essência humana. Não nos damos conta de que estamos na constante condição de aprendizes.

Para entender que a busca rumo à perfeição é um caminho para a frustração, vamos, primeiro, tentar definir “humano” sob o ponto de vista emocional e psicológico.

A condição para ser “humano” é nada menos do que a imperfeição. Partindo dessa premissa, você torna-se perfeito quando assume as suas imperfeições. Aceitar essa condição é o primeiro passo para tirar das costas o imenso fardo de se obrigar à perfeição, ou seja, destituído de defeitos de qualquer ordem.

O que é ser perfeito?

Afinal, o que é “ser perfeito”? Não errar? Ter sucesso? Agradar a todos? Ser sempre gentil, humilde? Não falar da vida alheia? Não julgar? Não sentir raiva? Quem consegue estar permanentemente em um estado quase que de “santidade”?

Quanto mais você almeja a perfeição, maior a chance de você se frustrar. Ou ainda, de assumir uma postura de arrogância cega, na qual acredita-se estar sempre “certo”, julgando, imediatamente assim, quem está “errado”.

Cada indivíduo possui sua própria tábua de valores e qualidades que acredita que são fundamentais para viver com o mínimo de conflitos internos possíveis. Além do mais, vivemos em sociedade, logo, isso não pode ser ignorado quando percebemos que nossas atitudes têm um impacto no todo. Assim, algumas regras regem um convívio funcional. Certos limites, impostos pelo bom senso, dão a tônica das nossas atitudes.

A tecnologia amplia a necessidade de perfeição?

A exposição que a tecnologia oferece atualmente nos cerca de receitas prontas para alcançar o melhor em tudo: “Como não procrastinar, como educar os filhos, como ter sucesso na carreira” e assim por diante. O que isso mostra? Que cada um tem algo a sugerir para que as pessoas encontrem as melhores soluções para suas dúvidas ou conflitos, seja qual for a área da vida.

Basta uma rápida pesquisa na internet, a respeito de qualquer tema, para encontrar milhares de artigos que pretendem nos orientar. Desde soluções simples para o cotidiano, até formas mais simplistas para resolver temas arenosos como depressão ou compulsões.

Não existe problema algum em pesquisar a respeito de tudo o que nos causa desconforto. É mais do que legítimo seguir orientações que nos pareçam razoáveis para que possamos fazer de nossos dias, dias mais tranquilos. O desafio é não encarar todas essas respostas como manuais de comportamento com o objetivo de tornar-se perfeito.

É comum vermos pessoas que privilegiam de forma contundente a busca pelo “corpo perfeito”, sem considerar que o que funciona muito bem para uma pessoa pode não ter a mesma eficácia para outra. Buscam pela alimentação funcional, pela saúde física impecável, mas se esquecem de alimentar a alma.

Já os mais ousados querem alcançar o status de perfeição em tudo: vida profissional, afetiva e social, corpo, alma, tudo funcionando na mais absoluta perfeição. Não levam em conta, entretanto, que os fatores externos, muitas vezes, se impõem às suas pretensões.

A proposta deste artigo, então, é propor uma reflexão sobre a importância de amenizar a obrigação – tanto imposta por nós quanto pelos meios de comunicação – de parecer ser perfeito e altamente produtivo, abrindo mão de viver de uma forma que é confortável para você.

Existe uma fórmula de como ser perfeito?

O que é ser perfeito? Como se mede a perfeição? Qual é a nossa referência para os diferentes personagens que vestimos durante a vida?

O que são pais perfeitos? Como os pais podem saber se suas atitudes “perfeitas” vão formar uma criança “perfeita”? Perfeita sob o ponto de vista de quem? Dos pais ou da sociedade?

O que é um profissional perfeito? Aquele que nunca comete erros técnicos? Aquele que abre mão de seu lazer ou sua vida pessoal para se destacar em seu ofício? Aquele que ganha o máximo que pode ganhar tanto em salário quanto em elogios por sua dedicação?

O que são filhos perfeitos? Aqueles que nunca decepcionam seus pais? É o aluno perfeito que sempre tira as melhores notas? Que entra na melhor faculdade? É o que não questiona ordens e coloca os pais num pedestal?

O que é um casal perfeito? O que atende às demandas um do outro? Gostam das mesmas coisas, não se desentendem, nunca discutem na frente dos filhos, tem os mesmos objetivos de vida, uma vida sexual ajustada e desejos no mesmo compasso?

Quando pretendemos ser perfeitos, nos perdemos de nossa essência humana. Viver é estar na constante condição de aprendiz.

Vontade de ser melhor

O que é válido é a vontade de melhorar. Aquilo que nossa consciência determina por imperfeição podemos transformar em força que impulsiona para o desejo de nos sentirmos melhor, em paz e sem culpas por não alcançarmos o impossível.

Afinal, somos todos vulneráveis aos apelos que a vida nos apresenta. O que está ao nosso alcance é refletir sobre o que nos deixa desconfortáveis e buscar soluções para que possamos transformar o desconforto em paz. Como fazer isso? Também nessa questão somos limitados porque não temos poder sobre o outro. O outro nunca vai ser o que queremos que ele seja para que não tenhamos o trabalho de modificar algo em nós.

O exercício é buscar ser melhor a cada dia. Apenas melhor, não perfeito.

Se alguém nos irrita com suas atitudes, cabe a nós lançarmos um olhar que nos deixe mais confortáveis sobre a questão. Talvez possamos ter mais empatia. Ou talvez possamos compreender que quando o outro nos tira da nossa zona de conforto, temos a oportunidade de alcançar um novo olhar sobre nós mesmos. Transformando, assim, a irritação em oportunidade de aprendizado.

A vulnerabilidade aos eventos da vida é a força que move o aprimoramento nos caminhos da paz.

Assim, evitamos nos perder em um mar de culpas, frustrações e sentimentos de inadequação ou incapacidade. Não se cobre tanto! É cada vez mais urgente humanizarmos o que é humano.

Tenha em mente de que estamos no mundo não para que ele gire em torno de nós. Mas sim para que, girando com ele, possamos ser um ser humano melhor.

 

Celia Lima

Celia Lima

Psicoterapeuta holística com abordagem junguiana há mais de 30 anos e pós graduanda em Psicologia da Saúde e Hospitalar pela PUC-PR. Utiliza os florais, entre outras ferramentas como método de apoio ao processo terapêutico, como vivências xamânicas, buscando um pilar metafísico para uma compreensão mais ampla da vida, da saúde física e emocional.

Saiba mais sobre mim