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Psicodrama: encenando emoções

Entenda como a dramatização pode levar ao autoconhecimento

Atualizado em

Os atores são pessoas privilegiadas que, devido à sua sensibilidade e talento, podem viver várias vidas no palco do teatro. O ator encarna o rei, o mendigo, o canalha, o louco, a ninfa, o lobo mau, a Cinderela, o sapo, o velho e a criança, e proporciona a nós, plateia, muito mais que uma simples diversão.

Quantas vezes nos identificamos com o sofrimento do personagem que perdeu sua amada? Quantas vezes acordamos em nós a criança sedenta de alegria ou de aventura nos braços do herói infantil ou atualizamos nossas desventuras nos dramas familiares, tudo na voz dos atores e no enredo das peças de teatro? Nos envolvemos, rimos, choramos, nos indignamos, nos excitamos, aplaudimos ou execramos muitos personagens.

O teatro existe desde os mais remotos tempos, nascendo com a interpretação do próprio cotidiano dos homens primitivos. Eles dançavam juntos suas conquistas, celebravam colheitas e inventavam rituais para apaziguar as forças da natureza. Mais tarde, na Grécia, o teatro toma outro contorno com a criação de textos específicos que exigiam atores capazes de representar histórias.

Papeis nossos de cada dia

Mas se formos reparar bem, cada um de nós encarna diversos personagens ao longo da vida e até mesmo ao longo de um dia. Nossos papeis são diversos: pai, mãe, avó, estudante, marido, mulher, irmão, companheiro, amigo, profissional, cidadão, motorista, ouvinte e infinitos desdobramentos de cada uma dessas facetas que todos nós temos.

De certa forma somos todos atores, mas atores espontâneos, seguindo o script que ora nós mesmos escrevemos e na maior parte das vezes tendo que improvisar conforme as circunstâncias e fatos vão se apresentando.

Psiocodrama e expressão dos sentimentos

Foi com esse olhar, observando o teatro da vida, que Jacob Levy Moreno – médico estudioso de filosofia, do homem e seus vínculos pessoais e sociais e também profundo apreciador do teatro – criou o Psicodrama, entre outras técnicas de tratamentos psicoterapêuticos.

Em consultório, a “terapia de grupo” é a forma de tratamento psicoterápico em que o Psicodrama pode se desenvolver de forma mais produtiva. Ali todos são atores que representam não apenas seu próprio papel e de seus pares. Ao colocar também seus sentimentos e sua percepção do outro, intervir espontaneamente, refinar seu sentimento de empatia, focar objetivamente uma situação e reconhecer desejos e sentimentos seus no outro, os participantes estão ativamente trabalhando suas histórias de vida e colaborando uns com os outros no entendimento e resolução de várias facetas de sua trajetória.

Psicodrama na prática

Longe de estar presente somente em consultório, o Psicodrama é amplamente utilizado em empresas, escolas, comunidades, centros de saúde e outras organizações, e sua utilização se presta a facilitar o contato com as próprias emoções através da esponteneidade criativa da dramatização.

As vivências psicodramáticas podem ocorrer como parte de workshops, em processos seletivos como instrumento de avaliação de perfil de candidatos, em centros de recuperação de dependentes químicos e de doenças crônicas e em terapias de grupo, por exemplo.

Usualmente um grupo de terapia se reúne todas as semanas e cabe ao facilitador (psicoterapeuta) introduzir ou não a técnica durante as sessões. Não há, portanto, uma frequência pré estabelecida. É a própria dinâmica das sessões que orientará a conveniência do Psicodrama ou é a decisão do terapeuta em direcionar o grupo para a prática quando entender produtivo.

Os atores do teatro são maravilhosos porque dão expressão a tantos de nossos sentimentos. E nos fazem encontrar com partes nossas que desconhecíamos existir, dando vida a personagens, uns incríveis e outros fantasticamente comuns.

E tão maravilhosos quanto eles somos nós todos, cada qual criando, inventando, reformulando o roteiro e o script do grande teatro da vida para o principal personagem de todos os tempos: cada um de nós!

Celia Lima

Celia Lima

Psicoterapeuta holística com abordagem junguiana há mais de 30 anos e pós graduanda em Psicologia da Saúde e Hospitalar pela PUC-PR. Utiliza os florais, entre outras ferramentas como método de apoio ao processo terapêutico, como vivências xamânicas, buscando um pilar metafísico para uma compreensão mais ampla da vida, da saúde física e emocional.

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