Significados dos quatro Elementos astrológicos
Simbologia de Fogo, Ar, Água e Terra aparece em filmes e músicas
Por Alexey Dodsworth
Os antigos, dentre os quais destaco o filósofo Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), interpretavam a realidade como se tudo fosse constituído por quatro Elementos: o Fogo, a Terra, o Ar e a Água. Para estes filósofos, havia uma divisão precisa entre nosso mundo e o céu, uma divisão de natureza metafísica.
Nosso mundo seria o lugar das mudanças, o espaço onde tudo se transforma; o céu seria o mundo supralunar, reunindo tudo o que está acima da Lua. No mundo supralunar, acreditava-se, havia os planetas e as estrelas, compostos não por matéria comum, mas por uma substância imutável e eterna chamada de “éter”.
O conhecimento humano se aperfeiçoou, e hoje sabemos que não existe diferença entre a matéria encontrada em nosso mundo e aquela da qual os planetas e as estrelas são compostos. Tudo muda, tudo se transforma, e nenhum planeta ou estrela é composto por uma substância especial chamada “éter”.
Do mesmo modo, também sabemos que nosso mundo não é composto por quatro Elementos em um sentido físico. Quando falamos de “elementos” hoje em dia, nos referimos aos da tabela periódica química: hidrogênio, oxigênio, hélio e todos os demais – e tudo isso foi criado dentro das estrelas!
Sobre os quatro Elementos da antiguidade, entretanto, é perfeitamente possível entendê-los como uma sofisticada metáfora. Uma metáfora que se refere à estrutura da realidade em um sentido simbólico. A Astrologia, afinal, diferente da Astronomia, não é uma ciência que trata da realidade física. A Astrologia é uma linguagem que se baseia em analogias, em símbolos e interpretações possíveis para estes símbolos. Querem ver?
Vamos considerar, por exemplo, as quatro necessidades humanas fundamentais: água para beber, alimento (que vem da terra), ar para respirar e luz/calor (provenientes do Sol). Retire qualquer um desses elementos, e a existência humana (e a da maioria dos animais) se torna inviável.
Podemos também mostrar que nosso mundo é dividido em quatro partes. Temos uma parte continental, também conhecida como litosfera (terra), temos água (rios, oceanos, lagos), temos ar (a atmosfera) e temos fogo (o núcleo incandescente do planeta).
Apenas juntos os Elementos alcançam seu verdadeiro poder
Do mesmo modo, para a Astrologia, quatro são os Elementos que constituem a existência: o Fogo, a Terra, o Ar e a Água. Cada um deles se manifesta de três formas distintas, totalizando os 12 signos do zodíaco. A partir da perspectiva de cada um dos Elementos, a realidade é interpretada de várias formas.
É como se cada Elemento, ao lidar com um fato, tecesse considerações particulares, sendo que nenhum deles apreende o fato em sua inteireza, em sua plenitude. O Fogo enxerga os possíveis sentidos e significados do fato. A Água aborda as implicações emocionais. A Terra lida com causa e consequência.
O Ar, por sua vez, quer entender a teoria por detrás do fato. Cada um dos Elementos, ao seu modo, é cego para outras perspectivas. Apenas juntos alcançam o verdadeiro poder.
A própria psicologia bebeu (e bebe) dos quatro Elementos como figuras estruturantes da psique, e muitas correntes se baseiam nisso. Carl Jung, por exemplo, nos fala das quatro funções psíquicas: sensação, sentimento, pensamento e intuição. Cada uma dessas quatro funções está relacionada com um Elemento:
A sensação teria a ver com a perspectiva da Terra
As coisas têm valor na medida em que posso experimentá-las com meus sentidos físicos.
O sentimento, com a perspectiva da Água
As coisas têm valor na medida em que estimulam minhas emoções.
O pensamento estaria relacionado ao Ar
As coisas têm valor na medida em que suas teorias são compreendidas.
A intuição, ao Fogo
As coisas têm valor na medida em que têm sentidos e ensinamentos filosóficos, espirituais ou morais.
Supor que um desses elementos seja “mais importante” constitui equívoco crasso. Cada um deles nos oferece apenas um pedaço da perspectiva das coisas.
Elementos estão presentes em músicas e filmes
Levando em conta a ideia de que existem habilidades distintas e que tais habilidades valem pouco se separadas, não é de estranhar que roteiristas tendam a materializar este conceito em grupos de super-heróis. Se fazem isso de modo intencional ou não, desconheço a resposta. Mas o fato é que os quatro Elementos podem ser encontrados mesmo no mundo dos quadrinhos, unidos de um modo em que o todo é mais forte do que as partes que o compõem.
Vejam o caso do Quarteto Fantástico. O nome do grupo é autoexplicativo, mas o curioso é que os poderes dos membros têm tudo a ver com os Elementos da antiguidade clássica. Temos o Tocha Humana, que representa o Elemento Fogo. O Coisa representa a força bruta da Terra. A Mulher Invisível, como o nome diz, fica invisível como o Ar! E o Senhor Fantástico tem o poder da supermaleabilidade, exatamente como o Elemento Água, que se molda a qualquer recipiente.
É irônico notar que o principal inimigo do Quarteto Fantástico é um vilão chamado Destino. Referência talvez inconsciente ao fato de que a grande luta da humanidade diz respeito ao uso do livre arbítrio para vencer o destino? A questão é: terá sido tudo isso pensado por Stan Lee e Jack Kirby, criadores do grupo, ou foi uma coincidência (ou sincronicidade, como preferem os junguianos)?
Outro grupo de heróis marcado pelo arquétipo dos quatro Elementos é a formação original dos X-Men (nos quadrinhos, não no cinema). Os primeiros X-Men convocados pelo professor Charles Xavier eram quatro: Ciclope, que solta raios laser pelos olhos e representa o Elemento Fogo; o Anjo, capaz de voar, representando o Elemento Ar; o Fera, que representa o Elemento Terra; e o Homem de Gelo, cujos poderes o associam ao Elemento Água. Após a criação do grupo, o professor Xavier recrutou um quinto elemento: a adolescente Jean Grey, que viria a ser conhecida primeiro como Garota Marvel e, posteriormente, como Fênix – uma clara referência ao poderoso éter cósmico. Os X-Men foram também criados pela dupla Lee-Kirby, mostrando a inclinação dos dois autores para mitologias envolvendo os quatro Elementos.
Como nos grupos de super-heróis, não há um Elemento mais importante do que o outro. Separados, podem até ser fortes. Juntos, contudo, tornam-se imbatíveis e vencem os desafios.
Analogicamente, podemos dizer que estes heróis estão dentro de nós. Afinal, cada pessoa possui um pouco dos quatro Elementos dentro de si.
A música também está recheada de referências – conscientes ou inconscientes – aos quatro Elementos. Em Forever Young, um dos maiores sucessos da música pop internacional, lançada em 1984 pela banda alemã Alphaville, um determinado trecho diz:
Some are like water, some are like the heat
Some are a melody and some are the beat
Sooner or later they all will be gone
A letra diz: “alguns são como água, alguns são como o calor. Alguns são melodia e alguns são ritmo. Cedo ou tarde todos eles estarão mortos”. No caso, água e calor nem demandam explicações. “Melodia” pode ser entendido como referência ao Elemento Ar, que na Astrologia representa a música. Só se pode ouvir música, afinal, porque o ar conduz o som. “Ritmo” ou “batida” pode ser entendido como o Elemento Terra. E qual a conclusão da música? Exatamente o que diziam os antigos: no mundo do devir, das mudanças, dos quatro Elementos, tudo muda, tudo em algum momento acaba, morre, se vai. A única coisa imutável é a mudança, e este é o grande objeto de estudo da Astrologia: as mudanças e aventuras que ocorrem sem cessar entre o nascer e o morrer.
Astrólogo e autor de análises de Astrologia, Tarot e Runas do Personare. Sua afinidade com temas esotéricos se alinha com sua defesa à liberdade de saberes, sejam eles científicos ou não.
Saiba mais sobre mim- Contato: alexey-revista@personare.com.br