Tarot: olhe para o futuro e mude

“O lance com o futuro é o seguinte: Toda vez que você olha o futuro ele muda porque você olhou. E isso muda todo o resto“. Esta frase está no filme O Vidente, de Lee Tamahori, de 2007. É bacana quando alguém resume em poucas palavras aquilo que você sempre percebeu. Porque sei que em todas às vezes que retiro cartas aleatoriamente de um maço, é exatamente assim.

O futuro se modifica porque ao imbuir significado às cartas e ao respeitá-las como detentoras de uma função de oráculo, uma transformação ocorre em mim.

O futuro se modifica porque ao imbuir significado às cartas e ao respeitá-las como detentoras de uma função de oráculo, uma transformação ocorre em mim.

Seja para me certificar do que já sei, seja para descobrir uma nova ligação entre os fatos.

Por isso, só lanço mão do Tarot se considerar este gesto um ato mágico. Naquele momento, abre-se a cortina: ali estão os cenários, as personagens, a ação que envolve o enredo. Os temas. Os grandes temas e os temas cotidianos, por assim dizer. Os Arcanos Maiores e Menores. E nós, as personagens.

Vítimas do destino, como os animais na Roda da Fortuna, diriam alguns. Responsáveis pelo caminho, os defensores do livre-arbítrio. Mas parte-se do princípio que o desenho, o desígnio dos deuses, está traçado. Posso, ao consultar o oráculo, lançar a sorte, descobrir antes que aconteça. E descobrir o melhor caminho.

Podemos fazer uso da informação que modifica o curso dos acontecimentos e apenas observá-la. Observar é uma ação. Podemos agir diretamente sobre ela, criando clímax, prevendo um resultado. Podemos tratá-la como poesia e deixar que o som de suas palavras nos norteie. Seja como for, algo mudou.

Do filme Matrix a um exemplo real: cada um vê o que seus olhos percebem

Os véus foram retirados em uma pausa de significado, em uma nova possibilidade de interpretação, em um arranjo revelador – um lance de dados, diria Mallarmé. Aí está a transformação.

Disse a personagem Oráculo, em Matrix: “Se eu não tivesse dito, você teria derrubado?”,quando Neo esbarra em um vaso. Não se vai ao Oráculo impunemente. Alguma coisa sempre acontece.

Lançada a pergunta, procura-se a resposta. Em Curitiba há o exemplo da Mulher das Balas. Viúva, com muitos filhos para sustentar, um dia ela entra em uma Igreja e pede ajuda aos céus: “O que fazer para sustentar meus filhos? Que Deus me dê um sinal” Então, ela curva-se em respeito. No chão, um papel de bala. A partir desse dia, passa a catar papéis de bala do chão da cidade. E inventa moda: bonecas, trajes, brinquedos. Vende sua arte numa feira. E pouco tempo depois, uma atriz global veste uma de suas criações em um desfile. É o jogo dos deuses.

Interpretação literal do oráculo? Não diria isso. Nós, acostumados a filosofar, pensaríamos: “Bem, Deus quer que eu desembrulhe minha vida”, ao vermos o papel de bala. Resposta que nos levaria a outra pergunta: “Mas como?” E talvez não chegássemos a resultado algum. Um pequeno índice, um papel caído no chão pode conter a resposta. Cada um verá o que seus olhos possam perceber.

Quando os filhos do rei de Roma são mandados para Delfos no intuito de saber quem sucederia a Tarquínio, a resposta do oráculo foi: “Aquele que primeiro beijar sua mãe”. Lucius Junius Brutus, um Louco com “L” maiúsculo, fez de conta que tropeçou e cai no chão dizendo: “Beijo-te, Mãe Terra!” Conta-se que assim se tornou cônsul e fundou a República Romana. O Louco pode ser sábio.

O oráculo é inspirador. Um gancho que pode lançá-lo para fora de um poço de dúvidas. E algo mudará. Algo sempre muda quando se olha para o futuro.