Trauma na infância: experiência somática pode ajudar na cura
A experiência somática ajuda o corpo a processar eventos difíceis, efeitos do trauma na infância, facilitando o tratamento
Por Maria Cristina
O trauma na infância pode impactar profundamente o desenvolvimento emocional e físico das crianças, levando a dificuldades que podem persistir ao longo da vida.
Diversas abordagens terapêuticas foram criadas para tratar essas cicatrizes emocionais, e a experiência somática (ES) vem se destacando como uma ferramenta eficaz para lidar com os efeitos dos traumas.
Essa abordagem considera o corpo como uma peça chave no processo de cura, focando nas sensações físicas e auxiliando o corpo a processar eventos difíceis.
Incorporar essas práticas no cuidado infantil desde cedo pode minimizar os efeitos negativos do trauma e promover uma regulação emocional mais eficaz.
O que é um trauma na infância e as consequências
Na abordagem naturalista SE (Somatic Experience), trauma é todo o conteúdo onde a quantidade de estresse foi maior do que a capacidade natural do corpo para lidar com o ocorrido.
Por isso, grande parte dos padrões e sintomas vivenciados na vida adulta surgiram de experiências traumáticas precoces não processadas.
Mesmo quedas e cirurgias, se não processadas adequadamente, podem gerar traumas que se manifestam como sintomas futuramente.
Consequências do trauma
Quando uma criança enfrenta uma situação traumática, o corpo pode responder de maneira a reter as tensões ou bloqueios que, se não liberados, podem influenciar seu comportamento e desenvolvimento, e gerar algum transtorno.
Essas respostas podem se manifestar através de sintomas, tanto quando crianças quanto adultos, como:
- ansiedade,
- dificuldade de concentração,
- irritabilidade
- problemas no sono
+ Traumas de infância: como superar pela abordagem sistêmica
Como funciona a experiência somática
A experiência somática parte da premissa de que o trauma não é apenas um evento mental ou emocional. Mas também uma experiência física que o corpo carrega.
Diferente de abordagens puramente cognitivas, a experiência somática valoriza o corpo como uma ferramenta essencial para o processo de cura. Afinal, será através do sentir com segurança que aquilo que não foi integrado pode ser processado e liberado.
Por isso, para minimizar os efeitos traumáticos ao longo do desenvolvimento, é importante que as crianças aprendam, desde pequenas, a perceber e nomear suas emoções e sensações físicas.
Isso pode ser feito através de práticas simples, como:
- Exercícios de respiração
- Alongamento suave
- Criação de um ambiente seguro e acolhedor em casa e na escola
Por exemplo, podemos incentivar uma criança ansiosa a perceber onde essa ansiedade está localizada no corpo. Como por exemplo uma tensão no peito ou um aperto no estômago.
Ao reconhecer essas sensações, a criança aprende a processar as emoções de maneira mais saudável, em vez de reprimi-las.
Quando a criança consegue identificar onde sente uma emoção no corpo e como reagir a ela, fortalece sua capacidade de regulação emocional.
O papel dos cuidadores
É fundamental que o ambiente em que a criança vive seja seguro e acolhedor. Nesse sentido, pais e cuidadores podem desempenhar um papel vital ao responder de forma calma e empática às necessidades emocionais da criança.
O que fazer:
- Validar os sentimentos da criança: escute o que a criança diz e valide/concorde antes de inferir que ela sente algo diferente daquilo que é dito.
- Incentivar práticas de autorregulação: prestar atenção ao que sente no corpo, em qual lugar do corpo está o desconforto, ensinar a respirar, principalmente a expirar (soltar o ar) mais do que inspirar.
- Oferecer suporte emocional: abraçar, apoiar os ombros e segurar na mão às vezes são mais significativos do que um conselho.
- Criar oportunidades para as crianças expressarem suas emoções de maneira saudável, seja através da fala, do movimento ou de atividades criativas.
- O toque afetuoso, o contato visual e o uso de uma voz suave também são formas de promover a sensação de segurança e bem-estar.
Tudo isso ajuda a criança a recuperar o equilíbrio emocional após uma situação de estresse.
Experiência somática para os adultos também
Crianças não possuem autorregulação inata, ou seja, elas precisam aprender. Assim, cabe aos pais e/ou cuidadores cuidar do seu próprio autoconhecimento para lidar melhor com as próprias emoções e sentimentos.
- Mas se você não consegue lidar bem com suas próprias emoções, evita ou se esquiva de sentir e perceber melhor seu corpo, como poderá ensinar a criança a fazer?
Assim, é de extrema importância que, para a criança crescer mais livre e saudável, você seja um adulto que consiga se regular e validar os sentimentos sem os julgar como certos ou errados.
Se você é um adulto e não teve um cuidador regulado por perto, agora pode fazer este trabalho por você mesmo.
Com a experiência somática, você pode liberar o que não foi processado no corpo e gera sintomas físicos e mentais e até mesmo padrões mentais repetitivos.
Vale a pena olhar a dor para atravessá-la e criar espaço dentro de si.
Sentir, integrar e liberar
A experiência somática oferece uma poderosa ferramenta para ajudar as crianças a lidar com traumas desde cedo, promovendo uma maior conexão com o corpo e fortalecendo a capacidade de regulação emocional.
Ao integrar a experiência somática desde a infância, é possível criar uma base sólida para que as crianças se tornem adultos mais emocionalmente resilientes.
Trabalhar com as sensações físicas e as emoções associadas aos traumas pode ajudar a minimizar seus efeitos ao longo da vida, promovendo um desenvolvimento mais saudável.
Cuidadores que compreendem a importância de um ambiente seguro e de técnicas de regulação emocional podem transformar significativamente a forma como uma criança lida com o estresse e o trauma, contribuindo para uma vida mais equilibrada e emocionalmente estável.
É psicóloga sistêmica. Atua com traumas pela abordagem Somatic Experience® além de abordar outras questões de relações interpessoais, autoestima e postura diante da vida. Atende online e presencialmente na cidade de Belo Horizonte.
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