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Viajar pode ser uma terapia

Como tirar maior proveito de novos lugares e conhecer-se melhor

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Primeiro, decide-se que vai viajar. Depois olha as passagens; a conta bancária em seguida. Fazem-se os trâmites necessários e legais – passaporte, vacinação, visto, uma mala maior. Escolhido o período, é só confirmar a compra da passagem. Embarcar é o último estágio de uma jornada que apenas se inicia. Claro que viajar pode não ser tão complicado assim. Ou então, pode ser muito mais que isso, tendo que dar conta dos filhos, dos amigos, dos pais para correr tudo como se deseja. Afinal, viajar é uma arte. De exploração, de sentimentos, de medos e de prazeres que nos faz conhecer novos lugares de nós mesmos.

A arte de viajar pressupõe a importante noção de não complicar. Pode até ser impossível não haver uma chateação na hora de organizar uma viagem de férias ou de trabalho ou de estudos, mas a postura do viajante deve ser de total tranquilidade diante das adversidades, por maiores que sejam. É comum o desespero quando estamos numa cidade desconhecida, com apenas um guia em mãos para se virar como puder, mas cabem as questões: como e para quê estou aqui? O que devo aprender com essa dificuldade, justamente agora? É essencial aproveitar a estadia naquele local para realizar as tarefas (caso elas estejam no seu itinerário) ou aproveitar as paisagens, os pratos e as pessoas que encontramos pelo caminho.

A experiência espiritual na atitude de viajar pode estar na admiração e no amor pelo lugar onde se está. Não estamos à toa naquele lugar, nem mesmo quando nos desviamos da rota e do destino antes programado. Tudo que acontece tem algum sentido, seja o trem que se perde ou a grande fila para visitar um ponto turístico. A viagem é uma forma de autoconhecimento, é participar da intensidade de seguir o curso das coisas, dos fatos e dos horários de que nos apropriamos.

A viagem é uma forma de autoconhecimento, é participar da intensidade de seguir o curso das coisas, dos fatos e dos horários de que nos apropriamos.

Saber que existem imprevistos, como em todas as etapas da vida e nem por isso perder o ânimo. Tomar consciência de que existe uma razão de se estar ali, mesmo que num primeiro momento ela seja enigmática: por que, especificamente, aquela cidade, aquele país, aquele continente? Essas perguntas podem ser respondidas, num primeiro momento, como uma necessidade de sair do lugar-comum e aceitar os ditames que o mundo exige de nós. Para isso, basta confiarmos nele, em suas rotas e suas paradas.

Além do turismo

Muito mais que turismo, viajar pode ser um exercício espiritual, uma verdadeira peregrinação: sentir cada paisagem e cada parte dos trajetos como uma extensão de nós mesmos.

Muito mais que turismo, viajar pode ser um exercício espiritual, uma verdadeira peregrinação: sentir cada paisagem e cada parte dos trajetos como uma extensão de nós mesmos.

Estão nas diferenças sociais e culturais os motivos principais de se conscientizar enquanto pessoa do mundo, respeitando-as e vivenciando-as como um aprendizado por meio de ruas, monumentos, museus, praças e fontes. Pode-se até ser solidário e perceber que lugares tão distintos aos nossos costumes e olhos tiveram as mãos de antigos descendentes que prezavam a beleza que hoje desfrutamos – contemplar a natureza e as obras primas de artistas consagrados vai além do arquitetônico, pois toca a alma e nos completa. Como deve ser uma prática espiritual.

Viajar é uma forma de meditação. Mesmo quando o motivo e o lugar para onde se vai não é querido, ela nos oferece lições valiosas e tão íntimas como a própria reflexão sobre as experiências que cultivamos diariamente: saber que o mundo é grande o bastante para aprendermos suas lições, seus segredos e suas distinções. São necessários os riscos, assim como é necessária a evolução interna que uma jornada nos proporciona, por mais curta que seja. Viajar é um ato de amor ao corpo, mente e espírito, pois é sinônimo de liberdade – de nós para com o mundo e vice-versa.

Leo Chioda

Leo Chioda

Leo Chioda é escritor e um dos principais tarólogos em atividade no Brasil. É doutor em Literatura pela Universidade de São Paulo e sua tese é sobre poesia e alquimia. No Personare é autor do Tarot Mensal, Tarot Direto e professor do Curso Básico de Tarot.

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