Você cuida sozinha dos seus filhos?
Não precisa ser mãe e pai ao mesmo tempo. Orgulhe-se do seu papel
Por Celia Lima
São inúmeras as mulheres que criam seus filhos sozinhas, sem o acompanhamento dos pais das crianças.
Ou porque se separaram, ou porque seus pares ignoraram a gravidez, ou porque o pai da criança sumiu no mundo, ou em último caso porque ficaram viúvas, essas mulheres guerreiras assumem a educação, a orientação, o amparo afetivo, e tudo o que uma criança ou adolescente necessita para se tornar um adulto apto a seguir a vida.
Tornou-se comum ouvirmos mães que se intitulam “pai e mãe”, e filhos que também se referem a essas mães como “pai e mãe”.
Se por um lado isso pode ser considerado como um reconhecimento aos esforços dessas mulheres por proporcionarem uma vida digna a seus filhos, por outro é preciso chamar a atenção para o fato de muitas mães usarem esse artifício como um autoconsolo.
Eu explico: “se não pude manter ao meu lado o pai do meu filho, vou provar que não preciso dele para nada, que ele é dispensável, que sou muito mais capaz do que ele pode imaginar e que meu filho não depende dele para sobreviver!”
E assim, muitas dessas mães vão desqualificando a figura masculina sem perceber que é impossível que elas sejam pais: mulher pensa como mulher, age como mulher, acolhe como mulher.
Mulher é mãe, não é pai. A essência é feminina.
É claro que é muito delicado para essas mães colocar limites e acolher ao mesmo tempo, dar uma bronca e afagar.
Normalmente quando um dos pais ralha com a criança esta corre para buscar o conforto com o outro, ou quando um é permissivo demais o outro procura colocar limites.
Referências masculinas e femininas
A criança que não tem um dos pais (ou responsáveis por ela) em seu convívio, tende a estar mais à mercê de um único modo de ver a vida e aprender as coisas.
As famílias se estruturam da forma como se estruturam – pai, mãe e filhos – não é à toa. A referência feminina e a masculina são igualmente importantes para a formação dos filhos.
Se já é difícil cumprirmos um papel estabelecido por si só, imagine nos obrigarmos a cumprir dois papéis distintos no convívio com os filhos!
Às mães sem os pais de seus filhos por perto, às que não se uniram a outro parceiro, sugiro que cumpram o melhor que puderem o papel que lhes foi naturalmente designado: o de mãe.
A criança naturalmente vai eleger uma referência masculina para sustentar suas necessidades de amparo e visão masculinas sobre o mundo que as cerca.
Pode ser um tio, o avô, um amigo da família, ou mais tarde um professor e até mesmo o pai do amigo.
Para que mães sozinhas não se percam tentando atribuir a si mesmas um papel que não lhes cabe, vão aqui algumas dicas:
- Diga ao seu filho a verdade sobre o pai: ele não quis assumir essa responsabilidade talvez por insegurança, por imaturidade ou por impossibilidade de lidar com essa nova realidade na vida dele. Não transfira sua mágoa para seu filho, ele terá as próprias para aprender a lidar.
- Não deixe de ser feminina. Assumir atitudes rudes ou agressivas como forma de fazer valer sua autoridade deixará seu filho com uma referência feminina capenga e não preencherá a ausência do pai.
- Não superproteja seu filho fazendo-o acreditar que ele pode mais porque o pai está ausente.
- Coloque os limites necessários e dê um tempo para que seu filho absorva a bronca, mas não deixe de acarinhá-lo porque ele cometeu uma falta.
- Ensine a ele a retidão de caráter através de seu próprio exemplo, sem usar o pai ausente como exemplo negativo. Quando se reforça a imagem negativa do pai, se seu filho for um menino, em alguma instância poderá sentir-se “menor” por ser homem, e se for uma menina tenderá a não confiar na figura masculina, comprometendo suas relações futuras.
São muitas as mulheres que assumem as responsabilidades por seus filhos sozinhas e muitos homens também estão assumindo essas mesmas responsabilidades sem contar com a presença das mães.
E nem é preciso discorrer sobre o papel da mulher provedora nos dias de hoje. A sociedade mudou, os costumes mudaram.
Todos ainda estão se adaptando e, sendo imparcial, os homens estão encontrando um novo sentido na paternidade que não apenas prover o sustento e dar a palavra final. Isso está ficando para trás para a felicidade dos filhos.
Nem as mulheres são pais, nem os homens são mães. Ambos estão aprendendo a lidar com uma nova ordem social-familiar e as crianças têm uma competência natural para absorver suas realidades.
Mas as referências masculina e feminina continuam sendo importantes na formação e no desenvolvimento dos filhos.
Se eles puderem ter uma referência consistente da mãe/mulher, já terão encontrado, por “contraste”, um caminho saudável para identificar uma referência masculina adequada para suprir essa lacuna.
Portanto, não coloque sobre você uma carga desnecessária. Cumpra bem o papel que é seu, orgulhando-se por ser quem é: cem por cento mãe!
Psicoterapeuta holística com abordagem junguiana há mais de 30 anos e pós graduanda em Psicologia da Saúde e Hospitalar pela PUC-PR. Utiliza os florais, entre outras ferramentas como método de apoio ao processo terapêutico, como vivências xamânicas, buscando um pilar metafísico para uma compreensão mais ampla da vida, da saúde física e emocional.
Saiba mais sobre mim- Contato: celiacalima@gmail.com