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Você se veste de acordo com sua essência?

Transformações sofridas na vida refletem em seu guarda-roupa

Atualizado em

Roupas refletem sua autoestima

Seu jeito de se vestir já sofreu alguma transformação naquele momento da vida em que você adotou novos hábitos, ou uma visão de mundo diferente? Antes que o termo “moda” fosse diretamente associado à indústria de confecção de roupas e ao que está “em alta”, segundo a influência de estilistas e da mídia, a palavra era apenas um derivado do latim “modus”, que significa “modo”, “maneira” e “comportamento”.

O que escolhemos pegar do cabide ou comprar na loja pode revelar mais do que nosso estado emocional e psíquico, mas também valores e opções ideológicas. Assim, é muito interessante utilizarmos a análise sobre nosso estilo e opções de consumo como uma ferramenta de profundo autoconhecimento.

Influências externas e a construção da identidade própria

Lembro-me de quando eu era menina e não entendia por que as pessoas escolhiam usar uma peça de roupa preta. Meu armário era absolutamente colorido de tons vivos ou estampas. Mais para frente comecei a ouvir rock, e esse novo input musical e vibracional já influenciou o meu armário. Sem contar que na época eu havia sofrido a perda de um familiar próximo e estava vivendo meu primeiro inverno com temperaturas perto de zero. Após um período de introspecção, lá estavam as peças pretas.

Anos depois eu cheguei a trabalhar em uma empresa na qual era sinal de confiança e bom gosto vestir-se todo de preto. Na verdade, o CEO da empresa se vestia assim e inspirava essas qualidades. Como se fosse uma espécie de “osmose”, alguns integrantes da equipe se vestiam assim também, dando a impressão de que se tratava de uma atitude proativa naquele espaço.

O que significa usar mesma cor de roupa que alguém?

A psicanalista e mestre em filosofia, Juliana Genevieve, me explicou o seguinte, a respeito desses casos: “Existem dois âmbitos de escolha, um consciente e um inconsciente. Quando eu paro para pensar em que roupa eu vou usar e qual mensagem eu quero passar, isso sai da minha consciência, minha escolha racional. Se eu não penso no impacto que isso possa causar e simplesmente escolho por impulso, essa ação pode representar minha emoção daquele momento”.

Ainda segundo Juliana, construir nossa identidade própria – que também é fruto de todas as vivências e experiências que tivemos – é um sinal de maturidade e nos faz estar menos atrelados a estereótipos e tendências mercadológicas. “A questão do amadurecimento está relacionada a como eu me vejo, me percebo e estou para ser feliz. Quando você encontra essa essência, compõe sua identidade e ela se torna sua impressão digital”, explica.

O propósito nas escolhas do que vestir

Cito aqui dois exemplos muito legais de mudanças de olhar sobre a moda, a partir de análises conscientes da realidade. A Babi Mattivy, fundadora de uma marca de calçados veganos e ecológicos, me contou que sua identidade na moda está diretamente relacionada a não utilização de peças de couro. Essa mudança de olhar começou pela decisão de se se tornar vegetariana e, um tempo depois, vegana.

Depoimento Babi:

Imagem: Divulgação

“Tendo esse mindset, não fazia mais sentido algum usar o couro. Além da crueldade animal, que não se justifica, a agropecuária e o curtimento do couro são altamente poluentes e tóxicos para o meio ambiente. À medida que fui lendo e me informando sobre esses problemas, não fazia mais sentido incentivar ou mesmo utilizar o couro na minha vida e nas produções da minha marca”, conta Babi.

Já a jornalista e relações públicas Luciana Nunes, após trabalhar por anos com comunicação estratégica em moda, percebeu que seus valores não se identificavam mais com os da indústria tradicional e uma mudança na opção de consumo foi necessária. Para contribuir com essa realidade mais coerente e propagar um novo modelo de negócio, ela criou a iniciativa de um Guarda-Roupa Coletivo onde os usuários pagam um valor variável conforme o perfil do plano e têm acesso a um acervo de roupas “circular”.

Depoimento Luciana:

Imagem: Divulgação

“Como uma boa sagitariana que sou, sempre gostei de contar histórias e, depois de um tempo, vi que a maioria das roupas de marcas tradicionais do mercado contavam uma história triste, de injustiça social, falta de criatividade e irresponsabilidade ambiental. A partir desse momento, há quase três anos, parei de comprar em marcas como essas, principalmente nas ‘fast fashion’ e passei a investir em outras que estão fazendo esforços para construir uma nova realidade de mercado, mais sustentável e consciente. Montei essa iniciativa para trazer de volta à circulação peças especiais que amamos e que estão paradas em nosso guarda-roupa por falta de ocasião de uso ou algum outro motivo. Acredito que moda está diretamente ligada à autoestima e identidade; e o que apoiamos por meio do consumo diz muito sobre nossos ideais de vida e crenças”, contou Luciana.

Que tal aproveitarmos esse momento para fazermos mais algumas perguntas sobre nosso estilo pessoal? Reflita:

  • Nossas escolhas de roupas têm tido sintonia com a pessoa que somos ou desejamos ser?
  • Quais cores nos fazem mais feliz?
  • Quais marcas nos trazem mais identificação e por quê?

Fazer uma pequena pesquisa de opinião com nossos amigos mais próximos e familiares, sobre o que mais combina conosco, ou mesmo considerar contratar uma consultora de estilo ou visagista, são ações que podem nos ajudar nesse processo. Uma boa “limpa” no guarda-roupa ou a utilização de técnicas como o “armário-cápsula” (escolha de 30 a 40 peças para usar por estação e armazene o restante) também são ótimas medidas para percebermos o que mais temos usado e programarmos melhor nossas compras. Aprofundar o olhar sobre questões cotidianas como essas certamente nos ajudará a nos tornarmos pessoas mais seguras e especiais!

Gabriela Machado André

Gabriela Machado André

Jornalista especializada em Comunicação e Educação Ambiental, é criadora do blog Roupartilhei e desenvolve conteúdos sobre moda, sustentabilidade e inovação. roupartilhei@gmail.com

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