Pesquisar
Loading...

Você tem a síndrome da vagina da Barbie?

Problema conhecido como síndrome da vagina da Barbie faz mulheres não gostarem da própria vulva e prejudica orgasmo

Atualizado em

Quase todo mundo tem alguma insatisfação com o corpo. Entre as mulheres existe a síndrome da vagina da Barbie, que a faz desejar ter uma vagina similar à da famosa boneca: lisa, simétrica e sempre com a mesma aparência.

Como muitos padrões estéticos, esse é um objetivo inalcançável. E o pior: prejudica, consideravelmente, o prazer sexual da mulher.

A seguir, descubra como surgiu a síndrome da vagina da Barbie, por que esse padrão não é real e como mudar a imagem que você tem da sua vulva.

Causa da síndrome da vagina da Barbie

Essa falsa imagem que temos de como “deve ser” uma vulva não vem do nada. Boa parte da responsabilidade é dos conteúdos pornográficos, como filmes e fotos eróticas.

Nesses materiais adultos, as vaginas são representadas de forma quase infantilizada: sem pelos, rosadas, simétricas… E irreais!

Já atendi diversas atrizes pornôs, e muitas delas me confidenciaram que maquiavam suas vulvas antes das gravações. Além disso, seus vídeos eram editados para que as vaginas fossem ainda mais modificadas.

A verdade é que cada mulher tem uma vagina diferente. Seria impossível padronizar como uma vulva deve ser já que, anatomicamente, uma jamais será igual à outra.

Sua vagina muda tanto quanto você

Já reparou que sua vulva não tem sempre a mesma aparência? É natural que, ao longo dos anos, ela mude fisicamente.

Por exemplo, após a menarca (primeira menstruação), a vulva da menina se modifica. Ela pode ficar com mais pelos, mais carnuda ou com os lábios maiores.

Durante ou depois da gestação, é normal a vagina escurecer ou inchar. Já na menopausa, ela tende a atrofiar, ou seja, diminuir de tamanho, além de ficar menos rosada ou vermelhinha.

Com o tempo, toda vulva escurece, seus lábios engrossam e ficam mais compridos e assimétricos, podendo também apresentar algumas manchas. E a pele que envolve o clitóris, chamada de prepúcio, costuma aumentar.

Além disso, a pele da vulva não tem muito colágeno. Então, ela não se manterá lisa ou firme durante a vida adulta. Pelo contrário, suas fibras possuem uma propriedade mais elástica, proposital para nosso conforto, seja para facilitar a hora do parto ou não incomodar no sexo.

80% das mulheres que atendo sofrem da síndrome da vagina da Barbie. As reclamações mais frequentes são a falta de simetria, quando, por exemplo, os lábios internos são maiores que os externos, ou a pele extra que costuma crescer em volta do clitóris.

Ninfoplastia pode acabar com o prazer

Por conta da síndrome da vagina da Barbie, muitas mulheres decidem fazer uma cirurgia plástica chamada ninfoplastia. No entanto, essa prática pode acabar com a sensibilidade vaginal e, consequentemente, dificultar o orgasmo.

Apesar da ninfoplastia ser uma das cirurgias mais realizadas no Brasil, não existem estudos científicos na área que abordam seus riscos. Sabemos que, para serem aprovados, os artigos científicos precisam passar pelo comitê médico.

Portanto, existe a dúvida se os profissionais, de fato, não sabem que esse tipo de cirurgia pode prejudicar o orgasmo e o prazer feminino ou se essa informação não é divulgada por ser rentável para essa indústria.

De todo modo, apesar do atraso acadêmico em relação a isso, minha prática clínica de mais de 10 anos comprova o que estou dizendo.

Por exemplo, recentemente atendi uma paciente que costumava ter orgasmos múltiplos durante o sexo. Por uma questão estética, ela decidiu operar o prepúcio e os lábios vaginais internos, pois os achava feios.

Depois disso, ficou anorgásmica, ou seja, incapaz de sentir prazer. Isso aconteceu porque a cirurgia afetou sua genital de forma irreversível.

Foi preciso uma terapia íntima longa e demorada para que ela descobrisse novas formas de sentir prazer na cama. Mas os orgasmos intensos que sentia antes nunca mais foram possíveis.

Portanto, se nenhuma alteração da sua vulva compromete a funcionalidade do órgão, faço um apelo para que trate sua síndrome da vagina da Barbie sem cirurgia. Busque a terapia para melhorar esse incômodo e enxergar sua vagina de outra forma.

Falta de autorrespeito

A vagina é o simbolismo do seu feminino, da sua linhagem: sua mãe, avó, bisavó, tataravó e toda sua ancestralidade, ligada a você, através deste canal. Portanto, a genital feminina representa a sabedoria de todas essas mulheres que carregamos em nosso DNA.

Daí a importância de ressignificar a imagem que tem de sua vagina. Perceba que esse é um símbolo de autorrespeito e amor próprio.

A partir dessa mudança de percepção, você inicia um novo momento com a sua intimidade. Assim, passará a viver uma sexualidade mais liberta, com carinho, respeito, amor e verdade em relação a si mesma.

Nesse sentido, recomendo que toda mulher, ao menos uma vez na vida, se submeta a uma técnica milenar chamada Reconsagração do Ventre. Este método terapêutico consiste em limpar as memórias celulares que ficam registradas em nosso útero e canal vaginal.

É nesses órgãos que guardamos todas as nossas experiências de vida, sejam positivas ou negativas. Quando acumulamos muitas memórias nocivas em nosso útero ou vagina, esses registros vão repercutindo negativamente em nossas vidas, modificando nossos pensamentos, comportamentos e emoções.

Isso tende a gerar problemas amorosos e sexuais ou, em casos mais graves, até prejudicar a saúde íntima. O resultado pode ser doenças como endometriose, ovário policístico, infecção urinária, entre outras.

Portanto, a melhor forma de ressignificar a relação com sua própria vagina é tirando dela as memórias de dor, traumas e repressões ali registradas.

Exercício: olhe para sua vulva

Apesar da Reconsagração do Ventre ser a técnica mais eficaz para limpar as memórias que prejudicam sua sexualidade, existe um exercício que pode ser feito para mudar seu olhar à vulva. Aliás, você olha para ela?

A proposta é que faça isso a partir de agora. Sempre oriento minhas pacientes a olharem sua região íntima no espelho, criando uma relação de intimidade com ela.

Então, pegue um espelho no qual consiga ver sua vagina e, sem calcinha, posicione-o de frente para ela. Comece a olhar sua vulva e examiná-la. Isso é muito importante para mudar esse autojulgamento impiedoso.

Veja suas cicatrizes, gordurinhas ou assimetrias como parte de você e da sua história. Sinta amor por esta parte tão importante. Descubra quais partes da vagina te dão mais prazer. Toque nela!

Faça isso diariamente para se familiarizar com sua genital, deixando de enxergar defeitos. Assim, você passa a associar sua vulva a algo “sagrado”, que serve para te proporcionar gostosas sensações.

É primordial que trabalhe as questões psicológicas que a fazem ter a síndrome da vagina da Barbie. Amá-la, da forma como ela veio ao mundo, é um caminho rápido e poderoso para fortalecer sua autoestima e melhorar sua vida sexual.

Roberta Struzani

Roberta Struzani

Especialista em Sexualidade e Ginecologia Natural. Pioneira no estudo de Ginástica Íntima e Reconsagração do Ventre no Brasil, contribuiu para a formação de diversas terapeutas e desenvolveu um trabalho personalizado que traz benefícios para a saúde da mulher, do físico ao emocional.

Saiba mais sobre mim