Corrimento branco vaginal sinaliza chance de engravidar
Mucos produzidos pela mulher funcionam como métodos contraceptivos
Por Roberta Struzani
Sabe aquele corrimento branco que o corpo da mulher libera? Ele é natural e ocorre em momentos específicos do seu ciclo menstrual.
O corrimento branco aparece mais especificamente no período fértil, na fase pré-menstruação e durante a menstruação – e é chamado de muco. Os sinais enviados pelo corrimento branco são tão certeiros que alguns países utilizam o muco como método contraceptivo natural.
Os médicos australianos Dr. John e Dra Evelyn Billings desenvolveram o “método de ovulação”, que consiste em evitar relações sexuais nos períodos férteis – descobertos apenas pelos sinais apresentados no muco vaginal – sim! Por esse corrimento branco.
Afinal, não é possível engravidar se o espermatozoide não encontrar óvulo na trompa uterina – algo que só acontece durante o período de ovulação da mulher.
Tipos e significados do corrimento branco
Antes de você entender os diferentes tipos de corrimento branco, é importante compreender seu ciclo menstrual – que não deve ser confundido com a menstruação. O ciclo menstrual ocorre ao longo de um mês inteiro e começa a ser contado no primeiro dia que você menstrua.
O tempo ideal e comum de um ciclo é exatamente 28 dias, assim como a fase da lua. No entanto, em algumas mulheres o ciclo pode ocorrer em um intervalo de tempo um pouco maior ou menor.
O ciclo menstrual é dividido em três fases e em cada uma o corpo da mulher produz um tipo diferente de muco. Veja abaixo.
1 – Corrimento branco do período não-fértil
Na fase folicular, é possível observar um muco meio pastoso, sem muita consistência e elasticidade, sinalizando momento não-fértil. A fase ocorre aproximadamente no 14º dia após a menstruação e tem esse nome por conta do hormônio folículo-estimulante (HFS), que estimula o crescimento de folículos no ovário.
A cada ciclo menstrual um desses folículos entra em atividade com o hormônio HFS, que vai amadurecendo para, posteriormente, dar origem ao óvulo.
Enquanto isso acontece no ovário, lá no útero a camada interna começa a crescer e ficar mais espessa.
Como dizem popularmente, vai “preparando o bercinho” para um possível embrião, o que acontece graças ao aumento do hormônio estrogênio. No entanto, este hormônio ainda não está no seu ápice, pois na fase folicular é liberado apenas um pouquinho dele.
2 – Corrimento branco que sinaliza período fértil
A fase ovular sinaliza o período fértil da mulher. Neste período, o corpo sinaliza isso por meio de um muco clarinho, parecendo clara de ovo.
Este fluido é bastante elástico e demora para arrebentar quando você o coloca entre os dedos e afasta um do outro, como na foto abaixo.
Nesse período existe também outro muco, sem consistência, que parece água. Ao passar o dedo na vagina, ela estará constantemente umidificada, quase que lubrificada.
Levando em conta a sobrevida do espermatozoide, existe certa possibilidade de engravidar enquanto o corpo da mulher está produzindo este muco, mas ainda não é o ápice da fertilidade – este só ocorre quando o muco passa a ter as características apresentadas na foto acima.
Nesta fase, o folículo – que começou a crescer na fase anterior, a folicular – se desenvolve completamente e dá origem ao óvulo. O momento que identifica o final da fase folicular e o início da fase ovular é a liberação do hormônio luteinizante (LH), que estimula o rompimento do folículo e a liberação do óvulo, que será direcionado para a trompa do útero.
Agora o estrogênio está no seu ápice, sendo responsável pelo aumento do desejo e liberação de feromônio, que é exalado pelos poros e atrai o sexo oposto, deixando-o mais envolvido e excitado.
Apesar do período fértil ter mais de um dia no aspecto emocional – no qual a mulher apresenta mais libido e sedução, cabelos sedosos, pele corada, entusiasmo, vontade de se divertir e paquerar, além de outros sinais únicos femininos – a ovulação em si só ocorre em um período de 24 horas.
Depois disso, o óvulo começa a se degenerar e não é mais possível fecundá-lo. No entanto, alerto que, para evitar uma gravidez, a mulher não deve focar apenas na prevenção durante o período exato de ovulação.
Como o tempo de vida do espermatozoide é de, no máximo, 72 horas (3 dias), ele pode sobreviver na trompa uterina – mesmo que a ejaculação no canal vaginal ocorra fora do período fértil – e fecundar o óvulo em seguida, quando o óvulo maduro for liberado no período da ovulação.
Portanto, o ideal é levar em conta uns quatro ou sete dias de período fértil, por questão de segurança. Caso saiba o dia exato fértil, previna a ejaculação no canal vaginal três dias antes desta data.
Já se sua intenção é engravidar, esses são os dias ideais. Melhor ainda seria se o seu parceiro conseguisse ficar alguns dias sem ejacular para que no ato ele libere a maior quantidade possível de esperma.
3 – Corrimento branco da fase lútea
Depois do tempo de ovulação, o folículo começa a se desintegrar e liberar hormônios, virando o que chamamos de corpo lúteo, cujas células produzem estrogênio e quantidade alta de progesterona.
Cerca de duas semanas após a ovulação, os níveis de progesterona caem e aquela camada grossa do útero começa a se descamar, dando início à menstruação, ou seja ao início de um novo ciclo.
No início da descamação um novo muco vaginal irá sinalizar uma pré-menstruação. Este muco tem cor mais opaca e sua textura é espessa, assemelha-se a um creme hidratante. Se colocá-lo entre os dedos, não tem nada de elástico.
Além do muco sinalizar o período do seu ciclo, ele também tem a função de facilitar ou dificultar a locomoção do espermatozoide. Quanto mais espesso, maior a dificuldade do espermatozoide se locomover, morrendo rapidamente.
Como avaliar o seu corrimento branco vaginal?
O melhor período para avaliar o corrimento branco vaginal é pela manhã. Durante a madrugada – quando a mulher está dormindo e relaxada – o corpo trabalha melhor e, com isso, os hormônios do ciclo menstrual ficam bastante atuantes, assim como a progesterona, que causará a produção de um muco vaginal espesso.
Portanto, assim que acordar, introduza o dedo bem no fundo da vagina e tente molhá-lo no colo do útero (final da vagina e começo do útero). Depois disso, avalie.
Outra forma de avaliar é ao secar a vulva com papel higiênico após urinar.
Veja qual desses métodos de avaliação é mais fácil para você, afinal, algumas mulheres têm mais muco que outras, tornando mais fácil ou mais difícil a percepção.
Algumas mulheres não apresentam muco
Quando a mulher tem ciclo menstrual muito curto, como de 25 dias, por exemplo, ou ainda quando ela menstrua durante muitos dias (por exemplo, mais de 7), não é possível observar o muco.
Nesses casos, os últimos dias de menstruação praticamente coincidem com o período fértil, impedindo a observação, já que o resto de menstruação se mistura com o surgimento do muco.
Muco é diferente de corrimento vaginal?
Não é errado se referir ao muco como “corrimento vaginal”, já que este também é um tipo de fluido produzido pela vagina. O nome correto dado ao corrimento – aquele que representa alguma disfunção no organismo – é “leucorreia”.
A forma mais fácil de diferenciar o muco vaginal da leucorreia é por meio dos sintomas que aparecem junto com o corrimento, como, por exemplo: cheiro forte, irritação, ardor, vermelhidão ou comichão na vagina ou vulva.
A causa do corrimento (leucorreia) está relacionada com alguma doença ginecológica ou irritação. Além disso, após a menopausa a mulher também pode apresentar corrimento, por conta da atrofia do útero.
A vagina tem PH ácido para se defender de agentes nocivos que vêm de fora e entram na vagina durante o sexo ou até mesmo por higienizar de forma errada a vulva após urinar. Com essa acidez vaginal, as bactérias não sobrevivem.
No entanto, alguns maus hábitos como, por exemplo, usar sabonete de corpo na vulva, alteram o PH e retiram a proteção da vagina, fazendo com que bactérias e fungos se proliferem com maior facilidade. Isso pode gerar infecções ou inflamações, que dão origem à produção de secreção, que é a leucorreia – popularmente conhecida como corrimento vaginal.
Doenças que causam corrimento vaginal (leucorreia)
Veja abaixo alguns exemplos de doenças íntimas que geram a produção de corrimento vaginal:
Candidíase
A cândida é um fungo natural da flora vaginal, mas qualquer desarranjo do organismo, como uso excessivo de antibióticos, muito estresse, diabetes, traumas, excesso de lubrificação e alteração da flora vaginal com a gestação, podem ocasionar a proliferação deste fungo e gerar a candidíase. Você pode saber mais sobre candidíase e seu tratamento aqui.
- Tipo de corrimento: se assemelha à nata de leite, é espesso e esbranquiçado, que pode ser comparado também ao queijo cottage.
Gonorreia ou Clamídia
Doença sexualmente transmissível (DST), causada pelas bactérias “neisseria gonorrhoeae” e “chlamydia trachomatis”. Ambas causam infecção do colo do útero, causando corrimento vaginal.
- Tipo de corrimento: amarelo turvo e mucopurulento.
Tricomoníase
Também é uma DST causada por um protozoário chamado “trichomonas vaginalis”. Pode se apresentar assintomática por muito tempo.
- Tipo de corrimento: quando apresenta corrimento é do tipo fino e amarelado ou esverdeado.
Vaginose bacteriana
Essa é a maior causa de corrimento, ocorre através de uma infecção por qualquer tipo de alteração da flora vaginal normal, resultando na redução das bactérias boas da vagina, que protegem-na das bactérias nocivas.
Neste caso, a diminuição de lactobacillus faz com que a acidez diminua e as bactérias se proliferem mais, portanto a dica é usar sabonete íntimo com lactobacillus na fórmula.
- Tipo de corrimento: fino e acinzentado, com odor muito forte, comparado muitas vezes ao cheiro de “peixe”.
Alergia
Pode ocorrer pelo uso de lubrificantes, camisinhas, perfumes, espermicidas, sabonetes, produtos de higiene íntima ou produtos sensuais e até pelo sêmen do parceiro. Tudo isso pode causar uma reação de inflamação, gerando o corrimento vaginal.
- Tipo de corrimento: branco, parecendo pus.
Outras causas
Outras causas menos comum do aparecimento de corrimento são: câncer no colo do útero, herpes genital, infecção por HPV, camisinha perdida no canal vaginal ou restos de produtos eróticos de fabricação ruim ou pequenos pedaços de algodão de absorvente interno. Tudo isso pode gerar inflamação e infecção, causando corrimento.
Como identificar o corrimento pela cor e aspecto
O corrimento vaginal acontece por conta de alguma alteração na vagina, seja por bactérias, fungos, inflamação, infecção ou doença. Saiba identificar os diferentes tipos:
Marrom
Resto de menstruação, ou início do período menstrual, sangue coagulado por traumas ou infecções, câncer ginecológico (mais raro) ou início de gravidez.
Amarelado
Geralmente é sinal de infecção ginecológica. Se for o caso, costuma vir associado a sinais de mau cheiro, coceira, ardência.
Branco
Pode ser muco vaginal, como já explicado. Mas se vier associado a sintomas e for constante dia após dia, pode ser candidíase.
Cor de rosa
Início de menstruação ou de gravidez ou pós-parto.
Após identificar que está com corrimento e não muco vaginal, é necessário que faça uma consulta médica, para que o ginecologista colete o corrimento no colo do útero e faça uma investigação microscópica e cultura desta amostra.
Como prevenir o surgimento de corrimento vaginal?
Não há um tratamento geral para corrimento, pois é preciso descobrir suas causas e tratá-las individualmente. Mas é possível prevenir o aparecimento deste problema indesejável. Veja abaixo como.
Higiene íntima para saúde genital
- Lave a genital com sabonete íntimo, e não com sabonete comum. Neste caso, é preciso encontrar o produto ideal para você, pois enquanto algumas mulheres tem PH mais ácido e se adaptam a qualquer sabonete íntimo, outras são mais alcalinas e têm maior facilidade de irritação. A ideia é que avalie qual produto se adequa exatamente às necessidades do seu organismo.
- Mantenha a região íntima sempre sequinha: após o banho e urinar, seque bem. Se houver extrema umidade genital – como nos casos de gestação e de candidíase – seque a vulva com o próprio secador de cabelo, mas é preciso que o aparelho esteja no modo frio.
- Evite usar desodorantes íntimos molhados, de preferência opte pelos que possuem jato seco.
- Sabe aquela indicação de que a calcinha de algodão é a melhor pedida para a saúde intima? Nem sempre é verdade. O algodão retém líquido, portanto, mulheres muito úmidas ou com candidíase devem optar por ficar o maior tempo possível sem calcinha ou optar por calcinhas sintéticas e evitar calça jeans. O ideal é usar diversos tipos de lingerie e observar qual sua genital se adapta melhor.
Especialista em Sexualidade e Ginecologia Natural. Pioneira no estudo de Ginástica Íntima e Reconsagração do Ventre no Brasil, contribuiu para a formação de diversas terapeutas e desenvolveu um trabalho personalizado que traz benefícios para a saúde da mulher, do físico ao emocional.
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