Dificuldades com colegas de trabalho têm origem no seu lar
Questões mal resolvidas na família são projetadas nas relações profissionais
Por Celia Lima
São muitas as pessoas que se queixam sobre o quanto é difícil suportar um chefe, um colega ou uma equipe no ambiente de trabalho. Geralmente elas são perseguidas, tratadas com agressividade ou desdém. Às vezes são isoladas, ignoradas ou culpadas por todos os erros e perdas de prazo, além de incompreendidas em seus atrasos ou ausências.
Ainda que sejam competentes – e normalmente o são – sentem que não conseguem ser reconhecidas, veem seus parceiros conquistando promoções, cursos de aperfeiçoamento, viagens e aumentos de salário, enquanto elas, que tanto merecem, ficam estagnadas por muito tempo.
O chefe ganha outra posição, uma nova liderança chega, os colegas saem em busca de outras oportunidades e essas pessoas continuam no mesmo lugar, por vezes buscando cumplicidade em seus pares e imaginando que a queixa diária possa levá-las a algum lugar, quando só o que conseguem é a posição de vítima. Será mesmo que são pessoas injustiçadas como querem parecer ser?
Trabalho não é extensão da família
O ambiente de trabalho é também um núcleo social, no qual muitas relações se estabelecem. São diversas histórias pessoais e múltiplas personalidades convivendo a maior parte do dia e, consequentemente, se relacionando em vários níveis. Amizades se formam e se consolidam, relações afetivas acabam por acontecer e desafetos surgem.
Quando não se tem maturidade suficiente, é comum desejar transformar o ambiente de trabalho num lugar amistoso, coloquial e suave. Como se fosse uma extensão da família ou como se naquele local fosse possível constituir uma família, normalmente aquela ideal que, via de regra, não possuímos em casa.
Esquece-se que estamos lá para desempenhar um papel, trabalhar, alcançar um resultado, fazer o que fomos contratados para fazer.
É claro que para obtermos resultados, as relações precisam ser amistosas e de cooperação, mas isso não é um fim em si mesmo. Especialmente em grandes corporações, mas também em empresas menores, a cordialidade e o espírito de cooperação são em função da obtenção dos resultados, e não o contrário!
Qual a razão de suas dificuldades no trabalho?
O que acontece, então, quando o ambiente de trabalho se torna um fardo em função das relações que vão se tornando cada vez mais difíceis e frustrantes? Para começar a compreender, é preciso fazer uma análise de como suas relações familiares estão estabelecidas. Vejamos:
- Você tem um pai, uma mãe ou uma figura de autoridade desafiadora em casa? Alguém que lhe dá ordens, grita, se impõe sem disposição para ouvi-lo?
- Você tem um irmão que é o preferido de um dos pais? Aquele que consegue tudo em detrimento de suas necessidades?
- Você tem irmãos ou primos com quem desejaria desenvolver uma relação mais próxima, mas se sente excluído ou rejeitado?
- Você se considera o “patinho feio” da família? A ovelha negra?
- Você espera reconhecimento e consideração no ambiente familiar, ou se sente incompreendido pelas pessoas que o cercam?
Fazendo uma reflexão a respeito dessas perguntas e considerando que essas situações podem ter sido marcantes em sua infância e adolescência, podemos começar a compreender a razão de suas dificuldades no ambiente de trabalho.
Antes de tudo, devemos lembrar que a vida vai nos colocando em situações específicas de aprendizado. Ou seja, inconscientemente nos colocamos nos cenários apropriados para fazermos uma revisão da nossa história, de tudo o que ficou por resolver, especialmente no campo afetivo.
Isso considerado, se transportarmos essas dificuldades para a questão profissional, podemos gradativamente estabelecer um paralelo com os personagens de nossa história de vida:
- Seu chefe, líder ou superior. Essa pessoa representa a figura de autoridade, portanto, a autoridade paterna ou materna. Não será difícil que você se depare com alguém agressivo ou insensível no posto de comando se experimentou isso em seu lar. E não será surpresa se você desafiar essa figura em diversos níveis: não cumprindo ordens, se atrasando constantemente ou negligenciando prazos. E, assim, provavelmente será tratado com agressividade e submetido a situações humilhantes. No fundo, você quer ser considerado, reconhecido e respeitado, não exatamente por esse superior, mas pelo pai ou mãe que não lhe deu esse alimento afetivo na família. A criança não se sente potente para desafiar a autoridade paterna porque existe ali um vínculo afetivo que ela teme perder. Mas com o chefe não existe esse afeto, então você se sente livre para desafiá-lo sem correr riscos, pois no máximo perderá o emprego.
- Seu colega de trabalho que é privilegiado, mesmo se comportando da mesma forma que você. Essa pessoa pode representar o irmão preferido, fazendo com que você se sinta injustiçado como se sentia em casa. A equipe que não envolve você nos trabalhos é o espelho dos irmãos ou primos que o deixavam de lado. O parceiro de trabalho que se veste impecavelmente ou que mostra uma cultura ou modos diferenciados vai acionar a baixa autoestima que acompanhou você na infância ou adolescência.
Enquanto não houver a compreensão de que você projeta no ambiente profissional suas questões mal resolvidas no lar, a situação vai se repetir de uma forma ou de outra, mesmo que você mude de emprego constantemente.
Isso fará com que tenha a sensação de ser vítima das situações, quando na verdade você é vítima de si mesmo, de sua inconsciência sobre seus processos.
Como resolver esse impasse?
De uma forma prática, é fundamental que se tenha em mente que você possui uma função específica em seu local de trabalho. Você foi contratado para desempenhar determinada função, tem um horário para entrar e outro para sair, além de metas a cumprir. Quanto mais você exercita sua capacidade intelectual e coloca seus conhecimentos a favor do que escolheu fazer, mais profissionalmente realizado se sentirá. Você está ali para trabalhar e, embora as relações se estreitem conforme vamos conhecendo melhor as pessoas, o objetivo principal é seu desenvolvimento profissional e a obtenção de resultados: você tem uma tarefa a cumprir.
É bom lembrar também que cada uma das pessoas traz consigo suas próprias marcas familiares. Assim sendo, o chefe estúpido ou o colega que vive puxando o tapete dos outros está, também erroneamente, levando ao ambiente profissional suas dificuldades de relacionamento, seus traumas e valores equivocados. Portanto, não entenda como pessoal as agressões ou rasteiras, pois você também é alvo de projeções. Mantenha uma atitude distanciada desses percalços, focando nos resultados esperados, no trabalho a ser desempenhado. Afinal, aquela figura não é seu pai, nem sua mãe, nem seu irmão – e você pode calmamente chamar a pessoa para conversar sobre o problema a ser resolvido.
Além disso, pode evitar discussões ou situações constrangedoras com frases simples:
- “Estou reparando que você está muito nervoso. Vamos tomar um café?”
- “Vamos falar sobre isso daqui a pouco? Agora preciso ir ao banheiro.”
- “Por que você está gritando comigo? Vamos conversar com calma!”
- “Por que, mesmo, você está tento essa atitude agressiva?”
Isso será mais fácil à medida que você se conscientizar de que, ali, é um profissional, e não uma criança indefesa.
Algumas reflexões mais profundas podem ajudar você a deslanchar na carreira, sem que se sinta vítima de tramas inexistentes. Mas caso sinta a necessidade de ir mais fundo para poder compreender e transformar seus sentimentos e atitudes, não hesite em procurar ajuda profissional. Quando algumas situações em nossa vida são recorrentes – e isso pode acontecer tanto no ambiente profissional, como nas amizades, nas relações afetivas e com os filhos – certamente não aprendemos a lição que elas nos trazem e será preciso investigar seus motivos.
Vale lembrar que essas reflexões não são úteis apenas para quem se vitimiza, mas também para quem se reconhece no lugar do algoz: ser agressivo, querer sempre estar no lugar do outro, destruir a imagem de alguém para ocupar um lugar de destaque, constranger colegas ou colaboradores com comentários inapropriados…Tudo isso merece um olhar atento para que se possa ter e proporcionar relações mais pacíficas e amigáveis no trabalho e na vida.
Psicoterapeuta holística com abordagem junguiana há mais de 30 anos e pós graduanda em Psicologia da Saúde e Hospitalar pela PUC-PR. Utiliza os florais, entre outras ferramentas como método de apoio ao processo terapêutico, como vivências xamânicas, buscando um pilar metafísico para uma compreensão mais ampla da vida, da saúde física e emocional.
Saiba mais sobre mim- Contato: celiacalima@gmail.com