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“Meditar é igual a tomar banho”

Monge tailandês explica que Meditação "lava a mente" e deve ser hábito diário

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Você certamente nunca ouviu falar que a Meditação pode ser comparada a alimentar um macaco ou que para fortalecer a mente é simplesmente preciso pará-la. O monge Venerable Burin Thitakusalo (foto abaixo), por meio de metáforas inusitadas como essas e uma forma simples e didática de se expressar, leva o ensinamento desta prática a diversos países e culturas de forma diferenciada.

O objetivo de seu trabalho é mostrar o impacto que a Meditação pode ter em mudar as vidas das pessoas. Aliás, o monge arrisca dizer que os benefícios desta prática vão além de deixar as pessoas felizes e mais saudáveis.

“Imagine se todos tivessem a habilidade de controlar as emoções e manter a mente pacífica nos momentos de dificuldade? Teríamos um mundo melhor, sem conflitos e guerras em lugar nenhum”, afirma.

E se você acha que não tem tempo para incorporar este hábito na sua vida, o monge lhe desafia a reavaliar esta crença: “uma forma de olharmos para a Meditação é encarando-a como um banho para a mente. Você acha que tomar banho todos os dias leva muito tempo?”.

* Na foto acima, Monge Venerable Burin Thitakusalo. Imagem de: Pintusorn Suttiponpisarn (Ploy)

Personare: O Brasil ocupa o 1º lugar no ranking mundial de transtornos de ansiedade, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). De que forma a Meditação ajuda a combater males como depressão e ansiedade?

Monge Ven. Burin Thitakusalo – No mundo moderno, todos nós temos um nível de estresse muito elevado. A Meditação é como um “banho para a mente”. Sem ela, vamos coletando o estresse e criando camadas cada vez mais densas, o que deixa sentimentos como a depressão mais fortes. Quando praticamos a Meditação de 10 a 15 minutos diariamente, começamos a nos sentir mais leves e a nos libertar desse processo de estresse.

Então, o principal objetivo da Meditação é acalmar a mente e desacelerar o ritmo de vida das pessoas?

MVBT- A Meditação ajuda a trazer o equilíbrio para a mente, e não só acalmá-la. A ideia principal é: para o corpo estar forte, precisamos movimentá-lo com exercícios. Mas, para fortalecer e motivar a mente, é preciso pará-la.

Para o corpo estar forte, precisamos movimentá-lo com exercícios. Mas, para fortalecer e motivar a mente, é preciso pará-la.

Quando a mente se movimenta demais, se torna fraca. Meditar traz tranquilidade e isso devolve a força. Você precisa desacelerar um pouco para combinar este estado de paz na sua mente – não significa ir devagar demais, sem ser ativo, e nem com muita rapidez. O ideal é agir no caminho do meio, de forma equilibrada, e não atropelar tudo quando o ritmo acelera. Por isso, a Meditação consegue trazer clareza e força para corpos e mentes.

Por que é preciso encarar a Meditação como um método preventivo e não apenas como tratamento?

MVBT- A prevenção é a coisa mais importante na saúde. Os médicos dizem que é melhor prevenir do que ter que depois lutar contra uma doença. Não precisamos desenvolver uma depressão para só depois aprender a meditar. É preciso ser proativo e fazer a prevenção, usando a técnica para ser mais feliz e saudável. Dessa forma, sua mente fica livre da negatividade e do estresse.

Uma das dificuldades encontradas durante a prática de Meditação é conseguir se desligar dos pensamentos que dominam a mente o tempo inteiro. O que fazer para entrar em estado de total concentração?

MVBT- Buda falou que nossa mente é como um macaco que fica pulando o tempo inteiro. Com a prática contínua da Meditação, você vai achar a banana – que é a paz interior – para o seu macaco.

Com a prática contínua da Meditação, você vai achar a banana – que é a paz interior – para o seu macaco.

Através da prática diária, sua mente vai ficar cada vez mais acostumada à tranquilidade. Quando sua mente acha essa paz interior, ela para de “viajar” tanto, porque, assim como o macaco que achou a banana e vai comê-la diariamente, a paz interior estará sempre presente. A prática traz a perfeição.

A meditação já é reconhecida cientificamente, pois diversos estudos, como os das universidades de Harvard e da Califórnia, comprovam seus benefícios na saúde do ser humano. Quais são as vantagens da difusão desta técnica?

MVBT- Tenho uma ideia muito simples: o crescimento da Meditação vai beneficiar este mundo tão rapidamente quanto pessoas felizes conseguem tornar outras pessoas felizes. Se meditarmos e nos tornarmos mais saudáveis, nos sentiremos mais vivos e alegres e, assim, mais pessoas seguirão este exemplo. Teremos mais pessoas felizes no mundo e no Brasil. E a tendência é que não haja mais conflitos e guerras em lugar nenhum.

Aqui no Brasil não temos uma cultura que incentive a prática de Meditação. Por isso, ainda existe o pensamento de que é preciso tempo para meditar, o que faz com que muita gente prefira não praticá-la. Como é possível incorporar esta prática no dia a dia?

MVBT- Uma forma de olharmos para a Meditação é encarando-a como um “banho para a mente”. Você acha que tomar banho todos os dias leva muito tempo? Não muito, não é mesmo? Mas, ainda assim, o seu corpo consegue sentir os benefícios deste hábito, você se sente mais leve por estar limpo. Então, minha sugestão é que reserve a mesma quantidade de tempo para “banhar sua mente”, começando com 5 ou 10 minutos de prática. Pode ser antes de trabalhar ou de dormir. Isso não tira tanto tempo do seu dia e é uma boa forma de trazer a Meditação para a sua vida.

A Meditação foi incluída no Sistema Único de Saúde do Brasil. Isso significa que um número maior de pessoas terá acesso a ela. Você acredita que isso é um avanço para o país?

MVBT- Eu penso um pouco diferente, não é um avanço, mas sim voltar para o básico – e nós precisamos disto no Brasil. Imagine se todos os brasileiros tivessem a habilidade de controlar as emoções e manter a mente pacífica nos momentos de dificuldade da mesma forma que sabem tomar um banho? Teríamos um Brasil melhor, de volta a dias melhores, um tempo onde as pessoas podem ser felizes e gentis umas com as outras… Devíamos ter isto como básico no dia a dia.

Você é diretor do Middle Way Meditation Institute (MMI) há 11 anos, que leva os ensinamentos da Meditação a diversos países. Como é lidar com diferentes pessoas e provocar uma mudança em seus estilos de vida?

MVBT- Eu vou quase todo mês para um país diferente, com culturas bem diferentes. Tenho princípios básicos de como posso entender as pessoas e causar um impacto que mude suas vidas. Primeiro, sou um bom ouvinte. Procuro me esvaziar para realmente entender o outro e não deixar nenhuma das minhas experiências anteriores bloquear meu entendimento.

Escuto com atenção e empatia, recebendo o que estão dizendo e conseguindo captar todo o significado, não metade dele ou menos.

Essa é a regra número um: escute profundamente o que as outras pessoas dizem. A segunda coisa é: eu observo a necessidade das pessoas e dou o que elas precisam, e não o que eu quero dar. Percebe como estas duas questões estão conectadas? Quando você realmente entende o que as pessoas precisam, dá o que elas precisam e, consequentemente, causa felicidade na vida dela.

Pode dar um exemplo de como adaptar o ensino da Meditação para diferentes culturas?

MVBT- Eu vou para os Estados Unidos ou para a Alemanha e eles são bem disciplinados. Alguns até disciplinados demais, o que gera estresse. Então, quando ensino Meditação para essas pessoas, devo enfatizar o relaxamento, já que elas não estão relaxadas. Enquanto elas conseguem relaxar bem, a consistência e a seriedade da prática não se tornam um problema.

Mas quando venho ao Brasil ou à Espanha, onde o povo é tranquilo e relaxado, eu vejo a necessidade de mostrar a importância da disciplina ou de dar ênfase às práticas contínuas. Por isso, foco mais em como a Meditação pode ser realizada todos os dias e em como encontrar força para ter consistência, deixando de viver entre altos e baixos. Não é problema lidar com culturas diferentes. Quando você entende e preenche o vão das diferenças, consegue se conectar, deixando as pessoas felizes. Não é simples?

Pessoas de diversas religiões e países vão ao seu templo na Tailândia em busca de paz interior. De que forma essa integração pode ajudar no convívio e respeito entre as populações?

MVBT- Neste exato momento estão acontecendo muitos conflitos no mundo, muitos por razões, dimensões e religiões diferentes. Meditação é uma ferramenta para trazer todos de volta ao seu “eu interior”. Naquele silêncio podemos compreender que todos somos iguais por dentro, todos temos emoções como raiva, felicidade… Você fecha os olhos e vê mais semelhanças, mas quando abre os olhos vê as diferenças.

Você fecha os olhos e vê mais semelhanças, mas quando abre os olhos vê as diferenças.

Quanto mais as pessoas meditarem, mais conseguem voltar à essa unidade.

Sabemos que se as pessoas ateias ou de diferentes religiões meditarem, todas voltarão à essa paz interior e, com isso, alcançarão a sabedoria de que a humanidade é a nossa família. Enxergarão o mundo como uma família sem guerras.

Com o objetivo de combater a negatividade no mundo surgiu o “Global Light Peace” (Luz da Paz Mundial), cuja proposta é baseada na ideia de “paz mundial através da paz interna”. Esse ano, o evento uniu pessoas em 6 continentes para meditar ao mesmo tempo pela paz mundial. Como esse processo funciona?

MVBT- Eu tenho uma experiência que pode explicar como a paz mundial vai começar com a paz interior. Houve um evento nas Filipinas com 100 mil pessoas acendendo 100 mil velas, em um espaço onde caberiam dois ou três Maracanãs. Enchemos o local em 10 ou 15 minutos. As pessoas acendem uma vela e a passam para a pessoa do lado. O grande trabalho se torna pequeno, entende? Então, a paz mundial pode realmente acontecer.

a paz mundial pode realmente acontecer

Se todas as pessoas do mundo – das pessoas comuns até os governantes – entenderem como acalmar suas mentes e não criar problemas na sociedade, todos podem acender uma vela. Este é o momento certo. Temos as redes sociais e podemos nos conectar muito rapidamente. Apenas precisamos pensar em como comunicar isso e ensinar as pessoas.

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