Fazendo as pazes com a menstruação
Período pode ser ideal para trabalhar autoconhecimento e emoções
Por Roberta Struzani
Hoje em dia muitas mulheres costumam se queixar quando menstruam. Algumas não gostam do cheiro, outras reclamam da “sujeira” nas roupas, enquanto a maioria fica incomodada com as cólicas e os sintomas da TPM, como as alterações de humor, por exemplo. Para muita gente a menstruação só oferece alívio ao sinalizar que a pessoa não está grávida.
Mas os símbolos de poder de uma mulher estão justamente ligados ao fato dela sangrar todo mês, durante alguns dias, e não morrer, além de poder dar à luz e produzir o alimento do seu próprio filho. Tudo isso está relacionado aos seus ciclos femininos, ou seja, à menstruação.
No entanto, a cultura contemporânea muitas vezes impede de nos vermos como sagradas, de termos orgulho de nosso gênero. Por conta disso, deixamos de observar os valores do feminino, além de aceitar e amar nossos ciclos. Mas é importante entender que fazer as pazes com a sua menstruação é se aceitar como mulher.
As vantagens da menstruação
Energeticamente falando, nós, mulheres, temos instinto maternal nato, com capacidade para captar e colher todas as “energias ruins” das pessoas, curando todos que nos rodeiam. Obviamente isso ocorre de forma inconsciente e é registrado e guardado como memória celular, que pode gerar posteriormente uma sobrecarga negativa e, em alguns casos, evoluir para uma possível doença.
Muitos profissionais hoje defendem essa teoria, chamada de linguagem corporal, como nos estudos do filósofo Wilhelm Reich. Essa teoria sugere que algumas emoções e sobrecargas externas podem ser guardadas em determinadas partes do corpo. Mas nosso organismo se adaptou com essa tendência de cuidar dos demais e captar as energias alheias, dando-nos o privilégio de esvaziar o útero todo mês, por meio da menstruação. Ou seja, nosso corpo honra os ciclos da vida e sabe – assim como a lua – esvaziar-se e tornar-se cheio e pleno, para depois esvaziar-se novamente.
A menstruação não tem o único intuito de preparar o organismo para uma possível gravidez. Mais do que isso, também trabalha a limpeza de nossas emoções, como rancores, tristezas, decepções, inseguranças e medos.
A menstruação não tem o único intuito de preparar o organismo para uma possível gravidez. Mais do que isso, também trabalha a limpeza de nossas emoções, como rancores, tristezas, decepções, inseguranças e medos.
E é por isso que passamos muitas vezes pela TPM, pois essa é uma forma do corpo mostrar quais sentimentos estamos guardando, além de aspectos mais sombrios sobre nós.
Para amenizar os sintomas da TPM, é necessário, então, abrir nossos olhos e nos enxergar. O ideal é aproveitar a fase do ciclo menstrual para introspecção e reconhecimento de nossas próprias sombras. Apesar de ficar mais fragilizada e suscetível durante esse período, também é durante a menstruação que a mulher tende a ficar mais intuitiva e com seu poder curativo mais apurado.
Como já diziam os antigos estudos xamãs, quando ocorre uma inibição do hormônio estrogênio – ou seja, durante a menstruação – a atividade do hemisfério cerebral direito aumenta. Com isso, a mulher passa a ter estímulos cerebrais semelhantes aos dos bichos quando agem por instinto, que nada mais é do que a sua intuição atuando.
Através da aceitação e do entendimento dos ciclos menstruais, assim como da compreensão dos sentimentos entrelaçados a esses ciclos, a mulher pode resolver problemas psicológicos e traumas, e se conhecer melhor. Com isso, ganha mais autoestima, confiança nos relacionamentos e até poderá amenizar cólicas e sintomas da TPM. Como esses sintomas são gerados pelos estímulos hormonais, a partir do momento que as emoções são balanceadas, os hormônios também passam a ser normalizados. Isso significa que não somente os hormônios influenciam as emoções, mas as emoções também afetam os hormônios.
Ciclos femininos sugerem emoções e comportamentos
Percebam que num ciclo de normalmente 28 dias, nós, mulheres, tendemos a seguir um padrão lógico de humor que se adapta a cada personalidade. Mas geralmente nos 14 dias após a menstruação, ou seja, na fase ovulatória ou período fértil, vivemos uma fase de entusiasmo, alegria, charme, aumento da libido, mais disposição e melhor produção no trabalho. Isso ocorre por conta do aumento de estrogênio – hormônio feminino que aumenta, durante esta fase, a atividade do hemisfério cerebral esquerdo, que por sua vez melhora a fluidez verbal e o pensamento lógico.
Após os 14 dias do período fértil inicia-se a fase lútea – momento que o útero começa a descamar tudo o que havia preparado para chegada de um possível desenvolvimento fetal. Esse é o momento que o hemisfério cerebral direito entra em maior atividade, inibindo a simpatia e a extroversão que a mulher apresentava na fase ovulatória. Agora é o momento de introversão, intuição e da famosa TPM. Ou seja, a fase é ideal para a autodescoberta, indicada para avaliar e entender o que incomoda, irrita e não serve mais no dia a dia. Limpe e extermine essas situações junto com a menstruação.
O que significa uma menstruação desregulada?
Seguindo o entendimento sobre os ciclos físicos e emocionais femininos, fica fácil entender porque uma mulher tem um ciclo menstrual desregulado. A grande maioria apresenta essa disfunção por conta da falta de conexão consigo mesma. Em alguns casos, um ciclo desregulado demonstra que a pessoa se adapta mais ao mundo externo – de tendências, moda, amigos e trabalho – do que ao mundo interno, que permite a autoexpressão com liberdade e sem medo de julgamentos.
Portanto, o primeiro passo para ajudar seu ciclo menstrual a entrar nos eixos é tomar o caminho inverso, de se observar mais e procurar entrar em contato com seu mundo interior. Isso pode ser feito, por exemplo, escutando uma música, refletindo sobre a vida, tomando um banho renovador, ficando mais tempo sozinha e conversando consigo mesma, se amando ou se presenteando mais com a sua presença.
Ciclos femininos também ocorrem durante a menopausa
Na menopausa a mulher não tem o sinal da menstruação para apontar em qual fase do ciclo se encontra. No entanto, os ciclos emocionais e a fase de limpeza continuam iguais. É preciso atenção para identificar o que seria seu momento fértil – que estimula um comportamento mais extrovertido, alto astral, comunicativo e criativo. 14 dias depois desta fase ocorre o momento de limpeza – que induz à introspecção e possíveis sintomas mais rudes, como estresse e ações explosivas.
É muito importante você se observar e descobrir quando exatamente começará um ciclo e terminará outro. Dessa forma será possível constatar que determinadas atitudes não são características pessoais suas, mas sim a representação de um momento de fragilidade e intolerância. Durante essas fases, por exemplo, você ainda poderá pautar decisões, tomando o cuidado de não agir de forma radical quando você sabe que viverá uma fase propícia a mudanças de humor. Por outro lado, poderá se programar para iniciar algo novo, fazer uma reunião ou marcar um encontro amoroso no seu período fértil.
Anticoncepcionais e os ciclos menstruais
As mulheres que usam anticoncepcionais, como a pílula, o anel vaginal e os adesivos contraceptivos – que possuem hormônios sintéticos – não podem se beneficiar desse parâmetro de autoconhecimento, pois elas não menstruam “de verdade”. O que ocorre, nesses casos, é o que chamamos de “sangramento por deprivação”, que acontece no intervalo de uma semana entre as cartelas de pílula.
Essas mulheres tendem a adotar posturas e reações que não são próprias de sua personalidade. Por exemplo: se a pessoa tende a ser calma diante de conflitos, pode repentinamente adotar posturas mais rudes. Assim como o oposto também pode ocorrer, ou seja, uma mulher que traz consigo características de liderança e segurança pode passar a ficar mais insegura e confusa ao lidar com o público ou diante de situações inesperadas.
Isso acontece porque os hormônios agem diretamente em nossas emoções e na maneira como lidamos com a vida. Se o corpo recebe hormônios dos quais não tem controle, ele busca uma forma de se readaptar ao seu ritmo natural – refletindo diretamente nas nossas emoções. Apesar de nem toda mulher demonstrar de forma muito clara essas alterações hormonais, em todo caso é bom você ficar alerta no que diz respeito a mudanças comportamentais. Afinal, ninguém conhece sua personalidade de forma tão fidedigna como você.
Vale reforçar que o uso de métodos contraceptivos é de extrema importância para impedir a gravidez ou as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST). A camisinha, por exemplo, pode ser usada em substituição dos anticoncepcionais de hormônio sintético. Mas é importante consultar um ginecologista para buscar indicações do método contraceptivo mais indicado no seu caso, além de deixá-la bem informada sobre as interferências que estes hormônios podem estar causando em seu organismo.
Equilíbrio emocional e consciência limpa
É bem coerente evitarmos tudo que não for natural ao nosso corpo, como o anticoncepcional, mas lembrar de utilizar a camisinha como meio contraceptivo e para evitar uma possível DST. Ter o contato direto com o seu sangue menstrual também faz com que você tenha automaticamente uma ligação maior consigo mesma, se relacionando com todos seus aspectos e se observando mais – sem nojo de si. Há quem acredite que o uso e a ação de jogar os absorventes descartáveis no lixo reflete o desprezo de nossa cultura pelos ciclos femininos.
Mesmo que a ideia pareça radical para você, substituir os absorventes também pode simbolizar uma forma de poluir menos o ambiente e gastar menos dinheiro. Além disso, esses produtos feitos de materiais sintéticos podem causar alergia em algumas mulheres. Nesse sentido, uma boa opção pode ser o uso do coletor menstrual – que é um copo de silicone medicinal hipoalérgico e antibacteriano, ajustável ao corpo, que coleta o sangue da menstruação sem deixar vazar. O material não é descartável e só precisa ser lavado a cada doze horas de uso.
Outra opção, como nossas ancestrais faziam, é depositar o sangue do coletor menstrual de volta para a terra com plantas, fazendo com que as células que morrem em seu útero sejam transportadas como adubo rico em ferro e nutrientes para a terra.
Entender os ciclos femininos pode ajudar você a se conhecer melhor. Ao perceber suas emoções em cada fase, você passará a notar que é uma mulher de inúmeras personalidades. Quando passa a entender melhor tudo isso e a aceitar seus ciclos, seu corpo reflete essa mudança – seja amenizando os sintomas de cólica e de TPM, ou proporcionando que você viva de uma forma mais verdadeira, agindo pelos próprios instintos. Busque sua verdadeira identidade. Isso lhe trará cada vez mais paz interior.
Especialista em Sexualidade e Ginecologia Natural. Pioneira no estudo de Ginástica Íntima e Reconsagração do Ventre no Brasil, contribuiu para a formação de diversas terapeutas e desenvolveu um trabalho personalizado que traz benefícios para a saúde da mulher, do físico ao emocional.
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