“História de um casamento” e as reflexões sobre como passar pelo divórcio de forma leve
Filme da Netflix nos faz pensar sobre como a postura de cada um impacta no processo de separação
Por Maria Cristina
O filme História de um casamento (2019) parece ser uma história de amor. E é! O divórcio, que é narrado ao longo da trama, pode ser apenas uma consequência de atitudes inconscientes que vão sendo negligenciadas durante o relacionamento.
No drama, Nicole (Scarlett Johansson) e Charlie (Adam Driver) são casados há um bom tempo e têm um filho desta relação. Parecem ser um casal perfeito e nisso reside alguns perigos, como os da projeção e da idealização.
Ao longo do filme fica nítido o carinho que ambos possuem um pelo outro. Ao mesmo tempo, o processo de divórcio, com os advogados em ação, vai construindo uma luta de interesses e para definir quem está com a razão.
Padrões familiares influenciam nos relacionamentos
Este é o primeiro erro comum dos relacionamentos: buscar por quem está com a razão. Geralmente, cada um acredita que o certo é o seu ponto de vista.
Contudo, cada pessoa traz formas de relacionar e atuar diante da vida que vem de sua família de origem. E pensar que existe um único jeito certo é a receita para grandes discussões.
Quando nos unimos com outra pessoa, nos relacionamos com toda a história de origem dela, mesmo sem saber o que atua ali de forma oculta.
Na grande maioria dos casais,as brigas e conflitos ocorrem por emaranhados ou padrões trazidos da família de origem, onde um perde de vista quem realmente é o outro.
A intenção não é justificar comportamentos um do outro como sendo certos ou errados. É preciso ampliar essa perspectiva, reconhecer que cada um atua, muitas vezes, de forma inconsciente e que é preciso exercer uma escolha consciente diante disso.
Tomar consciência dos próprios conflitos
Na visão sistêmica das constelações familiares, existe a lei do equilíbrio que rege os relacionamentos. A partir do entendimento dela, percebemos que, mais importante que amar demais, é estar em equilíbrio de trocas em uma relação.
Aliás, “dar demais“, “amar demais”, “dar tudo de si”, geralmente tudo que é “demais” é bem difícil de ser equilibrado, porque o outro que não consegue retribuir da mesma maneira e pode se sentir pressionado a sair da relação – como ocorreu com o casal de protagonistas do filme.
Muitas vezes, quando tomamos consciência dos conflitos que carregamos em nossa própria história, ficamos um pouco mais livres para perceber a pessoa parceira.
O objetivo de um relacionamento saudável não pode ser uma pessoa tentando preencher as necessidades infantis da outra- mesmo porque isso é tarefa impossível.
A falta que fica, geralmente dos pais, nunca será preenchida por nada nem por ninguém mesmo que as tentativas sejam incansáveis.
Ao se tornar consciente de suas próprias faltas ou emaranhados em seu, é preciso reconhecer que o outro pode não acompanhar o mesmo processo. Então, sempre há uma escolha.
Você pode escolher concordar com o outro e com o relacionamento da maneira que é e adequar a relação para o equilíbrio necessário. Ou, pode seguir em frente.
Como encarar o divórcio de forma leve
Se a saída escolhida for o divórcio, é preciso encará-lo como um luto, porque significa a perda das idealizações feitas anteriormente em torno do casamento. Não há como passar por um divórcio sem dor.
Reconhecer a sua dor e a dor do outro é um passo importante para um divórcio mais livre. E quando há filhos da relação, estar ciente que o casal se separa, mas os pais estarão sempre vinculados através da criança.
Crianças não precisam sofrer com um divórcio. E se isso ocorre é porque, na maioria das vezes, os pais não conseguem separar as dores do casal da função parental que ocupam com os filhos.
Brigas constantes e trocas de ofensas só geram mais sofrimento para a criança, além de trazer uma vinculação negativa entre o casal que pode influenciar nas relações futuras.
Assim, para se ter um divórcio mais livre ou um “bom” divórcio é necessário abrir mão da necessidade de estar com a razão e, algumas vezes, da posição de vítima da relação.
Independentemente do que ocorreu, em algum momento, houve amor e é isso que precisa ser honrado.
Para seguir em frente com leveza, torna-se necessário reconhecer que erros foram cometidos, muitas vezes, por questões sistêmicas ocultas que atuaram à nossa revelia. Mas que o vínculo positivo pode se manter se o lugar do outro permanece como um registro de experiência e crescimento dentro da história de cada um.
É psicóloga sistêmica. Atua com traumas pela abordagem Somatic Experience® além de abordar outras questões de relações interpessoais, autoestima e postura diante da vida. Atende online e presencialmente na cidade de Belo Horizonte.
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