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É hora de impor limites! Entenda a importância de dar um basta

Como identificar essa fronteira antes que seja tarde demais?

Atualizado em

Muitas pessoas têm a tendência de acreditar que “só mais um pouco”, “só mais um tempo”, “só mais uma cerveja” ou “só mais uma palavra” não vai fazer mal a ninguém. Porém, não percebem que esse “só mais…” pode fazê-las ultrapassar uma fronteira que talvez não tenha volta. É a árdua tarefa de impor limites.

Cada um tem uma tábua de flexibilidade muito particular. O que para mim pode representar comportamento invasivo, para outra pessoa pode ser absolutamente normal.

Não existem fatos específicos que descrevam o que venha a ser abuso e passível de imposição de limites.

O que existe é uma gama imensa de fatores que vão determinar o momento de dizer “agora chega!“. Mas como identificar essa fronteira antes que seja tarde demais?

Vamos falar de dois aspectos dos limites: aquele que devemos impor limites no outro e o que devemos colocar em nós mesmos.

Impor limites nas pessoas

Quando se fala em impor limites nas pessoas, logo vem à mente algum tipo de atitude agressiva. Acredita-se que é preciso gritar, desligar o telefone “na cara”, armar discussão e até desfazer uma amizade porque não se encontra outro caminho mais equilibrado e seguro para alcançar a paz. E para não recorrer à agressividade, silencia-se.

São inúmeras as situações perturbadoras das quais, muitas vezes, não conseguimos nos livrar por causa da nossa incapacidade de dizer “não”. E normalmente nossas razões passam pelo medo

  • medo de magoar
  • medo de ser injusto
  • medo de perder o amor
  • medo de perder o emprego
  • medo de perder o amigo

E, assim, vamos colecionando medos e raivas. Sim, a raiva toma conta porque acreditamos que a pessoa deveria perceber que está sendo grosseira, que está sendo invasiva, agressiva, explorando a boa vontade alheia, sendo mal educada, e por aí vai.

Em condições normais, ninguém precisa ser agressivo para estabelecer limites, mas não é possível se deixar capturar pelos medos e deixar perpetuar as situações abusivas.

De onde vem essa passividade e consequente mal estar que causamos a nós mesmos?

Muitas vezes, a nossa teimosia em querer acreditar que um dia as outras pessoas vão se dar conta de que suas atitudes nos causam desconforto faz com que permaneçamos numa eterna espera por algo que provavelmente nunca vai acontecer.

  • Como o outro pode saber que seu comportamento é nocivo se eu não disser?
  • Que razão ele tem para acreditar que está me fazendo algum mal se eu silêncio, se não me manifesto, se não reclamo, se não digo que estou magoado, enfurecido, incomodado?

As pessoas vão avançando conforme vamos dando espaço para que avancem!

Outra razão para que se permaneça passivo é a crença de que ser uma pessoa boa é sempre preservar o outro. A crença de que devemos abrir mão do nosso conforto emocional para proporcionar o conforto para o outro, e assim seremos reconhecidos como bons, gentis, amáveis. Mas de onde vem a crença de que seremos amados apenas quando dizemos “não” para nós mesmos e “sim” para os outros?

É preciso entender que se eu não me respeitar, as outras pessoas não verão motivo algum para me respeitar.

Se eu me permito ser invadido, maltratado, desconsiderado, por que acho que o outro vai me dispensar um tratamento diferente?

Assim, devemos perceber que tudo começa no respeito que tenho por mim mesmo, na gentileza que eu mesmo dispenso às minhas necessidades.

Dizer “sim” mais vezes para si mesmo é tratar-se com amor e gentileza. Se não começar por você, o outro dificilmente vai ter por você a consideração que você mesmo deveria ter.

As outras pessoas podem ficar chateadas? É uma questão de escolha: “quem escolho para ficar chateado, eu ou o outro?” Ora, se você suporta a chateação, por que o outro não suportaria? Ou você acha que só você tem que lidar com os dissabores da vida? Não se preocupe, o outro vai sobreviver a sua escolha!

Impor limites em si mesmo

Quando aprendemos a impor limites no outro, precisamos considerar que estamos, de certa forma, colocando limites em nós mesmos.

Já parou para se perguntar:

  • por que você continua num relacionamento abusivo?
  • por que aceita sofrer bullying no ambiente de trabalho?
  • por que não reage quando a melhor amiga ou o melhor amigo interfere insistentemente numa decisão sua?
  • por que você tem essa necessidade quase compulsiva em agradar os outros?

Pense em todas as vezes em que ficou desconfortável para deixar o outro confortável e considere que tudo na vida tem  limite.

Quando dizer “não” para você mesmo?

Você vai dizer “não” para você sempre que sentir que está sendo permissivo demais:

  • quando deixa o outro ofendê-lo diante de agressões físicas ou verbais,
  • quando está cansado de se sentir em desvantagem,
  • quando percebe que sempre paga a conta e se sente abusado,
  • quando é o outro que decide onde ir, a que filme assistir e sempre que sua omissão lhe dá aquela sensação de não ter o comando de sua própria vida fazendo com que você se sinta fraco e sem voz.

É preciso colocar limites em sua permissividade consigo mesmo para que tome posse de sua própria vida!

Hora impor limites

  • Notamos que impor limites no outro e em si mesmo são dois lados da mesma moeda
    A forma como você fala comigo não é gentil, então procure não usar palavras ríspidas (limite no outro)
  • Não vou mais deixar que o outro me ofenda (limite em si mesmo)
  • Hoje vou pagar apenas a minha parte no restaurante, tudo bem pra você? (limite no outro)
    Não quero mais me sentir explorada (limite em si mesma)
  • Obrigada por sua sugestão, mas eu mesma vou decidir para onde viajar nas minhas férias (limite no outro)
  • Tenho capacidade para tomar minhas próprias decisões, não devo me deixar conduzir (limite em si mesmo)
  • Falando dessa forma você está me ofendendo. Volte a falar comigo quando estiver mais equilibrado (limite no outro)
  • Não vou permitir que ninguém se dirija a mim de forma ofensiva, eu me respeito (limite em si mesmo)

Além das palavras, nossas atitudes também podem demonstrar que o comportamento do outro está nos perturbando:

  • não rir daquela piada que o desqualifica
  • tomar a frente para pegar um pertence na sua própria geladeira ou armário
  • tomar conta do controle remoto da sua televisão pode ser uma forma sutil, porém contundente, de estabelecer limites

Não existe um manual mágico que mude nossas crenças ou até vícios de comportamento. Mas o fato é que agimos da forma como agimos porque temos uma história de vida que acabou por nos fazer acreditar que as relações devem ser como são mesmo que produzam em nós um grande desconforto.

E é natural que, mesmo desconfortáveis, nos sintamos inseguros com a necessidade de mudarmos nosso comportamento.

A hora de dizer “basta” é a hora em que reconhecemos que não estamos felizes com nosso jeito de agir. Quando compreendemos nossas razões a mudança é mais tranquila. E se for necessário buscar ajuda profissional para fazer essa transição com segurança, para reforçar sua autoestima e aprender a exercitar uma nova maneira de estar na vida, busque ajuda.

De toda forma, tenha em mente que a vida o trata da mesma forma que você se trata. Quando você aprender a se respeitar, terá aprendido a impor limites nos outros e em si mesmo.

Celia Lima

Celia Lima

Psicoterapeuta holística com abordagem junguiana há mais de 30 anos e pós graduanda em Psicologia da Saúde e Hospitalar pela PUC-PR. Utiliza os florais, entre outras ferramentas como método de apoio ao processo terapêutico, como vivências xamânicas, buscando um pilar metafísico para uma compreensão mais ampla da vida, da saúde física e emocional.

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