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Metamorfoses ao longo da vida pedem desapego e trazem liberdade

Mudanças podem acontecer de dentro pra fora ou de fora pra dentro. Como você está se reinventando?

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Mudar de cidade, nascimento de filhos, separações, perdas de pessoas importantes, abraçar novas responsabilidades no trabalho ou perder o emprego, descobrir um problema de saúde que exige mudança de hábitos. Há inúmeros eventos que sugerem novas posturas diante da vida e a escolha de novos rumos. A cada nova circunstância, deixamos para trás parte do que éramos para nos reinventar, abrindo espaço para o que podemos vir a ser. Não somos hoje a mesma pessoa que éramos ontem porque estamos em constante renovação. Quantas metamorfoses a vida ainda nos reserva? Pense em quantas transformações podemos realizar em nós por meio desses movimentos.

Mudanças: um convite à reinvenção

Ao longo de nossa trajetória, acontecem diversas situações que  nos afetam de forma profunda. São tão significativas que nos convidam a reformar nossa visão de mundo, valores, desejos, planos e comportamentos.  Nos mostram que temos muito mais recursos internos para enfrentar a vida do que imaginávamos ter. São mudanças que podem podem acontecer de dentro para fora ou de fora para dentro.

MUDAR DE FORA PARA DENTRO

Inquietações podem nos perseguir mesmo quando nossa vida segue normalmente, sem sobressaltos. Quando a mudança acontece de fora para dentro é sinal de que uma inquietude sem nome está tomando conta da gente. Sentimos a urgência de fazermos alguma coisa. Mas o que exatamente?

Como não há nada fora de nós que possa nos fazer compreender esses momentos, vamos mexer no que está mais próximo. O que pode estar mais perto de nós do que o nosso próprio corpo? Surge, por exemplo, a vontade de comprar uma roupa diferente, fazer uma tatuagem, tingir o cabelo de azul ou passar a usar chapéu. Para nossa surpresa, ao adotarmos um novo estilo, as coisas começam de fato a mudar à nossa volta.

Aquele novo acessório passa a revelar a pessoa mais sexy que mora na gente, ou a pessoa mais ousada que gostaríamos de ser – talvez mais leve, madura, responsável. E a mudança interna também se opera. De fora para dentro, vamos compreendendo a origem daquela inquietação e assumindo essa nova personalidade que desponta.

Atitudes simbólicas ajudam a nos revelar

Repare que há um simbolismo por trás das transformações. Ao mudar o jeito de se vestir, é possível, por exemplo, sair do monocromático mundo que disfarçava suas culpas e começar a se colorir com as cores do perdão a si mesmo. Há também quem deixe ir embora o peso de pequenas atitudes que, quando somadas, limitam a vida. Essa transformação pode se materializar, num outro exemplo, com uma mudança nos cabelos: cortar os excessos e experimentar o frescor de novos tempos.

Cortar o cabelo é deixar para trás uma fase da vida. E conforme vai crescendo, observamos novas metamorfoses. São formas de transferir para o corpo os sinais da transformação, refletindo em nós a beleza da mudança.

O ato de cortar o cabelo após uma mudança interna é muito representativo. Manter os cabelos longos sugere, de certa forma, um desejo inconsciente de perpetuar a memória ou o estado de determinadas situações que se cristalizaram ao longo do tempo. Não à toa, as mães guardam os primeiros cachos de cabelo de seus filhos, como forma de eternizar o estado em que eles se encontravam. É uma atitude simbólica que vai além de uma recordação.

MUDAR DE DENTRO PARA FORA

Existem também as  “trocas de pele” que acontecem de dentro para fora. São mudanças internas que surgem de muita reflexão, de um olhar necessário e corajoso sobre o que não nos cabe mais. São frutos da percepção consciente de que nosso jeito de ser não nos faz mais feliz. Ou até da constatação de uma mágoa passada, que causa em nós a necessidade de uma “faxina” interna para respirar mais livremente.

Quanto melhor soubermos nos despedir das inúmeras fases pelas quais passamos, maior será a serenidade com que enfrentaremos todas as despedidas

As transformações, contudo, não acontecem num passe de mágica. Constatar as consequências de uma mágoa não é o suficiente para que o sentimento deixe de existir. Para cada descoberta, o processo de mudança passa por profundas reflexões. Nem sempre conseguimos compreender sozinhos por que não estamos felizes com nosso jeito de ser ou por que sentimos culpa, uma vez que, na verdade, não fomos responsáveis diretos de um evento que há tempos tem nos tirado o sossego.

Buscar apoio terapêutico nessas fases de transição pode ajudar a jogar luz sobre nossos sentimentos e seus verdadeiros motivos. Quando compreendemos a raíz do desconforto, a passagem se torna mais segura e nos encoraja a encarar a vida como um exercício constante de novas possibilidades de mudança. Nossas atitudes e sentimentos mudam. Passamos a nos definir de outra forma, tomando decisões sobre como agir de forma mais consciente.

Ir ao encontro das razões que causam desconforto e trabalhar para uma verdadeira transformação interior são caminhos para uma passagem libertadora, que nos permite transitar pela vida revigorados.

METAMORFOSES:  VIDA QUE SEGUE

Fato é que permanecemos em nossas metamorfoses do momento em que nascemos até o momento em que morremos. Às vezes, a mudança se mostra fácil e natural. Em outros momentos, por sua vez, é difícil, demorada e dolorosa, mas inevitável. A grande lição que podemos colher ao abraçarmos cada nova roupagem é o desapego. Não há adolescência se não abandonarmos a infância; não há a fase adulta se a adolescência não ficar para trás; assim como não há maturidade se não nos desprendermos dos eventos da vida, sejam eles bons ou não.

Desapegar-se é aceitar que tudo tem um começo, um meio e um fim. É necessário colocar um ponto final nos eventos que nos causaram dor e também deixar partir os momentos de alegria. É dessa forma que abrimos espaço para novas aventuras e eventos. Quando nos apegamos a uma dor, prolongamos um sofrimento. Quando nos apegamos a um bom momento, não crescemos. Tanto os momentos bons quanto os ruins precisam de um fechamento. O que permanece na memória é a referência do que não desejamos mais em nossas vidas e do que queremos renovar ou repetir. Assim, a vida segue na direção de nossa obrigatória e derradeira metamorfose. Quanto melhor soubermos nos despedir das inúmeras fases pelas quais passamos, maior será a serenidade com que enfrentaremos todas as despedidas. A nossa e a de tudo o que pulsa no Universo.

Celia Lima

Celia Lima

Psicoterapeuta holística com abordagem junguiana há mais de 30 anos e pós graduanda em Psicologia da Saúde e Hospitalar pela PUC-PR. Utiliza os florais, entre outras ferramentas como método de apoio ao processo terapêutico, como vivências xamânicas, buscando um pilar metafísico para uma compreensão mais ampla da vida, da saúde física e emocional.

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