O que muda quando os filhos nascem?
Dicas ajudam casais a curtir o bebê e encarar mudanças na relação
Por Denise Gurgel
Antes da chegada do bebê você chegava em casa e tinha um tempinho para colocar a leitura em dia, assistir aquele programa a dois e sobrava até um pique extra para um jantar romântico num dia de semana.
Agora você chega em casa, dá um beijo no seu filho e logo vai cuidar do jantar. A sua cara metade chega, cumprimenta você de longe, vai correndo para o quarto e vocês só se veem algumas horas depois.
Se esse cenário lhe é familiar, é sinal de que tem algo errado acontecendo na sua relação. Será que é possível resgatar esses momentos gostosos da vida a dois? Tenho certeza que sim!
Por causa do meu trabalho com bebês, visito muitas famílias e já vi alguns casais desafinados um com o outro após o nascimento do filho.
Sem conversa, sem carinho e talvez até sem sexo. Sobram apenas fraldas para trocar, bebê para embalar e tudo o que o pequeno precisa para ser feliz. Mas e os pais, como ficam?
Essa fase é comum e muitos casais passam pelas mesmas dificuldades. O casamento em si já exige adaptação, e com a chegada de um filho não é diferente.
A palavra-chave para subir o degrau da relação é “cumplicidade“. Por isso, é preciso que antes da chegada do pequeno o casal tenha construído uma relação com muita comunicação, compreensão e uma boa pitada de bom humor. Assim, será muito mais fácil passar por essa adaptação da vida a três.
Casal entrosado, família unida
Cultivar o relacionamento entre o casal é importante para o crescimento sadio da criança e a boa relação entre os pais. Não sou mãe, mas imagino como deve ser difícil dar uma escapada de casa quando o filhote pede para você brincar com ele.
Mas saiba que são os pequenos momentos vividos pelo casal que ajudarão os filhos a ter uma boa base familiar.
Quando o bebê nasce a mãe só enxerga a criança, e o marido algumas vezes fica de lado no novo formato de família.
Essa fase é normal, pois a mulher passa por algumas mudanças psicológicas e entende que todo o apego de vida e segurança do bebê vem a partir dos cuidados, do seu colo e aconchego. Mas quando o marido se sente sobrando em casa, aí vem a crise.
Conversei com algumas mães para entender melhor o que acontece com elas quando vivem a maternidade e no final percebi que existem algumas dicas valiosas para que o relacionamento não entre no piloto automático. Tenho certeza que você se enxergará nessas situações corriqueiras.
A vida a dois
Pode parecer estranho, mas deixar o bebê com a mãe ou sogra e dar uma saída mesmo que rápida, são importantes tipos de respiros para o casamento.
São momentos como esse que ajudam o casal a compartilhar as novidades da vida, seja aquela ideia nova no trabalho, planejar uma viagem com o bebê, ou simplesmente jogar papo fora. Assim um escuta o outro.
“Nem eu me reconhecia e além dos hormônios tudo virava um monstro! Quando dei conta resolvi procurar ajuda e deixava o neném com minha mãe ou sogra e saia para jantar e conversar com meu marido.
Na maioria das vezes, mais chorava que falava. Mas meu marido teve muita paciência, o que ajudou a salvar a nossa relação”, conta Roberta Martins, mãe do Artur, e casada há 10 anos.
As pressões da vida moderna
Cuidar da casa, do bebê, trabalhar e estar pronta para receber o marido em casa não é fácil.
Mas algumas vezes a comunicação por algum motivo pode não fluir, e ter a ajuda de um profissional pode ser o diferencial para a saúde emocional da família.
“Fizemos terapia de casal para cada um expor o que mais incomodava nas atitudes do outro, e principalmente para o homem entender esse período em que a mãe tem como preocupação maior o filho.
Se não fosse a terapia acho que não estaríamos mais casados”, desabafa Daniele Meloni, mãe da Bruna , e casada há 6 anos.
A vida sexual
É normal a libido da mulher baixar após o nascimento do bebê. Por isso, experimente falar para o marido sobre as mudanças hormonais e emocionais que a mulher passa no pós-parto.
Enquanto a mulher passa a ter olhos somente para o pequeno, o desejo do homem continua igual. Ok, você não tem vontade de fazer sexo, mas o seu marido tem. Uma boa conversa ajudará vocês a se entenderem.
Que tal explicar o que sente, expor seu medos e inseguranças? Com certeza ficará mais fácil ser compreendida e, quem sabe, no final o sexo aconteça de forma natural?
“Separamos os últimos momentos do dia para namorar, falar do dia, do trabalho, dos planos, assistir um filminho”, ensina Juliana Kobuti, mãe do Pietro, e casada há 3 anos.
A educação de cada um
Sabe aquela frase máxima: “o filho é meu e eu sei cuidar dele”? Ó céus, é briga na certa! Cada um foi criado de uma forma e para não haver discordância o casal deve conversar sobre as expectativas de cada um sobre a educação do filho.
Dessa maneira, a mulher não ficará em cena como a megera e muito menos o pai como aquele que nunca está presente nas decisões da vida do pequeno.
A família palpiteira
Não tem jeito, sempre tem alguém querendo dizer alguma coisa sobre a educação do pequeno. Faça isso ou não fala aquilo.
É normal o casal buscar as próprias referências pessoais na educação dos filhos. O ideal é equilibrar os palpites familiares para que a criança possa absorver o melhor de cada lado da família.
Quem pegará o bebê de madrugada se ele chorar?
Cada um tem a sua necessidade e quer ter um tempinho seu. Quem não quer chegar em casa e colocar os pés na mesa da sala de forma descompromissada?
Tanta dedicação com o filho faz cada um ter vontade de ter um tempo para si, mesmo que sejam alguns poucos minutos. E são justamente esses pequenos momentos que ajudam a recarregar a bateria.
Não descuide de si mesmo, pois se isso acontecer será fácil você culpar o outro pelo seu cansaço.
O fato é que a chegada do filho nunca deve ser responsabilizada pelo sucesso ou não do casamento. Mas os conflitos da maternidade e paternidade podem trazer sim à tona o que estava adormecido na relação a dois.
Por isso, cultive não só o amor, mas a conversa, o companheirismo e a cumplicidade.
“Para as mulheres solteiras, que um dia querem se casar e ter filhos, uma dica que, com certeza você ou alguma amiga sua já ouviu de uma avó é: case-se com um homem com o qual consiga conversar.
Se já for casada, cultive e incentive o companheirismo e a cumplicidade, seja boa ouvinte, faça-se ouvir. Durante a gestação, continue compartilhando tudo com seu marido e depois do nascimento faça o seu melhor e entenda que isso não significa querer fazer tudo sozinha e com perfeição.
Afinal, somos humanas, erramos e aprendemos com nossos erros. E o mais importante: tenha em mente que depois do nascimento do seu filho, você e seu marido estão começando uma vida a três.
Por isso, divida tudo com aquele que um dia você teve certeza que era o homem da sua vida”, aconselha Paula Guedes, mãe do Lucas, e casada há 6 anos.
Para continuar refletindo sobre o tema
Livro “Casamento à prova de bebês” (editora Sextante). Autoras: Stacie Cockrell, Cathy O´Neill e Julia Stone
Livro “Como Reinventar o Casamento Quando os Filhos Nascem” (editora Mundo Cristão). Autor: Gary Chapman
Fisioterapeuta materno infantil, especialista em Shantala, consultora do sono e de desenvolvimento motor dos pequenos. Atende em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Saiba mais sobre mim- Contato: contato@cursoshantala.com.br