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O resgate da feminilidade

Mulheres reveem seus papeis, em busca de autoconhecimento

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Gostaria de refletir um pouco sobre o papel da mulher nos dias de hoje, a partir do seguinte questionamento: nós, mulheres, estaríamos deixando de lado nossa faceta doce, terna e maternal, para conquistar espaço no mercado de trabalho e mostrar nossa capacidade à sociedade? E será que o caminho para nos sentirmos plenas seria resgatar essa faceta?

Acredito que há um paradigma em torno dessa questão. O paradigma de que a mulher é frágil e de que em toda mulher há o desejo de ser mãe. E, por isso, ela deve ser doce, carinhosa e compreensiva. Por outro lado, existe a ideia de que devemos ser tratadas e valorizadas como os homens no ambiente profissional.

Infelizmente, ainda existe um certo machismo do século passado nos dias de hoje. Tanto que encontramos empresas nas quais há diferença salarial entre homens e mulheres que ocupam o mesmo cargo, principalmente nos cargos mais altos. Por isso, talvez as mulheres se sintam no dever de trabalhar mais para mostrar seu valor. O movimento feminista ajudou com que saíssem de suas casas e fossem para o mercado de trabalho. Porém, não garantiu que ambos os sexos seriam tratados da mesma maneira.

Mas o que realmente faz a diferença? A forma como o outro me vê ou a forma como eu mesma me percebo? Acredito que as mulheres que lidam bem consigo mesmas e com os papeis que devem desempenhar, não estão brigando por melhores salários. Elas já tem! E não se preocupam se os homens ganham mais ou não. Elas se importam com seu próprio valor, com quem são em sua essência.

Como a mulher pode buscar a sua essência

É possível ilustrar melhor essas questões com o filme Simplesmente Alice, do diretor Woody Allen. No filme, a personagem Alice, representada pela atriz Mia Farrow, possui uma vida familiar estável, com filhos, marido e conforto. Porém, conhece um outro homem e começa a ter fantasias a seu respeito. Ela decide procurar um médico chinês, devido a algumas dores no corpo. No entanto, o chinês entende o que Alice realmente precisa. Ele receita um tratamento à base de ervas mágicas, o qual irá mudar a vida dela por meio de uma jornada fascinante de autoconhecimento.

Ao longo do filme, Alice vê seu “mundo perfeito” desmoronar. Ela trai seu marido e também descobre a traição do mesmo. Quando opta pela separação e por ficar com o amante, este resolve voltar para sua ex-esposa. Ela se vê sozinha. Então, percebe que sua busca não é por um companheiro que a ame. Ela descobre que o que lhe falta para ser feliz, é ela mesma se amar e ir em busca de seus próprios ideais.

Ao meu ver, Alice descobre sua plenitude ao descobrir ela mesma, ou seja, ao seguir seus próprios desejos, e não o desejo dos outros. Ela saiu do “complexo de ser boazinha” para lutar pelo que ela queria, para buscar o que estava em sua essência.

Esse termo utilizado, o qual remete ao fato da mulher ter que ser boa, retirei de um dos contos descritos no livro Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola. Esse excelente livro sobre o universo feminino busca o resgate do arquétipo da mulher selvagem que existe dentro de cada uma de nós. A autora coloca que devemos ser fortes. Não uma força física, mas encontrar nossa própria essência, sem fugir, e, sim, convivendo ativamente com a natureza selvagem ao nosso próprio modo. Significa ser capaz de aprender e agüentar o que sabemos de nós mesmas. Manter-se firme e viver.

Somos capazes de administrar os diversos papéis que nos são impostos pela sociedade, mas sem nos subtermos a eles.

Somos capazes de administrar os diversos papéis que nos são impostos pela sociedade, mas sem nos subtermos a eles.

Sendo assim, podemos ser como a personagem Alice do início do filme, ao viver uma vida vazia, dependente do outro. Ou descobrir nossa essência, nos libertando desse estereótipo de “boazinha”, para alcançar nossos reais desejos. Temos a escolha de ser terna e maternal, como independente e rebelde. Ou, quem sabe, podemos ser nós mesmas, com nossos anseios, dúvidas e angústias. Somos capazes de administrar os diversos papéis que nos são impostos pela sociedade, mas sem nos subtermos a eles. Convém respeitar a singularidade do que ser mulher representa para cada uma e percorrer o constante caminho do autoconhecimento. Portanto, não nos esqueçamos da mulher selvagem que existe em nós, e que está sempre pronta para os desafios que surgirem pelo caminho.

Para continuar refletindo sobre o tema:

Mulheres que correm com os lobos, livro de Clarissa Pinkola Estés. Editora Rocco, 628 páginas.

Simplesmente Alice, filme de Woody Alen. Duração: 103 minutos.

Maria Cristina

Maria Cristina

É psicóloga sistêmica. Atua com traumas pela abordagem Somatic Experience® além de abordar outras questões de relações interpessoais, autoestima e postura diante da vida. Atende online e presencialmente na cidade de Belo Horizonte.

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