O Sol e a essência do amor
Arcano do Tarot sugere confiança para viver relação afetiva
Por Zoe de Camaris
Amor: a mais bela palavra do mundo quer traduzir o intraduzível. Amiga da alegria e da beleza, supera o contentamento e a aparência. Dona dos melhores sentimentos, confunde-se com a paixão e a posse, com o estremecimento dos sentidos e os meandros da convivência. O amor é para todos; o amor é para poucos. Dentro de sua cornucópia* cabe quase tudo, inclusive a ilusão de amar e se sentir amado. Afinal, existe o verdadeiro amor? Parece que a ordem dos fatores altera o produto. Podemos experimentar o amor verdadeiro, mas nem sempre encontramos “o verdadeiro amor”. O amor verdadeiro, e isso é fato, sente-se pelos filhos, mesmo que algumas histórias digam o contrário. Mas são exceções confirmando a regra. Amor aos pais, aos grandes e poucos amigos, ao bichinho de estimação.
Quanto ao dito e redito “verdadeiro amor”, esse continua fazendo sucesso no cinema, mas muita gente ainda acha que ele não comparece com frequência nos relacionamentos do século XXI. E quem está feliz com seu verdadeiro amor não costuma colocar a notícia nos jornais. Na ótica do Tarot, fala-se de amor por meio de três cartas:
- “Os Amantes” ou “O Enamorado” – Arcano VI
- “A Temperança” – Arcano XIV
- “O Sol” – Arcano XIX
Na carta “Os Enamorados” prevalece a paixão, o momento do encanto. Já “A Temperança” representa a fase de intimidade, na qual os relacionamentos se aprofundam ou se dissolvem, enquanto “O Sol” sugere o amor-perfeito. Sobre os dois primeiros a matéria é farta. Mas como seria esse tal de amor-sol?
A segurança do amor
O amor-sol traz em si as sementes do encanto e da intimidade, mas não se detém na novela dos enganos, nem nos detalhes de alcova. É o amor em oitava maior. As decepções do encantamento não o atingem, as agruras da intimidade não o maculam. O amor-sol flerta com a amizade, é um amor em confiança. Não conhece o ciúme, apenas o cuidado. Não tem no seu léxico a palavra traição, pois não pressupõe sua possibilidade. Não conhece a mentira, porque vive na inocência de um jardim sagrado. O amor-sol não é vítima do tempo porque o que o anima é sempre a alma de uma criança. O amor-sol é a essência do amor. Não há palavras que o identifiquem, não há texto que o comporte. Só é possível dizer em prosa sobre o que ele “não é”.
Mas aí me diriam vocês: “ah sei, a velha conversa do era uma vez com final feliz, café com leite de comédia romântica”. Nada disso existe: somos carne e osso, dor e paixão, vento e tempestade. Sim, o amor-sol é uma dádiva quase nunca experimentada em contatos ordinários. O amor-sol é o amor divino e não se prende nem aos deuses e nem a um Deus. Mas somos nós, senhoras e senhores, os seus grandes tradutores. E se o imaginamos como podemos imaginar toda e qualquer coisa, sua ideia nos alimenta e nos aquece. E assim tem sido geração após geração.
Impossível mesmo é viver em um mundo sem Sol. Que sua presença nos aqueça nos dias frios de inverno.
*A cornucópia é um símbolo da abundância, da riqueza e da fertilidade. Em forma de chifre, do seu interior derramam-se flores, frutos, grãos e moedas. Remete ao casamento sagrado entre o masculino e o feminino.
Há 38 anos fortalecendo a arte do Tarot, Zoe é escritora, formada em Letras e com especialização em História Social da Linguagem. Presta consultoria de mitologia e análise simbólica em obras de ficção literária e cinematográfica. Leituras presenciais em Curitiba e consultas on-line podem ser agendadas pelo endereço zoedecamaris@gmail.com.
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