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Por que pedir ajuda é tão difícil?

Entenda que desrespeitar seu próprio limite é uma crueldade com você mesmo

Atualizado em

Primeiramente, precisamos entender o significado desta frase de Freud: “Somos feitos de carne, mas temos que viver como se fôssemos de ferro”.

O que isto já nos diz sobre a vivência humana? Que realmente não somos de ferro, que fingir ter uma força além do que é a humano é se fazer mal, é ser desumano consigo mesmo.

Sem falar das cobranças externas para fingir ser de ferro, o que só piora a saúde mental e física de quem já faz autocobrança em excesso.

Quantas vezes eu vejo pessoas engolindo o choro para ter que cumprir suas tarefas diárias? Isso, com o tempo, vai minando tudo o que ela um dia pensou que se chamava “força” e, na verdade, é a sua existência.

Tem gente que começa a demonstrar este esgotamento no corpo, através de problemas digestivos, nos tendões, nos músculos e nos ossos no auge da dor.

Outra maneira de o corpo e a mente demonstrarem que foram desrespeitados é apresentando perda de memória, muita angústia, ansiedade e tristeza profunda ou, até mesmo, depressão.

Ainda assim, elas não se permitem pedir ajuda para ninguém. O desespero pode surgir quando que a parte emocional já está desgastada demais.

Nesta fase, a pessoa pode ter uma confusão de pensamentos e sentimentos, o que a faz querer desistir do que ela nem sabe ao certo se é o que lhe faz mal, como relacionamentos e trabalho.

Outras, infelizmente, chegam a pensar em suicídio. Mas vale a pena lembrar que, antes de qualquer um desses momentos que apontam para uma dor física ou emocional extrema, é preciso ter a coragem de lutar por si mesmo, para melhorar sua qualidade de vida – e isso é possível.

Como uma pessoa acha que não tem ninguém que possa a ajudar?

A realidade social está cheia de incoerências. Nos comunicamos como nunca na humanidade e, mesmo assim, quase não temos laços de profunda intimidade com alguém para compartilhar nossos sofrimentos e falar abertamente sobre o que nos incomoda.

Estamos vivendo como se fôssemos máquinas, que estampam sorrisos e, ao nos cumprimentarmos, falamos que está tudo bem, mas, na verdade, muita coisa não está nada bem.

Tentamos esconder nosso mal estar dentro de nós, vivendo cada vez mais de aparência.
Só que, em algum momento, o copo transborda, o corpo transborda e a mente transborda. Realmente, não somos nada de ferro até hoje.

Vivemos cada dia mais alienados no universo das máquinas e fotos alegres, de pessoas que fingem ser felizes. Assim, também acabamos seguindo um ciclo da moda e somos muito cruéis conosco.

Porque, quando fazemos isso, toda dor que não é ouvida começa a gritar dentro de nós, a procurar uma nova maneira de se exprimir e nos mostra o quanto estamos negligenciando a nós mesmos.

Pessoas que fingem ser fortes são as que mais sofrem, porque se colocam em posição de se vangloriar pelas suas conquistas, mas, ao mesmo tempo, tentam omitir suas perdas.

E todos nós temos perdas e ganhos na vida. Todos nós passamos por momentos difíceis e nem sempre temos a tal “força” em alta.

Pessoas que muitas vezes demonstram arrogância em sua maneira de agir geraram um tipo de couraça para disfarçar suas fraquezas, porque, em algum momento, precisaram estampar ser mais fortes do que alguém que se apresentava como um oponente. Certamente, essa postura não lhes priva de sentir dores.

Pessoas que dizem “eu resolvo tudo sozinho”, “eu me autoanaliso” e “dou meu jeito”, muitas vezes, estão neste lugar de arrogância com a vida, com o outro e, de fato, ninguém consegue enxergar sozinho os pontos que precisa melhorar em si mesmo.

Precisamos entender que somos cegos para o que não somos assim tão bons. principalmente conosco, como ultrapassar nossos limites de esforço para atingir um objetivo e deixar de cuidar do corpo e da mente acreditando que o objetivo é mais importante que si mesmo.

As ajudas que não ajudam

Em muitos casos, percebo pessoas que buscam ajuda com familiares e amigos, que até podem lhes ouvir, mas não têm uma escuta profissional.

Eles chegam a dar conselhos sobre a vida alheia a partir de seu ponto de vista, fazendo assim, com que a pessoa que já passa por alguma dificuldade fique ainda mais insegura sobre o que ela realmente sente que deve atuar em sua própria vida.

Certamente, você já esteve em contato com alguém que te disse “se eu fosse você, eu…”. Este tipo de fala já demonstra o quanto estamos em contato com alguém que realmente não está cumprindo o papel de escuta analítica – o que é papel de um psicanalista.

Não é sugestionando, não é induzindo ninguém a resolver sua vida que vamos ajudar alguém que passa por algum problema.

Sem falar que não é numa mesa de bar, não é apenas seguindo os preceitos religiosos nem dizendo que a causa dos problemas de alguém é falta de Deus, certo?

Infelizmente, muitas pessoas que passam por dores emocionais, por não sangrar, ou seja, por não ser uma doença que não estampa a dor de forma visível, sofre muita psicofobia, que é o preconceito com pessoas que têm algum tipo de doença ou transtorno mental.

Outra coisa muito importante a se entender é que apenas um psicanalista qualificado, que passa pela formação continuada, pode realmente entender, segundo a perspectiva profissional dele, o que se passa com você no momento em que está buscando ajuda.

Pois quem não sabe ouvir e trabalhar com a dor emocional pode piorar e muito o quadro psíquico de quem pede ajuda, por anular a pessoa, o direito dela de pensar e sentir o que está sentindo sobre sua própria vida. Este é meu alerta.

O que pode abrir uma janela para pedir ajuda

Em muitos casos, as pessoas vivem uma mistura tão grande com relação aos seus próprios sentimentos que podem achar que o que causa seu problema é seu relacionamento amoroso ou seu emprego.

Mas nem sempre é algo externo. Muitas vezes, é algo da própria pessoa que precisa ser curado, mas como Sartre disse “o inferno são os outros” e, de fato, o ser humano tende a culpar o outro por sua infelicidade.

Quando se está precisando de ajuda, é importante entender que esta ajuda é direito seu, que você, assim como qualquer pessoa, merece e precisa se entender com suas emoções e sentimentos.

Deve entender que você não precisa sofrer nem sobreviver e, sim, tem o direito à escolha, direito a escolher uma maneira de viver bem primeiramente consigo, com seus limites, com seu tempo, com o que realmente importa para você.

Outro ponto fundamental é entender que o processo de autoconhecimento em busca de bem estar e até cura, dependendo dos casos, não tem atalho.

É importante, sim, falar e se ouvir durante o processo psicanalítico para entender de onde vem as suas dores e como você pode aprender a se livrar delas sem precisar passar por nenhum desespero.

Sim, seja também mais otimista, acredite que já existe um tratamento que dá resultados e ele se chama Psicanálise, que é a cura através da fala.

Se precisar, pode contar comigo nessa jornada de se descobrir e se sentir melhor de dentro para fora.

Bruna Rafaele

Bruna Rafaele

Psicanalista, especialista em Saúde Mental. Faz atendimentos presenciais no Rio de Janeiro e consultas online no Personare.

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