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Prevenção ao suicídio passa pelo acolhimento e por informação

Setembro Amarelo: perceber os sinais de alerta pode salvar muitas vidas

Atualizado em

A prevenção ao suicídio passa pela percepção dos sinais de alerta. No contato cotidiano com familiares, amigos, colegas de estudo ou de trabalho, com vizinhos e mesmo com quem não conhecemos pessoalmente, em redes sociais, somos assolados muitas vezes por queixas como depressão, por exemplo, ou comentários que explicitam grande desconforto emocional e impotência diante das exigências da vida.

Se por um lado isso pode representar queixas pontuais resultantes de problemas específicos cujas soluções estão ao alcance de quem se queixa, por outro pode tratar-se de uma situação com algum grau de cronicidade, sem que se vislumbre solução alguma, o que acaba por acarretar uma espécie de sofrimento contínuo.

Um suicida não deseja exatamente acabar com sua vida. Ele deseja antes eliminar a dor profunda e angustiante que insiste em habitar seus sentimentos e emoções.

Um suicida não deseja exatamente acabar com sua vida. Ele deseja antes eliminar a dor profunda e angustiante que insiste em habitar seus sentimentos e emoções. Ele não vê saída, está tão absorvido pela dor que não há espaço para pensar em soluções. Então, a única solução possível para acabar com seu sofrimento é fazer cessar a vida.

FATORES DE RISCO QUE LEVAM A PESSOA A COMETER O SUICÍDIO

A complexidade dos motivos que levam uma pessoa a pôr fim em seu sofrimento através do

suicídio é enorme e usualmente existe algum distúrbio mental/psicológico/emocional preexistente, sendo a depressão o mais frequente. Daí a importância de um diagnóstico preciso de um profissional competente para que se possa efetivar um tratamento adequado com o objetivo de prevenir o suicídio.

Os distúrbios associados aos suicidas em potencial são os seguintes, dentre outros:

  • Depressão
  • Transtorno Bipolar
  • Esquizofrenia
  • Transtornos de Personalidade
  • Transtornos de Ansiedade
  • Alcoolismo
  • Dependência de drogas de qualquer natureza
  • Transtornos por uso de substâncias psicoativas
  • Tentativa prévia de suicídio

A desesperança e o desalento são sentimentos presentes e tão contundentes que seus pensamentos giram num contínuo labirinto, numa falação interna ou num silêncio ensurdecedor que faz com que tudo perca o sentido e que ele acredite que interromper o ciclo da vida seja a única saída possível para encontrar a paz que ele desconhece.  

A sensação de impotência diante dos problemas pessoais, de um quadro social que afeta ou não a vida particular, ou a sensação de proximidade de algum evento que possa desembocar numa catástrofe definitiva, são outros fatores associados ao pensamento suicida e ao suicídio.

PREVENÇÃO AO SUICÍDIO: DOENÇAS SERVEM DE ALERTA

O diagnóstico de doenças clínicas como câncer, HIV (AIDS), doenças neurológicas (epilepsia, esclerose múltipla, Parkinson entre outras), DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica), doenças reumatológicas e cuja natureza desemboque em situações incapacitantes, merecem um olhar atento aos seus portadores. Muitas vezes o impacto da notícia da doença desestabiliza profundamente o paciente ou o tratamento inicial não tem a resposta esperada, o que coloca o paciente em situação de risco.

Especialmente entre os jovens, comportamentos impulsivos são considerados fatores de risco. Quando associados ao consumo de substâncias tóxicas e ao sentimento de falta de esperança na vida, o resultado pode ser fatal.

O histórico de vida do adolescente como abusos na infância (físico ou sexual), rejeição ou maus tratos por membros da família, rejeição social (escola, clube, grupos de colegas) são igualmente fatores detonadores de desconforto profundo e sentimento de inadequação que podem levar a ideias suicidas.

* Entre os idosos são diversas as razões que culminam em suicídio: a sensação de ser um peso para família, doenças crônicas debilitantes, a perda de parentes próximos (filhos, netos ou o cônjuge) e especialmente a solidão estão entre as razões mais presentes.

* Perder o emprego, o patrimônio, divórcio, decepção profunda, luto recente ou demasiado prolongado, aposentadoria e outros eventos que, em função de cultura e crenças pareçam ser problemas intransponíveis e de solução impossível, são outras causas de suicídio.

O QUE É IMPORTANTE SABER SOBRE O SUICÍDIO

Na maior parte dos casos, o suicida tem a percepção da realidade alterada em função de alguma doença mental já existente como depressão, bipolaridade, esquizofrenia, transtornos de personalidade, etc. Tratar a doença é fundamental para que o pensamento desapareça em até 90% dos casos e a pessoa não se torne mais um perigo a si mesma.

QUEM FALA EM SUICÍDIO NÃO ESTÁ APENAS QUERENDO CHAMAR ATENÇÃO

É um erro acreditar que quem fala em suicídio está apenas querendo chamar a atenção e que não fará nada contra sua vida. Ainda que a pessoa toque nesse assunto de maneira não dramática, esse pensamento está em sua mente e em hipótese alguma deve ser desconsiderado. Mesmo que depois de um tempo ela aparentemente se mostre mais animada, o risco é latente. A mudança de comportamento de deprimido para tranquilo, pode apenas significar que a decisão de suicidar-se foi tomada, promovendo um alívio de tensão.

Quem sobreviveu a uma tentativa de suicídio não necessariamente se sente grato por ter sobrevivido. Ao contrário, pode se sentir frustrado e vir a tentar novamente.

Quem sobreviveu a uma tentativa de suicídio não necessariamente se sente grato por ter sobrevivido. Ao contrário, pode se sentir frustrado e vir a tentar novamente. O período posterior à sua alta hospitalar é de fragilidade intensa e, embora nem sempre demonstre, as chances de uma nova investida contra a própria vida são enormes.

ACOLHIMENTO E PREVENÇÃO AO SUICÍDIO É DIFERENTE PARA HOMENS E MULHERES

O número de mortes por suicídio entre homens é três vezes maior que entre as mulheres. Uma das razões está associada à dificuldade que encontram em assumir seus sentimentos devastadores e em falar sobre eles, buscando uma solidão voluntária para não desconstruírem diante de si mesmos a obrigação culturalmente imposta que a “força masculina” impõe de demonstrar controle, frieza e independência. Essa solidão pode precipitar uma depressão e pensamentos suicidas que ficam trancafiados em sua alma até se tornarem insuportáveis. As mulheres têm uma rede de proteção emocional mais envolvente, falam mais sobre seus sentimentos e aflições, estão mais presentes em atividades afetivas relacionadas à família e à comunidade. Todavia, entre elas a tentativa de suicídio é três vezes maior com relação aos homens.

AS MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO

Ainda assim é possível detectar mudanças de comportamento, especialmente nos homens, que possam ser passíveis de suspeição com relação aos pensamentos suicidas: isolamento social, aumento do consumo de substâncias que alteram o estado de consciência (álcool, psicotrópicos, remédios para dormir, etc) e comportamento solitário.

Falar sobre o assunto promove alívio da tensão dos pensamentos suicidas e não aumenta o risco como muitos podem imaginar.

A família e os amigos, por acreditarem que precisam oferecer solução pronta para os problemas apresentados, muitas vezes se omitem e, assim, fecham uma porta de comunicação com a pessoa, seja ela homem, mulher, um filho ou um amigo, não percebendo que falar sobre o assunto promove alívio da tensão dos pensamentos suicidas e não aumenta o risco como muitos podem imaginar.

SUICÍDIO ENTRE HOMOSSEXUAIS

Ainda a propósito dessa questão de gênero, é importante pontuar que vem crescendo o risco de suicídios ou pensamentos suicidas entre homossexuais, especialmente entre jovens e crianças que são alvos de preconceito e rejeição entre familiares e grupos sociais, considerando sempre a forte possibilidade da presença de eventuais transtornos mentais associados.  

COMO AJUDAR A PESSOA QUE TEM COMPORTAMENTO SUICIDA

O sofrimento que acomete um suicida em potencial é inimaginável para quem o cerca. Portanto, a tentativa de oferecer soluções triviais para suas angústias e problemas é praticamente inócua. É importante ter em mente que não é você quem tem um problema por não conseguir solucionar o problema da pessoa.

  • Ouvir o que ele tem a dizer é fundamental.
  • Ouvir sem interferir, acolher sua dor sem julgamento.
  • Estar presente em sua vida propondo atividades em grupo ou mesmo sendo uma companhia afetuosa.
  • Apontando prazeres possíveis, intensificar sua participação na vida social, são proposições e ações válidas na tentativa de tirar um potencial suicida de sua hipnose recorrente.  
  • Sempre sugerir uma visita ao psicólogo, psiquiatra ou ao médico de confiança para uma avaliação das necessidades de acompanhamento e medicação se for o caso.

PREVENÇÃO DO SUICÍDIO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

A médio e longo prazos, uma forma de prevenir o suicídio é oferecer à criança ou adolescente a possibilidade de construção de verdadeiros e profundos laços afetivos em que ele se sinta incluído, amado e aceito por ser quem é. Oferecer oportunidades que vão além do mundo virtual e dar amparo e incentivo no contato com o universo palpável e repleto de emoções e criatividade para a superação de dificuldades. É também fundamental criar um ambiente propício para o diálogo e trocas de ideias, informações e experiências. Tudo isso ajuda os responsáveis pela criança a identificar eventuais distúrbios no comportamento, sofrimentos que tenham origem em seus ambientes sociais e medos inexplicáveis que possam sinalizar a necessidade de um acompanhamento profissional.  

Para reflexão, é importante ter em mente que o suicida não vê saída para seus problemas e que para ele o futuro não traz nenhuma perspectiva de solução, ao contrário, é obscuro e devastador. Todavia ele pode mascarar esses sentimentos e não lhe dar acesso às suas intenções.

ATENÇÃO AOS SINTOMAS DO SUICÍDIO PODE SALVAR VIDAS

A atenção aos sintomas pode ser determinante para salvar a vida de um suicida: depressão, sentimentos de fracasso, culpa ou falta de esperança, mudanças de comportamento como silêncio e recolhimento, agitação excessiva, insônia frequente ou excesso de sono, ausência de hábitos de higiene, perda ou ganho de peso fora do padrão, cansaço, lentidão, olhar vago, falar sobre ideias suicidas, começar a doar objetos, se desfazer de pertences, organizar documentos, passar muitas horas recolhido, parar repentinamente de se queixar como se tudo tivesse sido resolvido, estão entre os sinais de alerta.

Ainda assim é importante salientar que em 10% dos casos de suicídio não há nenhum fator que possa levar à suspeita da ação. Nenhum indício, nenhum sintoma aparente….nada.

Suicídio deve ser tratado sem preconceitos, não deve ser um tabu. Falar sobre suicídio é falar sobre a vida.

DADOS RELEVANTES SOBRE O SUICÍDIO

  • O número de suicídios entre moradores de rua e imigrantes vem aumentando significativamente.

  • O número de suicídios entre crianças e adolescentes vem aumentando significativamente.
  • O número de suicídios decorrentes de conflitos quanto à orientação sexual e seus desdobramentos vem aumentando.
  • Um caso de suicídio pode ter um impacto imediato em seis pessoas, podendo atingir sessenta pessoas circundantes, incluindo familiares, amigos, colegas de classe e vizinhos.

APOIO PARA FAMÍLIA E AMIGOS DE SUICIDAS

Posvenção do suicídio é o luto que acomete familiares, amigos e pessoas próximas a quem se suicidou. Existem grupos de apoio aos enlutados por suicídio, visando ajudar a travessia do processo de luto. Todavia, especialmente às pessoas muito próximas, a recomendação é que se busque primeiramente um apoio terapêutico antes de ingressar aos grupos.

Sentimentos de culpa e responsabilidade pelo ocorrido são comuns, compondo a dor lancinante dos enlutados. Misturam-se a raiva e o sentimento de abandono e impotência que podem e devem ser tratados com desprendimento e coragem. É difícil tentar explicar o inexplicável.

 

 

Celia Lima

Celia Lima

Psicoterapeuta holística com abordagem junguiana há mais de 30 anos e pós graduanda em Psicologia da Saúde e Hospitalar pela PUC-PR. Utiliza os florais, entre outras ferramentas como método de apoio ao processo terapêutico, como vivências xamânicas, buscando um pilar metafísico para uma compreensão mais ampla da vida, da saúde física e emocional.

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