Vá em frente sem olhar para trás
Quando a vida lhe exigir decisões, proteja suas escolhas
Por Zoe de Camaris
Outro dia, uma consulente que refletia sobre um relacionamento que tinha ido por água a baixo me disse de forma enfática: “Eu protejo as minhas escolhas”. A frase me pegou. Já tinha pensado sobre a questão, mas nunca tinha escutado a ideia expressa assim, de forma tão pontual.
Sim, proteger as nossas escolhas. A gente demora tanto tempo para decidir entre uma coisa e outra, pesar prós e contras, encarar as oscilações da balança… Deixar de lado o caminho conhecido, confortável. Noutras vezes, a opção é mais radical: ou muda-se de vida ou muda-se de vida. Sem saída: aquilo que nos dá absoluta segurança vai dançar. Não há garantias. Respira-se fundo, levanta-se a cabeça e diz-se: “Eu vou”. Mas vai pra onde?
E aí começa o processo de pesagem. Não raro, alguém sai magoado. Os mortos e os feridos. Sem esforço não há crescimento. E existem os sacrifícios. Desapegos. Coisas que a gente não quer largar. Como ir pra frente sem olhar pra trás? Pois é. Mas não tem jeito. A decisão precisa ser tomada. E depois disso, só há o futuro. Não dá pra voltar.
Proteger as nossas escolhas. É o justo, depois da coragem de colocar todas as fichas na mesa.Tanto trabalho não pode ser jogado fora assim, com uma marcha-ré na primeira dificuldade.Há que se proteger a opção calculada, refletida, pesada na balança nem sempre equilibrada da vida. A escolha é livre! E sempre nossa. Sempre. Quem diz que não teve escolha, escolheu não escolher. Mas escolheu.
Proteger nossa opção é um ato de amor. Uma questão de respeito para consigo mesmo. É ruim olhar-se no espelho pela manhã e dar de cara com alguém que não mantém sua palavra. E saber que essa pessoa é você. É, ainda, um ato de amor para com os outros – aqueles que ficaram no passado e aqueles que fazem parte agora, do nosso presente. Por isso a importância de deter-se com atenção frente à encruzilhada e discernir com tempo e critério o novo rumo.
É claro que, vez ou outra, nos arrependemos. Normalmente isso acontece quando nos deixamos pressionar e decidimos sem tempo suficiente para um veredicto profundo. Ou quando a nossa escolha destina-se a agradar a alguém que não a nós mesmos. É difícil agradar gregos e troianos.
Toda escolha acertada exige centramento. Às vezes a gente errou mesmo. Aí então é melhor colocar o rabo entre as pernas e voltar sem muitos dramas. Opção equivocada. Essa conversa de “não me arrependo de nada que fiz na vida” é uma balela. É só uma frase repetida sem reflexão.
Na história da humanidade, sabemos, o erro pode levar a um grande achado. A penicilina, por exemplo, foi descoberta por causa de um vacilo de Fleming, uma situação imprevista. Ou seja, podemos aprender, e muito, com o erro. Basta que tenhamos abertura para mudar o ponto de vista. O lugar de onde olhamos um evento nas nossas vidas faz toda a diferença.
Nesse momento também é bom levar em conta que o conceito de certo e errado está atrelado a nossa forma de pensar, algo construído durante anos e com o respaldo da sociedade em que vivemos. Mas será que o “erro” é realmente um erro? Será que o “certo” é mesmo uma certeza?
O ideal é que possamos escolher sem pressões, calmamente, podendo dar uma “visada” no futuro e vislumbrando como ficaria nossa vida indo pelo caminho A, pelo caminho B, ou permanecendo. Pois permanecer, insisto, também é uma escolha.
Veja lá o que vai fazer na próxima bifurcação. Disso depende o seu bem-estar, a sua tranqüilidade mental no futuro.
E depois de feita a opção, proteja seu caminho, seja de flores ou de pedras. Proteja as margens. Encerre os tijolos. Regue as rosas. E segure firme nas mãos que quem vai junto.
Há 38 anos fortalecendo a arte do Tarot, Zoe é escritora, formada em Letras e com especialização em História Social da Linguagem. Presta consultoria de mitologia e análise simbólica em obras de ficção literária e cinematográfica. Leituras presenciais em Curitiba e consultas on-line podem ser agendadas pelo endereço zoedecamaris@gmail.com.
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