Hábitos de vida saudável por meio da permacultura
Consumo e produção ecológica são temas contemplados pela ideia de cultura permanente
Já parou para pensar o que as próximas gerações terão que enfrentar para transformar o modo de vida humano baseado na produção poluente e no consumo do desperdício? O que isso tem a ver com o nosso dia a dia? Acredito que pode ser possível criar um modo de vida saudável, mais inteligente e alinhado à natureza agora se começarmos a recuperar o que já foi poluído e resgatarmos as áreas já degradadas.
Passei um tempo me questionando sobre o sentido do ser humano na natureza e concluí que somos seres culturais e, por isso, criar a própria existência é parte de nossa essência. Isso se tornou mais claro quando conheci a Permacultura (ou Cultura Permanente), um conhecimento que abrange saberes tradicionais e novas tecnologias e que possibilita criar assentamentos humanos sustentáveis, ou mesmo adaptar o nosso modo de vida aos movimentos de produção e consumo ecológicos.
Tendo em vista a importância de tais saberes, fiz o esforço de destacar as relações possíveis entre o cotidiano das pessoas, principalmente na vida urbana, e as várias possibilidades e níveis de conexões humanas com a natureza.
Permacultura orienta para uma vida mais saudável
A Permacultura surgiu na Austrália na década de 1970 e hoje é um conhecimento transdisciplinar e sistêmico que orienta para uma vida mais saudável, tanto no âmbito individual – na rotina de uma casa, nos hábitos alimentares – quanto nas esferas políticas – criações coletivas, tomadas de decisões e ações que influenciam o bairro, a escola, a cidade etc.
Por meio de atitudes simples e alguns saberes, podemos colaborar com outras pessoas e com a natureza e, assim, transformar não apenas modos de vida da esfera do indivíduo, mas também no nível da transformação cultural que nos torna mais conscientes e responsáveis no que diz respeito ao uso dos recursos e às formas de relações sociais. A seguir, destaco alguns aspectos da natureza que estão presentes em nosso cotidiano aliados aos princípios da permacultura:
1 – Sustentabilidade e ancestralidade
A palavra “sustentabilidade”, hoje em dia, tem diversos significados, pois foi apropriada por várias ideologias. Portanto, é necessário imprimir nessa palavra conceitos e raízes que realmente situem a compreensão em nosso contexto histórico e cultural. No caso do Brasil, não há como falar de relação com a natureza sem falar das culturas dos povos nativos dessas terras. Eles são a referência de vida humana adaptada ao mundo natural, seus modos de vida, sobrevivência, visão de mundo, suas construções, práticas de pesca, caça, agricultura etc.
Não se trata de uma visão romântica dessas culturas, mas de indicar que muitos dos saberes da permacultura são resgates de culturas ancestrais tradicionais, traços dos povos nativos do Brasil e também dos saberes africanos. Falar de sustentabilidade hoje é também falar de algumas ideologias que vêm atropelando os saberes ancestrais de vida humana autônoma, comunitária em equilíbrio com a natureza.
Devemos honrar a luta dos povos ancestrais
Esse reconhecimento também nos leva à ideia da luta que esses povos enfrentam ao longo dos séculos. Portanto, quando nos apropriamos desses saberes devemos honrar e nos posicionar na resistência dessas culturas que baseiam suas práticas de vida, cultura e sobrevivência em seus territórios numa relação integrada com a natureza como uma grande mãe espiritual e material.
Só podemos ter certas culturas se as mantemos vivas e se honramos as raízes dos saberes dos quais nos apropriamos. As culturas sobrevivem através de nossos corpos e se expressam nos nossos fazeres cotidianos, nos nossos ritos, festejos, celebrações, histórias e mitos. Vão passando por gerações através de nossa corporeidade, oralidade, escrita, arte e dão significado às nossas ações e relações.
A Permacultura nos permite fazer uma ponte de nossa vida diária, seja na cidade ou no campo, com os saberes tradicionais dos seres humanos. Talvez apenas com essas práticas não seja possível mudar o mundo mas, sem dúvidas, a partir delas podemos resistir culturalmente, exercer os conhecimentos ancestrais, tradicionais que nos ligam à natureza e às formas naturais de cultura, de vida e sobrevivência humana “sustentável”.
2 – Perceber a estética e a ética na natureza para uma vida saudável
Há algo em comum nas formas dos rios, das raízes das plantas e das veias sanguíneas: um padrão, uma semelhança estética. Esses desenhos, além de nos inspirar artisticamente, nos falam sobre fluxos e distribuição de energia, a natureza em suas diversas formas, texturas, cores e movimentos expressa sua sabedoria universal. Para percebê-la é preciso o contato contínuo com o mundo natural e a atitude de observar.
Para esse contato não é preciso necessariamente morar na floresta, na praia ou na montanha, podemos observar a natureza a partir dos nossos corpos, observando suas formas, movimentos, sentimentos, ritmos e impulsos. Podemos perceber a natureza quando sentimos o sabor de uma fruta, o cheiro de uma flor ou de uma erva e o efeito que essas sensações nos causam. Observar a natureza e seus padrões possibilita o desenvolvimento dos nossos sentidos e esse é um passo importante para quem quer conceber um modo de vida saudável e “sustentável”.
Algumas orientações de design na permacultura são também princípios éticos: “cooperação ao invés de competição”, temos muito mais força na união do que na separação. Somos seres coletivos, portanto a nossa felicidade depende do cuidado e do respeito com tudo e com todos que nos cercam. Esse princípio nos fala de uma consciência coletiva, sem a qual fica inviável construir uma cultura mais justa ecológica e socialmente.
Nas construções e no paisagismo permacultural (paisagismo produtivo ou jardins comestíveis) esse princípio é aplicado de forma que os elementos cooperem uns com os outros, num desenho que permite interações e complementações. Perceber como os elementos se fortalecem mutuamente possibilita organizar as estruturas e as ações num todo saudável e produtivo, ou seja, projetar, construir, plantar, produzir, traduzindo uma prática alinhada com a consciência de que somos um todo orgânico e estamos todos ligados nos apoiando mutuamente.
É certo que na natureza há várias situações de competição, no entanto, isso acontece sempre num contexto maior de cooperação, onde os fluxos de energia se retroalimentam e se complementam. Os padrões estéticos da natureza, portanto, expressam desenhos das diversas possibilidades de interações entre os elementos, os reinos, substâncias, relações, sentimentos, sons, ritmos, movimentos. Devemos, portanto, a partir dessa compreensão e percepção, trabalhar para reconhecer a conexão de todas as formas de vida em perspectivas locais e globais, individuais e políticas, e o nosso papel dentro desse todo.
3 – Aplicar princípios de design ecológico é sustentável
Observar, observar, observar: esse é um dos princípios de design do planejamento permacultural. Para construir, plantar ou mesmo para cuidar do nosso corpo e da nossa saúde é preciso observar. Essa atitude é essencial para exercitar e desenvolver a percepção, a consciência e a escuta sensível. Assim é possível agir no momento certo e de forma efetiva, sem perder energia, investindo tempo e recursos onde vai prosperar e projetando os espaços aproveitando e produzindo o máximo de energia possível sem degradar o ambiente e valorizando o trabalho humano. Por isso são tão importantes a observação e o planejamento!
Para isso acontecer de acordo com os fluxos naturais, é preciso considerar conhecimentos éticos e práticos, princípios de planejamento e design e diversos saberes populares e tradicionais desenvolvidos ao longo da História humana na criação de um modo de viver alinhado com o respeito à vida e à natureza. A Permacultura sistematiza alguns desses saberes em princípios éticos de design, como:
“Diversidade proporciona estabilidade”, essa ideia pode ser aplicada em diversos contextos, quanto à riqueza e diversidade de ideias, pessoas, culturas humanas entre outros, como na característica do mundo natural de coexistir em diversas formas, tamanhos e elementos. Isso é bem claro quando vamos pensar as formas de produção de alimentos: os modelos ecológicos que se baseiam na diversidade como agricultura familiar, agroecologia, sistemas agroflorestais, permacultura, pesca artesanal, e os modelos degradadores da natureza baseados nas monoculturas: agronegócio, pecuária e pesca extensivas.
Permacultura e o Brasil
No Brasil, esse modelo degradador derruba florestas, instala imensas monoculturas, principalmente de soja e milho transgênicos, usa defensivos químicos e agrotóxicos venenosos em larga escala, para produzir ração para o gado da pecuária extensiva, típica da indústria de produção de carne, grande parte para alimentar os mercados internacionais, assim, devastam as florestas brasileiras para abrir pasto para o gado, o que desequilibra ambientalmente o planeta como um todo.
A Floresta Amazônica tem um papel fundamental no regime de chuvas planetário, Ela é responsável pelos chamados “rios voadores”, ou seja, uma grande massa de vapor de água que se deslocam cumprindo os fluxos que alimentam o sistema hídrico e o ciclo das águas doces.
Essa indústria que ameaça a integridade das florestas e dos povos tradicionais, portanto, desempenha suas atividades baseada numa lógica totalmente contra o princípio da diversidade e promove uma cadeia de produção insustentável, uma vez que não acompanha os fluxos ecológicos naturais, objetifica e artificializa a natureza num processo de dominação destruidor. O predomínio desse modo de produção causa uma grande instabilidade climática, a qual se ramifica como um conjunto de problemas ambientais que geram consequências sociais locais e globais para nós e para as futuras gerações.
Diversidade é compreender apoios entre espécies
No princípio permacultural, a diversidade consiste na compreensão sobre o apoio mútuo entre diferentes tipos de espécies, pessoas, plantas, culturas que, ao se integrarem em suas funções e necessidades criam resistência para o todo orgânico. Nesta visão, nossos plantios devem ter diversidade de espécies, assim como acontece na natureza. Para termos ideia disso é preciso observar a distribuição, os ciclos e as interações das espécies numa floresta.
Existe vasto número de estudos e sistematizações sobre os consórcios de espécies de plantas chamadas companheiras que oferecem benefícios umas às outras. Algumas ervas aromáticas, como o manjericão, serve de defensivo contra pragas e doenças e assim pode ser cultivado para proteger outros plantios. Há estudos sobre as sucessões de espécies, desde aquelas pioneiras que trabalham a fertilidade do solo até aquelas que nos fornecem alimentos em curto e longo prazo. O feijão guandu, por exemplo, é um tipo de adubação verde que serve para iniciar uma área de plantio, pois descompacta a terra e fixa nitrogênio, elemento essencial para a saúde da terra, através de suas raízes que se associam a um tipo de bactéria do solo.
Compreender esses princípios, também no âmbito das relações humanas, consiste em sabermos viver e perceber a riqueza entre as diferenças e nos sentirmos parte da diversidade cultural e natural.
4 – Identificar Zonas e Setores nos Espaços
Este ponto é uma “lente” de visão muito importante no planejamento permacultural. A percepção dos fluxos de energia parte de nós e de nossas atividades e se expande para a casa, para o quintal, para o pomar, para a rua, para a cidade e para todas as relações, como se fosse uma mandala de expansão de energia. Essas “zonas” são consideradas quando vamos organizar nosso espaço e nossas ações, quando vamos decidir o posicionamento e as conexões dos elementos, seja de uma casa, de uma cidade ou ao planejar ações políticas ou culturais.
Quando vamos conhecer e planejar um espaço é preciso atentar para os fluxos de energia, onde nasce e onde se põe o Sol, as áreas mais ensolaradas e as sombreadas, os caminhos das águas, do fogo, dos ventos, etc. Compreender quais locais são mais usados pelas pessoas, e por isso há mais fluxo de energia, e também onde não há muita presença e frequência. É preciso perceber tudo o que entra e tudo o que sai do sistema, se os ciclos estão sendo corretamente fechados ou se está havendo desperdício.
Esses são pontos básicos para que seja possível empreender o planejamento multifuncional, ou seja, todo elemento deve ser localizado de forma a servir a, pelo menos, duas funções ou mais. Toda função importante e vital, como coleta de água, proteção contra o fogo, deve ser suprida por dois ou mais elementos.
Permacultura para planejar e agir
A permacultura oferece uma sistematização simples de percepção e conhecimento dos espaços para que seja possível planejar ações, projetos e transformações de espaços e comunidades, considerando princípios de design que tomam o planejamento como previsão de problemas, é preciso planejar e criar projetos para evitar problemas futuros, de forma que seja possível produzir mais energia do que consumimos, ou seja, quando produzimos o máximo de nossas necessidades com os recursos que temos localmente, estamos fortalecendo a estabilidade e a fertilidade.
5 – Vida saudável tem a ver com agir com cuidado
O pensamento de design da permacultura é simples e se baseia em três princípios éticos básicos: cuidar da Terra (responsabilidade pela terra, as plantas, os bichos, as águas, a atmosfera e a harmonia de tudo), cuidar das pessoas (amor, cooperação, apoio mútuo, autonomia, democracia) e partilha justa dos recursos (justiça ambiental e social). Como foi dito, o planejamento projeta ações, construções, organizações considerando o fluxo de energia que produz recursos acompanhando a “lógica” da natureza.
Um dos princípios de design que traduz essa ideia é “trabalhar com a natureza, não contra ela”, ou seja, buscar compreender os fluxos naturais e sincronizar nossas ações a favor desses ciclos e movimentos, o que acaba sendo a favor de nós mesmos, pois somos natureza.
A importância do autocuidado
O autocuidado é, portanto, o ponto de partida e um exercício constante para preservar a nossa saúde e nossa atuação no mundo. Atitudes simples como cuidados com a alimentação podem ser revolucionárias. Coisas corriqueiras como beber bastante água, frutas, alimentos naturais, fazer atividades físicas, podem nos fazer pensar de forma mais crítica e inspirar atitudes que alimentam redes e coletivos que contribuem para o cuidado com as pessoas e com a Terra.
Existe uma vasta informação sobre culinária saudável, os benefícios de diversos alimentos, o malefício de outros, a forma como são produzidos alguns produtos, quais os mercados que devemos estimular e quais produtos podemos evitar para sermos mais responsáveis em relação à natureza.
Cuidar da Terra significa apoiar formas de produção sustentáveis como: a produção de alimentos orgânicos e os movimentos pela soberania alimentar, pela produção de sementes crioulas, grupos e redes de consumo responsável, agricultura sintrópica, agrofloresta, agroecologia, economia do cuidado, economia solidária, etc. É preciso que cada vez mais pessoas fortaleçam essas visões de mundo e formas de produção naturais e ecológicas, para afirmar que não precisamos de transgenia e nem de agrotóxicos para produzir alimentos saudáveis.
6 – Contribuir com a produção e o consumo responsáveis
Conversando com as pessoas, pessoalmente ou através das redes sociais, é possível descobrir feiras de produtos orgânicos ou grupos de consumidores responsáveis. As pessoas se reúnem, procuram pelos produtores orgânicos e firmam parcerias, onde o produtor monta cestas com as frutas, legumes, hortaliças, grãos e outros produtos. Esses produtos são sazonais, ou seja, as cestas são montadas com alimentos da época, variando nas estações.
Planeje seus orgânicos
Em geral, os orgânicos ainda são mais caros do que os produtos com agrotóxicos e isso pesa no orçamento. Uma opção é investir, pelos menos, nos vegetais que comemos crus, na salada e no suco, e também sempre dar prioridade ao consumo de frutas e legumes da estação.
Assim estamos ingerindo os nutrientes frescos e naturais que atuam para o bom funcionamento da saúde e na prevenção de doenças. Outra forma de reorganizar é reduzir o consumo da carne e dos laticínios, que, em excesso, fazem mal à nossa saúde, e, cuja produção industrial, é muito impactante e prejudicial à natureza.
Há uma ideia no senso comum de que precisamos comer carne todos os dias, de que viver bem é comer cada vez mais carne, porém, não é bem assim, há várias pesquisas que mostram que os alimentos de origem animal em demasia são cancerígenos, então a melhor opção é ter uma alimentação diversificada com frutas, cereais e legumes, as carnes e os lácteos também são importantes, mas não devem ser considerados principais e nem consumidos todos os dias.
7 – Cultivar a terra e produzir alimentos
Esse aspecto nos mostra o movimento entre a terra e a cozinha e como esses espaços e elementos se interconectam com a nossa cultura e modos de vida, cultivar a terra é uma relação que nos situa na natureza e conosco, desperta nossas raízes energéticas com o mundo natural.
Qualquer um pode produzir alguns alimentos, temperos e ervas, desde que haja luz direta do Sol, um vaso, que também pode ser um caixote ou embalagens (esse recipiente tem que ter furos embaixo para escorrer a água da rega), terra boa, ou seja, uma terra meio argilosa, meio arenosa, que tenha matéria orgânica (composto e húmus de minhoca), sementes sem defensivos químicos ou mudas de temperos e hortaliças.
Esses itens podem ser encontrados em lojas especializadas em produtos para jardinagem, mas atenção: certifique-se de que está comprando uma terra sem fertilizantes químicos, o mais conhecido é o NPK (nitrogênio, fósforo e potássio), esses elementos são encontrados em fontes naturais e já estão presentes na terra adubada com húmus de minhoca ou composto orgânico, o fertilizante sintético acaba por desequilibrar a terra gerando uma dependência pelo produto, por isso, não entre nessa! Vamos produzir orgânicos!
Comece a tratar a sua terra
É importante também atentar para o tamanho do vaso e o que será plantado, geralmente o tamanho da raiz é quase o mesmo da planta. Você pode plantar sementes, mudas ou mesmo aproveitar pedaços que sobram dos vegetais usados na cozinha, por exemplo: a ponta de cima da cenoura é só colocar na terra e manter a umidade que ela começa a rebrotar, assim também com a raiz da cebolinha que se readapta à terra e pode ser replantada, as sementes dos tomates, a parte de cima do nabo, o talo do manjericão, do espinafre, da bertalha, etc.
Muitas pessoas encontram enorme prazer em cultivar hortaliças e começam a pesquisar sobre o plantio, consórcio de espécies, defensivos e fertilizantes naturais, minhocários, compostagem, biodinâmica, agroecologia, agrofloresta, permacultura urbana, agricultura sintrópica, etc.
São muitas abordagens que auxiliam a desenvolver um trato ecológico com a terra, abre-se um mundo infinito para descobrir e conhecer, uma relação apaixonante com as plantas e com a natureza. Uma dica simples e fundamental é a cobertura seca: mantenha a terra da sua horta sempre coberta com folhas secas ou papel de pão picado, isso ajuda a manter a umidade da terra e também a adubação natural.
8 – Saber de onde veio e para onde vai
Tudo o que consumimos veio de algum lugar e gera resíduo. Então fazer esse questionamento é um exercício excelente para desenvolver consciência e atitude ecológicas. Assim, direcionamos a nossa curiosidade para pensar a forma como aquilo foi produzido, que tipo de indústria, se é proveniente da agricultura familiar ou se vem do agronegócio, se é orgânico ou se é produzido com agrotóxicos e defensivos químicos, se a produção é feita de maneira ética ou se utiliza trabalho escravo, etc.
Da mesma forma, é necessário procurar saber para onde vão os resíduos e assim lançar um olhar atento para cada material, encaminhar para a reciclagem os materiais recicláveis e para a compostagem os resíduos orgânicos.
Talvez você não saiba onde há um posto de coleta de materiais recicláveis ou um espaço para compostagem, mas o exercício que proponho é justamente procurar saber, manter a curiosidade e a atenção para descobrir onde possa haver na sua região uma cooperativa de catadores de materiais recicláveis ou um ponto de coleta seletiva. Essa postura curiosa abre as possibilidades de transformações de hábitos e de atitudes.
Geralmente podemos achar informações desse tipo conversando com as pessoas da vizinhança, nas associações de bairro, escolas, igrejas, etc. Pensar de forma crítica a forma de produção do que consumimos, ler os ingredientes das embalagens, procurar saber o que é cada substância, se informar sobre a atuação da indústria em relação à natureza e à saúde das pessoas, nos ajuda a compreender o mercado em que estamos envolvidos e aquilo que podemos fazer tanto individual como coletivamente para combater as formas de exploração da natureza e da sociedade. Cuidar da terra, cuidar das pessoas e partilhar os recursos é a base da ética da permacultura, é algo bem simples, mas exige o exercício constante da consciência e da curiosidade críticas.
9 – Ser responsável com os resíduos para ter uma vida saudável
Há diversas possibilidades de gestão dos resíduos domésticos, a mais conhecida são aquelas lixeiras coloridas que separam papel, vidro, plástico, metal e orgânico. Outras separam o reciclável, o não reciclável e o orgânico. Geralmente, isso depende do ambiente, do fluxo de pessoas, do tipo e quantidade de resíduos gerados.
Em nossas casas podemos simplesmente separar o lixo seco e o lixo molhado, em um recipiente as latas garrafas, plásticos, embalagens (lixo seco), em outro as cascas das frutas e vegetais, restos de comida (orgânico).
Se achar que esse resíduo orgânico está muito molhado você pode descartar nele também guardanapos, papel de pão, jornais rasgados e pequenos pedaços de papelão, pois esses materiais também são orgânicos e se integram com o material molhado, pode-se também usar duas sacolinhas para evitar que algum líquido escorra de possíveis buracos da sacola de supermercado que, geralmente, usamos para colocar o nosso lixo.
Sobre o lixo seco, é importante limpar as embalagens (não precisa lavar com sabão, só passar uma água é suficiente) antes de descartar assim você aumenta as chances que ela seja encaminhada para a reciclagem, seja por um catador de materiais recicláveis ou pela coleta seletiva, quando há na cidade.
Mesmo que você não saiba o destino do seu lixo, vale a pena cuidar da separação em casa, pois é muito provável que, depois do descarte, ele seja encontrado por alguém que o encaminhe para a reciclagem. É muito comum vermos nas grandes cidades o trabalho dos catadores de materiais recicláveis, os quais prestam um enorme serviço ao ambiente e por isso precisam ser reconhecidos e valorizados, parte disso se trata da nossa colaboração em não misturar o lixo seco e o lixo orgânico e sempre descartar os recicláveis limpos.
10 – Estar consciente com o mundo real e natural
Tudo está conectado! Quanto mais observamos o mundo mais percebemos isso. Não é preciso ir muito longe, isso é perceptível no nosso corpo, na respiração, nas nossas sensações, na energia, na forma como a alimentação influencia a saúde, as emoções, os pensamentos, etc. Nossa existência é complexa, constituída por ligações não lineares, a corporeidade interconectando diversos fatores que se influenciam mutuamente, por isso precisamos ser críticos diante daquilo que consumimos não só em termos de alimentação, mas também em termos culturais. Não podemos deixar que o excesso de mídias nos tire da vida real, das verdadeiras necessidades e relações.
Ainda que tenhamos uma série de obstáculos na vida urbana contemporânea, não podemos abandonar hábitos como o de caminhar pela rua, ocupar as praças, encontrar as pessoas, observar as árvores, os pássaros, ir à praia, à floresta, à roça, ao teatro, à praça, movimentar o próprio corpo, ter prazer consigo e com os outros, se aproximar da natureza, contemplar, investigar as suas conexões, seus padrões, movimentos e fluxos, esse contato é essencial para nos mantermos vivos em termos de níveis de consciência e vitalidade.
Quando compreendemos e sentimos a consciência coletiva, a presença no agora e no amor, olhamos o mundo de forma mais crítica e nos projetamos para contribuir como podemos para a justiça social e ambiental. Essa consciência e sentimento de comunidade (comum unidade com o todo) mostra que quanto mais seres felizes no mundo, mais podemos, cada um de nós, sermos felizes verdadeiramente.
Somos influenciados pela Lua e por todos os astros, pela nossa alimentação, por aquilo que vemos, ouvimos, falamos, pelo ambiente em geral. Assim, como a mar é influenciado pela Lua, temos nossas conexões com o vasto mundo natural. É preciso perceber, porém, que a natureza não está apenas no campo da ecologia, mas também está na economia, na cultura, na sociedade, na afetividade, por isso é preciso observar as conexões nas relações de produção e consumo, assim, nos vemos inseridos na complexa teia do mundo humano que está inserido na infinidade da natureza e do universo, diante disso podemos fazer escolhas mais conectadas com a “sustentabilidade” desse todo que está dentro e fora de nós.
Trabalha na área de Educação, com ênfase em artes, permacultura e educação ambiental, em projetos sociais e escolas.
Saiba mais sobre mim- Contato: patriciamartins360@gmail.com