Você acha que tem a mente aberta?
Real abertura acontece ao perceber como as situações agem na sua vida
Por Marcelo Guerra
Muitas vezes nos orgulhamos de ter a mente aberta. Mas cabe uma pergunta: aberta para quê? Quando entramos em contato com alguma ideia ou situação nova geralmente levamos nossas próprias ideias como reflexo, que vai checando tudo aquilo que se apresenta para nós. É como se fosse um grande quebra-cabeça, no qual vamos comparando as pecinhas (as novas ideias e situações) com a foto da tampa da caixa (nossas ideias preconcebidas).
Por um lado, aquilo que o mundo exterior nos oferece pode confirmar nossas ideias. Porém, quando elas vão em oposição ao que pensamos ou não têm qualquer relação com o que levamos pronto dentro de nós, tendemos a rejeitá-las de imediato. Podemos até ouvir, de forma educada, mas aquilo já foi rejeitado nos primeiros movimentos de não-conformidade com nossa “tampa de quebra-cabeça”.
Mas vale refletir: podemos conhecer mais do que a tampa do quebra-cabeça nos mostra? O mundo se resume à tampa do nosso quebra-cabeça? Podemos criar um novo quebra-cabeça, sem tampa, para nos orientar?
Para isso, quando estivermos diante de uma experiência nova, precisamos estar presentes na situação, com os nossos sentidos bem alertas, recebendo aquilo que o mundo externo está nos apresentando, num primeiro momento.
TER MENTE ABERTA SIGNIFICA VIVER O MOMENTO PRESENTE
Sem julgamentos, sem interpretações, sem inferências. Esta atitude receptiva e, diria mais, contemplativa, nos ajudaria a perceber outros sentidos diferentes daqueles que esperamos. Um exemplo banal é quando vamos assistir a um filme. Se eu leio a crítica ou uma entrevista com o diretor explicando os motivos pelos quais ele realizou o filme, já criarei uma determinada expectativa. Contudo, se eu vou às cegas, sem uma ‘preparação’ anterior, estarei aberto para o que o filme revelará aos meus sentidos. Terei uma experiência mais completa com ele.
Após experimentar o que o mundo externo me oferece, estando presente sem julgamentos, eu posso promover o encontro das impressões que os meus sentidos trouxeram à minha mente, com as minhas ideias – e o resultado será enriquecedor. Ter a mente aberta não significa abdicar de minhas ideias e convicções, mas estar presente nas situações novas que aparecem e só depois refletir sobre como essas situações agem sobre mim. Com essa atitude aberta, realizamos um aprendizado que vai muito além de colecionar informações, mas construímos um conhecimento a partir do mundo real.
Esta atitude aberta é ainda mais importante na forma como nos relacionamos com as outras pessoas. Numa conversa ou numa discussão, se tudo que eu ouço já entra em meus ouvidos passando pelo filtro de minhas convicções, não há espaço para que a outra pessoa se revele para mim. Menos ainda se, além das minhas convicções, este filtro está preenchido com as qualidades e os defeitos que projeto nesta outra pessoa e não consigo percebê-la como quem realmente é.
Mente aberta, portanto, não significa não ter convicções formadas, mas sim saber reconhecer o outro como um ser próprio que tem também as suas convicções, para poder receber aquilo que ele me traz para que possamos, talvez, formar um novo quebra-cabeça, com cores e formas que não estavam programadas.
Médico graduado pela UFRJ. Começou a carreira como Psicanalista e depois enveredou pela Homeopatia e Acupuntura. Ministra oficinas e palestras em todo o Brasil e atende em consultório no RJ.
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