Yoga e o equilíbrio entre ter e ser
Entenda o significado dos termos Maya e Avidya e desperte seu potencial de mudança
Por Rosine Mello
De acordo com o Yoga, nós fomos criados de “dentro para fora”, daquilo que não se pode ver nem sentir, do imanifesto, divindade, para o que pode ser visto e tocado, a materialidade, o mundo manifesto. Somos alma, dentro de um corpo físico, materialidade. Já existíamos no imanifesto antes de nascermos no mundo manifesto. Somos seres “duais”, contemos duas natureza: a imanifesta e a manifesta.
Nascemos, somos educados para conquistar objetivos, estudamos, alcançamos ideais materiais. Quanto mais temos, mais almejamos. E quanto mais almejamos, mais nos afastamos da nossa essência. Nessa fase de definição de resoluções de fim de ano, vale refletir sobre essa cultura do TER: somos pois temos. Possuímos, então somos realizados.
Como tocar o imanifesto no mundo manifesto? É possível?
O que é real e o que é irreal? Como nos mantermos na vida cotidiana e estarmos sempre em contato com a nossa essência? Por que procuramos fora o que está dentro?
É preciso ter a consciência de que vivemos em um mundo material e que temos que seguir em frente nele, com as suas exigências e padrões. Mas podemos ter em mente que não é só mundo material que nos rege, temos uma essência, aquela centelha que conforme crescemos nos afastamos dela.
Maya: sabedoria e poder extraordinário
No caminho do Yoga várias vezes escutamos a palavra Maya, mas o que é? Em sânscrito significa sabedoria, poder extraordinário; pode ser também, truque de mágica, feitiçaria; ou ainda manifestação da Deusa Maya. Também ouvimos muito a palavra Satya, que significa verdade.
Para ficar mais fácil de entender, vou dar um exemplo. Temos cinco objetos feitos de ferro: pregos, algumas ferramentas, peças de automóvel, facas e panelas. Quando você vai ao ferro velho vender qualquer coisa que seja de ferro o comerciante vai te pagar pelo objeto ou pelo peso do ferro? Ele paga pelo peso do ferro. Então os objetos que utilizam o ferro para serem feitos são Maya, ou seja, são as formas que o ferro adquiri para ser utilizado, enquanto o ferro é Satya é a verdade, o verdadeiro.
Chegamos a verdade quando levantamos o véu de Avidya. Vidya significa conhecimento, Avidya é o poder que cobre o conhecimento, não só cobre como também cria projeções.
Somos seres duais, carregamos a natureza imanifesta (alma, energia) e manifesta(corpo físico, matéria), nascemos ignorantes, a ignorância da existência. Em Avidya vamos ver o mundo através da dualidade, com várias coisas separadas de mim, às vezes nos sentimos plenos, outras nem tanto e essas sensações vem do que vivemos no mundo físico, exterior, são as vivências em família, na vida profissional, na vida amorosa e nos papéis que nos cabem durante a nossa existência.
Como os Kleshas interferem na sua vida
Avidya é o primeiro Klesha (sofrimento) de cinco, é a raiz de todos os sofrimentos.
O segundo klesha Asmita, ego, a noção do eu, o ego existe, sem ele não nos identificamos no mundo material, mas não podemos viver sobre o seu jugo. Este klesha se refere ao pensamento da existência individualizada, EU acima de tudo e de todos (egocentrismo). É a percepção individualizada que contém projeções falsas do que somos na realidade. Nos identificamos com a nossa identidade social, os atributos individuais de nossa personalidade e experiências. Acontece porque a percepção da existência do SER não é fácil.
O terceiro e quarto kleshas são Râga (atração) e Dvesha (aversão), atraímos o que nos é agradável, resultado da ignorância da nossa verdadeira natureza. Para fugir do sofrimento procuramos sempre acontecimentos agradáveis passados ou presentes. Procuramos proteção para a nossa existência, amor, segurança, reconhecimento ou riqueza e poder.
O primordial é que temos que ter e saber qual o verdadeiro valor dos objetos, dos objetivos e dos desejos nas nossas vidas
Porém, percebemos que essas sensações são passageiras e recomeçamos a procurar por novas sensações o que nos leva a um ciclo vicioso que gera ansiedade.
Podemos perceber que os objetos, objetivos e desejos que almejamos são efêmeros e que podem não estar mais em nossas vidas a qualquer momento. Com a ausência deles vem o sofrimento, pois tomamos contato com sentimentos como desgosto, raiva, pode-se ter até mesmo ódio de si mesmo.
A fuga desses sentimentos gera aversão as mesmas experiências, mas leva também a busca de novos padrões para nos afastarmos desses sentimentos negativos.
O último Klesha Abhinivesha se traduz como apego à vida, nos identificamos com nosso corpo e mente, nos apegamos a todos os padrões para que possamos satisfazê-lo, mas sabemos que a morte é certa e que ela não está sob o nosso controle, assim reforçamos ainda mais os padrões de satisfação do corpo e da mente.
A mente não é controlada, ela nos controla e nos afasta da nossa essência. A mente nos engana. Durante a nossa existência nós precisamos ter um emprego, bens materiais, amor, família, mas o primordial é que temos que ter e saber qual o verdadeiro valor dos objetos, dos objetivos e dos desejos nas nossas vidas. Para tirarmos maya de cena e trazer satya, precisamos despertar Purusha, o observador.
Imagine-se em um cinema, onde você se observa na tela, porém essa observação é sem julgamentos, críticas ou envolvimentos, é onde se coloca o ego e as manifestações da matéria de lado, onde não há identificação com os desejos, anseios, objetos e histórias.
Purusha observa e sabe de tudo, nos coloca em contato com nossa essência e tomamos conhecimento da nossa verdadeira natureza do Ser, dessa forma podemos caminhar pela cultura do Ter mantendo contato com a nossa Essência do Ser.
Uma das formas de despertar Purusha é praticar yoga e meditar, contudo, ambas exigem disciplina, perseverança e flexibilidade (não ser rígido), se os seus objetivos são autoconhecimento e acalmar as flutuações da mente mergulhe nesse caminho como resolução de fim de ano.
Formada em Educação Física, é praticante de Hatha Yoga desde 1998. Atua como professora desde 2005, certificada pelo Simplesmente Yoga.
Saiba mais sobre mim- Contato: rosine.mello@gmail.com
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