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5 coisas que você deve saber sobre a dor lombar

Repouso demais é ruim e nem sempre remédios resolvem. Saiba outras dicas

Atualizado em

Se esse ano você teve algum episódio de dor na região lombar (crise ou trava na coluna, lumbago, etc.), você faz parte de 65% da população mundial. Se ainda não sentiu desconforto neste ano, mas já teve este tipo de dor em algum momento da sua vida, está acompanhado por 85% da população. Nesse exato momento, mais de 10% das pessoas ao redor do mundo estão sentindo dor lombar.

Nesse exato momento, mais de 10% das pessoas ao redor do mundo estão sentindo dor lombar.

Trata-se de um problema extremamente comum, muito associado ao nosso estilo de vida e comportamentos, que sozinho é responsável por até um quarto das faltas ao trabalho e que, só nos EUA, consome 40 bilhões de dólares anualmente entre custos com seu tratamento e perdas de produção. Justamente por ser um problema tão comum, é cercado de mitos, achismos e confusões que acabam atrasando o tratamento e prolongando o sofrimento de muita gente.

Alguns esclarecimentos básicos são importantes para a diminuição da magnitude desse problema:

1 – Existem diferentes tipos e formas de tratamento de dor lombar

Calcula-se que entre 90% e 95% das lombalgias não recebem um diagnóstico preciso, mas isso não é um problema.

O termo lombalgia se refere a um sintoma (literalmente, dor na lombar) e não a uma doença específica. Inclui, portanto, um grupo de doenças que pode variar de um excesso de tensão muscular até doenças neurológicas graves com necessidade de intervenção cirúrgica. Calcula-se que entre 90% e 95% das lombalgias não recebem um diagnóstico preciso, mas isso não é um problema.

Primeiro porque trata-se mesmo de uma condição multifatorial, sem uma causa única precisa, que na grande maioria das vezes não apresenta gravidade. Segundo porque a ausência de um diagnóstico preciso não interfere no tratamento da lombalgia, já que existem princípios gerais que são adotados com resultado eficaz, enquanto aqueles 10% em que diagnósticos específicos são possíveis de ser realizados recebem tratamentos mais direcionados.

2 – Não apegue-se ao resultado de exames e nomes de lesões

Não raro, diante de uma crise de dor lombar, surge uma preocupação imediata em realizar exames de imagem (radiografias, ressonâncias magnéticas, tomografias computadorizadas etc.). Na grande maioria dos casos esses exames não são necessários e não mudarão em nada o tratamento, mas podem gerar preocupações desnecessárias.

Existem, claro, condições específicas que exigem exames adicionais ao exame físico, como quando há suspeita de fraturas ou compressão de nervo, ou, ainda, quando a resposta ao tratamento não acontece dentro do esperado. Mas isso deve ser pesado com cuidado pelo profissional de saúde e o paciente em conjunto. Isso porque muito frequentemente, ao realizar, por exemplo, uma ressonância da coluna, iremos, sim, encontrar alterações que podem parecer assustadoras e graves numa primeira leitura. “Discopatia degenerativa”, “abaulamento discal”, “artrose interapofisária” são alguns palavrões comuns de serem encontrados em laudos desse tipo de exame que soam como sentenças, mas na verdade estão presentes numa frequência muito alta entre pessoas que nunca sequer sentiram dor lombar. Isso significa que essas alterações e lesões encontradas podem não ser responsáveis diretas ou sequer estarem contribuindo para o quadro de dor.

3 – Repouso demais é ruim

Intuitivamente, diante de um quadro de dor lombar, adotamos um comportamento de evitar totalmente fazer esforços, optando por muito repouso e posição deitada. Hoje sabemos que o repouso total pode ser prejudicial. Salvo situações de dor muito intensa e aguda, a regra geral é que movimentos que pioram a dor devem ser evitados, enquanto movimentos que não interferem na dor devem ser estimulados. Já o repouso total, na cama, deve durar até 48h, dependendo da intensidade da dor, mas acima disso já se fala em piora do quadro.

Exercitar-se, manter-se o mais ativo possível e retomar gradualmente as atividades habituais ajuda bastante na recuperação da lombalgia. O melhor tipo de exercício é aquele que você gosta, que consegue praticar com regularidade e que tem mais chances de se comprometer em longo prazo. Pilates, Yoga, natação, caminhada, pedalada, dança, o importante é mover-se. E mover-se com confiança, sem medo. Todo tipo de exercício é seguro, se realizado com orientação adequada. É normal sentir-se dolorido após o retorno aos exercícios e isso não significa piora da lesão. A lesão não vai se agravar com a prática de exercícios, pelo contrário, eles podem inclusive prevenir a recorrência da dor.

4 – Menos remédios, mais exercícios

Quando o assunto é dor lombar, não existe solução passiva. Isso quer dizer que vai ser necessário se esforçar. Remédios, massagem, acupuntura e cirurgias, isoladamente, não são respostas milagrosas para o problema. Será preciso ser mais ativo: exercícios são essenciais, reeducação de hábitos, mudança de comportamentos também. Num quadro muito agudo e intenso, logicamente, pode ser necessário fazer uso de algumas medicações. Em casos crônicos muito arrastados também existem remédios que ajudam a controlar a dor. Cirurgias têm indicações específicas e não diretamente relacionadas com a intensidade da dor. Massagens, acupuntura e abordagens de fisioterapia mais passivas também são boas estratégias no início do quadro. Mas a prioridade, em longo prazo, é o exercício, que proporcionará a melhora do condicionamento muscular, o ganho de força, a flexibilidade e a estabilidade. Alguns estudos já mostraram que fazer exercícios, mesmo em condições com indicação de cirurgia, em longo prazo apresenta uma resposta tão boa quanto a fisioterapia ativa sozinha.

Alguns estudos já mostraram que fazer exercícios, mesmo em condições com indicação de cirurgia, em longo prazo apresenta uma resposta tão boa quanto a fisioterapia ativa sozinha.

Fazer atividade física tem muitas vantagens adicionais, já que são inúmeros os problemas de saúde que podem ser evitados ou revertidos com a prática regular de exercícios, e os efeitos colaterais não se comparam àqueles gerados pelo uso crônico de algumas medicações e ao alto risco de procedimentos cirúrgicos.

 

 

5 – Cuidado com a paranoia da postura

Não raro, um dos primeiros culpados apontado como causador de dor lombar é a “postura ruim”. Isso tem um fundo de verdade inquestionável, já que como criaturas modernas, nós, seres humanos, esquecemos como usar nossos corpos, adotamos posturas pouco naturais, muitas vezes por longas horas, nos movemos somente o estritamente necessário e, mesmo quando praticamos exercícios, o fazemos dentro de um período restrito compactado no meio de horas e horas de sedentarismo.

Por outro lado, é fácil se deixar levar pela ditadura da boa postura, o que frequentemente leva apenas à hiper vigilância, frustração e desistência. Não existe uma única postura correta universal que deve ser aplicada a todas as pessoas do mundo, em todos os momentos da vida. Nossa postura é fluida, se modifica o tempo todo, serve para comunicação e é profundamente imbuída de significados emocionais. Portanto, não deve ser engessada sob um modelo de correção único e universal. A intenção deve ser corrigir excessos, evitar posturas claramente prejudiciais, mas mantendo a possibilidade de transitar em diferentes posturas ao longo do dia, de modo flexível e ajustável.

Essas foram algumas dicas gerais que abordam um problema muito comum e bastante diverso e complexo. Obviamente, essas informações não substituem as orientações do profissional de saúde que acompanha cada caso. Cada quadro de lombar é único e merece atenção e cuidado específico. Não deixe de procurar ajuda.

Fernanda Torres

Fernanda Torres

Médica Fisiatra e Fisioterapeuta, especializada em Acupuntura e Medicina do Esporte. E-mail: fernandatorres@centrodador.com.br

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